Três vezes eleito como melhor destino europeu do ano, a cidade do Porto tem crescido no setor do turismo, com vários negócios direcionados para receber quem a visita, do alojamento à restauração e a outros serviços de bens e consumo. Que negócios há ainda por explorar, neste setor? E como é que as verbas arrecadadas pela taxa turística que poderá ser aplicada já em 2018 poderão potenciar o desenvolvimento da cidade?
O setor do turismo tem um enorme potencial global (corresponde a cerca de 10% da atividade económica mundial) e, como reconhecimento da importância desta atividade como fator de desenvolvimento da economia, 2017 foi proclamado como o Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Os números mostram o aumento exponencial da atividade turística em todo o mundo. Segundo dados da Organização Mundial de Turismo (OMT), em 2016 registou-se um crescimento de 3,9%, num total de 1 235,2 milhões de chegadas de turistas em todo o mundo, dos quais, cerca de metade rumou à Europa.
Portugal não é exceção e, à boleia do turismo, a economia tem ganho um novo fôlego com a crescente procura de estrangeiros pelo nosso país, atraídos pelo bom tempo, pela boa gastronomia e pelos preços convidativos. Portugal está entre os países com maior saldo da balança turística da União Europeia – um aumento de 12,7% em 2016, correspondente a 8,8 mil milhões de euros, um valor muito próximo do da Áustria, revelam dados provisórios do EUROSTAT.
Dormidas no Porto aumentam 11%
A região norte e, mais concretamente a cidade do Porto, tem certamente contribuído para colocar Portugal na rota do turismo mundial. Os vários prémios atribuídos como melhor destino europeu alavancaram a economia local, refletindo-se no setor imobiliário através da recuperação dos imóveis para alojamento turístico e na criação de vários negócios nas áreas da restauração e de serviços diferenciados para turistas.
O Porto é um destino que está na moda, mas será a médio longo prazo sustentável? Na opinião de Pedro Quelhas Brito, diretor do programa de pós-graduação em Gestão do Turismo e Hotelaria da Porto Business School, a sustentabilidade do setor poderá passar por limitar o número de turistas, quer por razões ambientais, quer pelo bem-estar dos residentes, garantindo uma maior tranquilidade e tentando “arrefecer” os preços do imobiliário que afasta as populações dos locais mais atrativos, aponta.
O lado bom do turismo é a recuperação de imóveis devolutos ou inabitados, continua o professor da Porto Business School, sublinhando que o turismo não é a única causa da valorização no setor imobiliário. “Os novos residentes estrangeiros e o aumento da expetativa de rendibilidade favorece o investimento nesse ativo, pelos portugueses. A construção civil estagnou e, caso a procura esgote o stock, novas edificações poderão surgir. As autoridades devem, por isso, ter padrões de qualidade arquitetónica para não descaracterizar a cidade. Além disso, muitas autarquias dispõe de património habitacional que podem usar para fins sociais”, remata.
Pedro Quelhas Brito defende também que uma das soluções para regular a procura passa pelo aumento dos preços da hotelaria. “Não é boa ideia recebermos visitantes com o argumento de sermos baratos”, argumenta.
Dados provisórios divulgados no início deste ano pelo Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP) indicavam que o ano de 2016 registou um crescimento de dormidas na ordem dos 10,70% em relação a 2015, com um total de 68 milhões de dormidas, valores próximos dos objetivos traçados para 2020.
Para o diretor da Pós-Graduação em Gestão do Turismo e Hotelaria da Porto Business School, o Porto está muito longe de verificar uma intensidade de turismo que coloque em causa sustentabilidade da cidade e, por isso, “podemos e devemos acomodar mais turistas”, sustenta, recomendando que é essencial investir noutros polos de atração da cidade fora dos eixos turísticos (Aliados, Baixa, Ribeira, Caves do Vinho do Porto) e atrair mais turistas na época baixa, entre novembro e março.
