A pandemia de Covid-19 gerou um surto sanitário e uma crise económica sem precedentes à escala mundial. Em Portugal, o Turismo é, de longe, uma das atividades mais afetadas. Com um peso de 11,3% no PIB português, o impacto da queda no setor turístico no crescimento português será significativo. Segundo as mais recentes estatísticas publicados pelo INE, uma redução de 25% na atividade turística, quer do turismo de visitantes não residentes quer do turismo interno, devido à covid-19, levará à redução de 2,9% do PIB anual em Portugal.
Com os portugueses até há muito pouco tempo confinados em casa, e sem os habituais turistas internacionais devido ao lockdown dos transportes aéreos, a atividade turística viu interrompida a cadeia de abastecimento fazendo do ano 2020 um dos mais difíceis de que há memória. No entanto, à semelhança da estratégia de saúde pública seguida pelo país e que fez com que Portugal fosse apontado como um caso de referência, na prevenção e combate à COVID-19, também a estratégia seguida no Turismo tem sido apontada como pioneira e modelo a seguir, um pouco por todo o mundo.
No início deste ano, os números de janeiro e fevereiro (com subidas de 12% e 14% em relação aos mesmos meses de 2019) indicavam que o país iria ter “mais um ano absolutamente extraordinário” segundo a secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, a convidada do mais recente Beyond Now Webinar. No entanto, após o lockdown, sabemos que esse não é o caso, e que há cerca de 400 mil trabalhadores dependentes deste setor que se encontram numa situação muito delicada.
Com o turismo europeu estagnado devido às medidas restritivas adotadas pelos Estados-membros da UE para tentar conter a propagação da pandemia (incluindo limitações nas viagens entre países), este é um dos setores mais afetados pela covid-19, sendo também um dos que mais pesa no Produto Interno Bruto (PIB) da União (cerca de 10%) e no emprego (12%).
Confiança. Esperança. Reinvenção.
Mas se a resposta de saúde pública à pandemia da Covid-19 colocou Portugal no topo da confiança a nível internacional, a estratégia seguida para o Turismo tem também marcado, pelo pioneirismo. Na Europa, Portugal é olhado como um exemplo a seguir e a Secretária de Estado do Turismo afirma que “Os nossos ativos – paisagens, pessoas hospitaleiras – não foram afetados. Portugal foi eleito o melhor destino do mundo por três vezes consecutivas e tudo o que nos distinguiu no passado recente continua cá. Não há Covid que contamine esses ativos”.
De forma a minimizar o impacto da redução temporária dos níveis de procura na atividade turística, o Turismo de Portugal gizou uma estratégia assente em três mensagens-chave: confiança, esperança e reivenção.
Confiança
Iniciativas como a criação, pelo Turismo de Portugal, do selo “Clean & Safe” a empreendimentos turísticos, empresas de animação turística e agências de viagem, distinguindo as atividades turísticas que asseguram o cumprimento de requisitos de higiene e limpeza para prevenção e controlo da covid-19 e de outras eventuais infeções, criando um vínculo de confiança este o turista e o prestador de serviços.
Com validade de um ano, este selo é opcional, gratuito e pode ser pedido online, estando também disponível desde o dia 14 de maio para o Alojamento Local e estabelecimentos de Restauração e Bebidas. “Até ao momento temos mais de 3 mil empresas com o selo” refere a Secretária de Estado do Turismo.
Assente nesta mensagem de confiança, a aposta está também a ser feita em campanhas massivas de promoção, afirmou Rita Marques.
Esperança
Portugal foi também pioneiro quando avançou com a campanha de awareness para o tema do distanciamento social transformando a assinatura "Can't Skip Portugal" em “Can’t Skip Hope”.
“Este é o tempo de parar, de recentrar e de unir esforços para podermos seguir em frente” dizia o vídeo que deu mote à campanha e que foi criado com todas as equipas a trabalhar a partir de casa e utilizando imagens capturadas noutra altura.
Iniciativas como #ReadPortugal [#LerPortugal], lançada recentemente, enquadram-se também nesta estratégia de comunicação, com o Turismo de Portugal a convidar os portugueses e o público internacional a inspirarem-se nos livros para viajarem pelo nosso país e a percorrer cidades, aldeias, mares, rios e montanhas de Portugal através das histórias e das palavras de escritores e poetas.
#LerPortugal é a mensagem, um estímulo para conhecer mais sobre Portugal e a sua literatura, num tempo em que não se pode viajar fisicamente pelo país. Assim, Portugal continua a estar presente junto das pessoas que estão em casa, oferecendo motivos de sonho e de esperança. Por ora o convite é para ficar em casa, ler e procurar inspiração nos livros para mais tarde conhecer ou reencontrar as paisagens literárias e os locais eleitos pelos autores, mas a campanha deverá crescer até ao final deste ano, prevendo-se ainda o envolvimento e colaboração dos diferentes públicos, num movimento único em volta da literatura, da poesia e das viagens.
Reinvenção
Portugal está com a cotação em alta, no exterior pela forma como lida com a pandemia, mas o momento exige que todos os intervenientes continuem a trabalhar em conjunto, e que se fuja à tentação de seguir os caminhos mais simples, como o de baixar os preços.
A crise vai ser dura, e a nossa responsabilidade nesta fase de transição é assegurar que Portugal mantenha a atratividade.
Rita Marques defende que este ano e os próximos serão “os anos dos territórios de baixa densidade“, comentando que “as pessoas vão procurar destinos ligados à natureza, ao ar livre, e viajar em pequenos grupos”, afirmando que quando Portugal abrir as fronteiras, “as infraestruturas estão preparadas, a confiança está cá (…) assim que tivermos luz verde começaremos a arregaçar as mangas e a receber todos aqueles que nos queiram visitar”.