Nos últimos dez anos Portugal tem crescido muito; a ritmo de 3,3% por ano. O vinho representa 2,4% do total de exportações nacionais, tendo alcançado os 856 milhões de euros em 2020.
Em 2020, resultado da pandemia e das medidas restritivas, a retração foi global e transversal. E o comércio mundial de vinhos não foi exceção. Em contraciclo, num ano desafiante como 2020, o vinho português cresceu 4.5%. No ano passado apenas dois países produtores de vinho conseguiram aumentar as suas exportações e um deles foi Portugal que registou 856 milhões de euros.
Nos primeiros oito meses de 2021 Portugal alcançou o valor mais alto da última década, rondando os 13%. Só em agosto de 2021, as exportações cresceram 13%; quase o dobro do valor expectável (6%). Para este ano as estimativas são muito animadoras. A Vini Portugal prevê um crescimento de 10% comparativamente aos valores de 2020. Embora o crescimento previsto para 2021 seja um pouco mais baixo comparativamente ao ano anterior, os valores são inéditos para o setor do vinho nacional.
Estes números espelham o trabalho e compromisso do setor. Em entrevista ao Jornal I, Frederico Falcão, presidente da Vini Portugal e docente do Open Executive Programme Wine – Managing the Business, salienta que “é sinal da qualidade dos nossos produtos e do bom trabalho de marketing que temos estado a fazer em termos internacionais”.
A França é o principal mercado de exportação, embora o investimento feito neste mercado seja baixo. Seguem-se os Estados Unidos, Canadá e Brasil. E é precisamente nestes mercados e no mercado chinês que têm sido feitos os investimentos mais significativos. No espetro dos mercados com um grande potencial de investimento, onde a quota dos vinhos portugueses ainda é pequena, destacam-se o México, Ucrânia e Coreia do Sul.
No mercado interno, os números apontam para o aumento do consumo dos portugueses e das vendas nas grandes superfícies, supermercados e hipermercados que, à partida, têm sido adquiridos pelos portugueses. No entanto, a quebra das vendas foi muito acentuada: os restaurantes estiveram fechados e não tivemos turismo. E os turistas representam uma grande fatia do que entendemos como mercado nacional.
O setor do vinho não tem sentido desafios significativos no que diz respeito a legislação e acesso a apoios. No contexto da promoção destacam-se os apoios europeus e o investimento do próprio setor. No contexto da pandemia, o setor teve acesso a alguns apoios europeus, ou seja, dentro do enquadramento legal foi aplicado em Portugal o que era possível.
Atualmente verifica-se uma reorganização do setor. As pequenas empresas estão a dar lugar a grandes grupos; esta tendência não reflete o abandono das vinhas nem o encerramento das adegas. Realidades que fariam soar os alarmes.
Verifica-se a escassez de mão-de-obra, em particular nas regiões do interior e em períodos mais críticos, como a vindima. A isto soma-se a falta de contentores, os custos elevados dos transportes e o aumento do preço dos combustíveis. Os números da exportação de vinho português são entusiasmantes, mas sem estes constrangimentos, os números seriam ainda mais elevados.
Para a Organização Internacional da Vinha e do Vinho, o ano de 2021 está a ser um mau ano para a Europa e no extremo oposto está Portugal. Os nossos três maiores concorrentes (Espanha, França e Itália) vão ter uma quebra acentuada nas suas produções resultante das condições climatéricas.
Num ano em que haverá menos produção na Europa espera-se um aumento da produção ligeiramente superior a 1% para Portugal, evitando a descida do preço médio do vinho.
Concorrentes emergentes e novos mercados
Portugal é o segundo país produtor de vinho mais vendido no mercado brasileiro. O primeiro lugar é ocupado pelo Chile e o terceiro pela Argentina. Mas em 2021 a Argentina está a crescer muito e é possível que Portugal termine o ano em terceiro lugar. Uma elevada produção de vinho e a escassez de outros mercados conduzem à baixa de preços e a uma entrada mais agressiva nos mercados.
Mercados, como os Estados Unidos, Canadá e países do Norte da Europa procuram novos sabores, aromas e experiências que se distanciem do Cabernet Sauvignon e Chardonnay. E neste contexto os vinhos portugueses conquistam pela sua diversidade que tem contribuído para o crescimento do setor.
Metas para um futuro próximo
Para o final de 2023 o objetivo definido é alcançar os mil milhões de euros. E as previsões de crescimento indicam que este marco será atingido antes do esperado, ou seja, durante o ano de 2023. Alcançar mais reconhecimento internacional é um outro objetivo do setor. Além de vender mais, vender melhor, aumentar o preço médio e promover um setor mais sustentável economicamente. O setor do vinho português já conquistou os líderes de opinião, mas é vital conquistar o consumidor anónimo, para que Portugal seja considerado um país de excelente qualidade vinícola.
Pode aceder à entrevista realizada pelo Jornal I a Frederico Falcão, presidente da Vini Portugal e docente do Open Executive Programme Wine – Managing the Business, aqui.
Com a missão de promover os vinhos portugueses e a marca Portugal, a Vini Portugal é uma associação interprofissional do vinho que nasceu há 25 anos do compromisso e esforço do setor. Tem contribuído para o crescimento das exportações e para o reconhecimento dos vinhos nacionais além-fronteiras, atuando em 21 mercados (Portugal incluído) e quatro continentes.