De acordo com o estudo "Estabelecimentos Hoteleiros” divulgado, recentemente, pela Informa D&B, em termos globais, em 2016, a faturação agregada do turismo subiu 17%, num total de 3.075 milhões de euros. O mesmo estudo regista um aumento das dormidas em todo o território nacional, com o maior crescimento a verificar-se na população estrangeira (+ 11,4%), destacando-se os britânicos como os clientes mais relevantes para a economia nacional, representando 17,3% das dormidas totais.
Segundo a mesma publicação, na última década, o número de hotéis em Portugal (em 2015 eram cerca de 4.300), assim como a capacidade hoteleira. O número total de camas aumentou cerca de 40% (362 mil no ano de 2015), com maior oferta no Algarve, com um terço do total das camas, seguido de Lisboa, com cerca de 20%.
Ofertas personalizadas para turistas
Tours a pé, de bicicleta, de autocarro ou de barco, provas de vinho, workshops de cozinha, visitas guiadas ou visitas culturais. São cada vez mais as ofertas para os turistas que rumam ao Porto, tanto nas experiências como nos serviços de restauração e de alojamento, com uma oferta diversificada desde os hostels, ao Airbnb ou hotéis de luxo. Que negócios ainda podem vingar na área do turismo?
Pedro Quelhas Brito não tem dúvidas que é preciso apostar na diversificação de oferta de experiências para que os turistas voltem e afirma que esse papel não cabe só às empresas. “As autarquias devem investir em arte urbana, transfigurar os espaços, melhorar a sinalética, dar um apoio mais efetivo aos turistas através de informação digital, por exemplo, ou através da criação de infraestruturas que facilitem o convívio e o comércio – o Mercado do Bolhão poderá ser um uma boa oportunidade”, afirma.
Um pouco por todo o país têm surgido novos negócios ligados ao setor do turismo. É o caso de algumas das melhores ideias nesta área estão a ser desenvolvidas e testadas no programa Tourism Explorers, o maior programa nacional de criação e aceleração de start-ups na área do turismo, cuja edição no Porto é realizada em parceria com a Porto Business School.
Pedro Quelhas Brito acredita que, depois da massificação da oferta de alojamento, é preciso apostar na “sofisticação”, mas isso não significa chegar a apenas ao segmento do luxo – super personalizado. Passa também por propor soluções cada vez mais imaginativas em termos de conceito, oferecendo um serviço mais flexível/diferenciado e com design/decoração/arquitetura/layout mais imaginativos, afirma.
Taxa turística poderá entrar em vigor no próximo ano
No próximo ano, e à semelhança do que acontece noutras cidades, o Porto poderá ter uma taxa turística. É pelo menos essa a intenção do Executivo, que aprovou recentemente esta medida. A confirmar-se o valor, a introdução de uma taxa de dois euros por dormida para turistas que visitam o Porto pode representar um encaixe de 13 milhões de euros, tendo em conta os 6,5 milhões de dormidas anuais no Porto. Pedro Quelhas Brito aplaude esta medida, sublinhado que “é importante que esses recursos extra sejam adequadamente aproveitados no contributo do próprio turismo”.
A autarquia do Porto pretende usar as verbas arrecadadas com a taxa turística para “diminuir a pegada turística”, através da compra de património a disponibilizar para arrendamento aos munícipes (incluindo habitação social e também oferta para a classe média, estando previstas rendas controladas), para fortalecer a recolha de resíduos sólidos, construir parques de estacionamento e locais de estacionamento para os autocarros turísticos.
Turismo no Porto – Uma viagem que está apenas no início
De acordo com o estudo “European Cities Hotel Forecast 2017-2018”, da consultora PricewaterhouseCoopers (PwC), o Porto será a cidade europeia que mais vai crescer em receitas turísticas este ano e em 2018. De acordo com as previsões, a cidade deverá registar uma subida de 15% do rendimento médio por quarto disponível (RevPAR) este ano e, no próximo, a subida deverá situar-se nos dois dígitos (12,8%). Na liderança do ranking estão as cidades de Dublin (maior taxa de ocupação efetiva nos anos de 2017 e 2018) e Genebra, a liderar em preço médio (ADR) e em RevPAR.