A crise financeira e a instabilidade dos mercados trouxeram muitos desafios aos gestores das empresas aos quais é exigida, cada vez mais, uma gestão mais rigorosa e sustentável. Jorge Farinha, docente da Porto Business School (PBS) e diretor do programa Finanças para Gestores, fala da importância de dominar a linguagem e de treinar o mindset financeiro.
Gerir uma empresa nunca foi tarefa fácil e esta tarefa torna-se ainda mais exigente em períodos de instabilidade dos mercados financeiros. Nos dias de hoje, a gestão é cada vez mais difícil porque, por um lado, “exige rapidez, mas por outro lado exige calma suficiente antes de atuar com rapidez”, sustenta Jorge Farinha, docente da Porto Business School e coordenador do programa Finanças para Gestores, um programa destinado a gestores sem formação prévia em matérias financeiras ou contabilísticas, mas que necessitam de conhecer a linguagem e a realidade da área financeira, gerir unidades de negócio com monitorização e definição de objetivos de desempenho económico-financeiro, gerir empresas ou participar em negociações com bancos e investidores.
Para que os gestores sejam capazes dar resposta de forma rápida e eficaz é crucial que consigam antecipar os riscos, perceber como podem controlá-los e, desta forma, definir as estratégias de financiamento mais adequadas aos riscos em questão, sejam riscos cambiais, de taxas de juro ou operacionais.
“Os gestores devem ter uma perspetiva ampla sobre gerir risco e sobre os instrumentos que existem para gerir esse risco. Todas as empresas têm de exportar, têm a hipótese de, hoje em dia, se financiarem em euros ou em moeda estrangeira,… as taxas de juro são diferentes e a falta de conhecimento "financeiro" pode dificultar a decisão - se com base na taxa de juro ou com base nos riscos cambiais associados à taxa de juro. O programa de Finanças para Gestores aborda este (entre outros temas) e mostra que há várias maneiras de encarar isto e de equacionar os problemas, sempre de forma rigorosa”, explica o professor.
Por isso é tão importante “pensar como um financeiro”, continua Jorge Farinha. Pensar como um financeiro significa antecipar os riscos e definir estratégias claras de financiamento e essas competências também se treinam com vista a uma gestão mais rigorosa, que se traduz em resultados mais favoráveis para as organizações.
"Os gestores têm de perceber que os recursos são escassos, têm de comparar formas de financiamento, perceber quais são os fatores cruciais na escolha de um financiamento, tendo em conta o contexto da sua empresa e o desempenho da organização. O conhecimento na área financeira, é importante também para a própria negociação com a banca, porque os gestores devem antecipar como é que os bancos encaram o nosso desempenho financeiro, antes mesmo de iniciarem a negociação dos empréstimos" analisa o professor da Porto Business School.
Gerir em tempo de crise
A crise financeira e a instabilidade dos mercados exigiram mais atenção à dimensão de sustentabilidade das organizações. Jorge Farinha alerta para a questão do recurso ao endividamento, que deve ser encarado de forma mais sustentável, e a longo prazo. “Antes da crise financeira de 2008 havia uma certa ideia de que as taxas de juro estavam baratas e as empresas endividavam-se o mais possível. Hoje em dia não se pensa assim. Não podemos ter endividamento o tempo todo porque, de um momento para o outro, a conjuntura económica muda e a própria banca deixa de ser sustentável”, refere o diretor do programa.
Perante uma conjuntura que parece estar a ser mais favorável e de retoma dos mercados, o desafio dos gestores das organizações passa por prepararem-se da melhor forma para a instabilidade da conjuntura económica. “Os ciclos sucedem-se e as decisões têm de tomar em atenção que há esses ciclos, as decisões financeiras têm necessariamente implicações a longo prazo, porque os investimentos que nos ajudam a adaptar a um ciclo, que está sempre em permanente evolução e que tem períodos bons e períodos maus, são investimentos que nos interessam, mais do que um investimento pensado para uma conjuntura muito otimista”, analisa Jorge Farinha.
“Uma má decisão financeira de grande impacto pode liquidar uma empresa que já vai na segunda ou terceira geração”
O diretor do programa Finanças para Gestores, que arrancou agora com uma nova edição, explica porque é que as questões do risco e do investimento são tão importantes para gestores de diferentes áreas de formação, sem competências nas áreas financeiras ou contabilísticas, ajudando-os assim a monitorizar e definir os objetivos do desempenho económico-financeiro da empresa ou participar em negociações com bancos e investidores.
“Muitos gestores são promovidos ou nomeados para posições de chefia sem nunca terem tido, de facto, experiência na área financeira e, de um momento para o outro, passam a ter necessidades que nunca sentiram - de analisar balanços, de negociar com bancos, ter uma perspetiva sobre rentabilidade e controlo de gestão, perceber os indicadores financeiros, ou supervisionar projetos de investimento grandes”, adianta Jorge Farinha.
O Programa Finanças para Gestores tem um historial de quase duas décadas de existência e tem sido adaptado ao longo dos anos às exigências dos gestores e às necessidades do mercado. “Os nossos docentes são pessoas que já viveram os problemas de implementação, e que conseguem transmitir a maneira de pensar de um financeiro, isso é fundamental para um gestor que, de um momento para o outro, precise de ter interações com diretores financeiros, com questões financeiras, e pensar de maneira criativa em formas de financiamento”, sublinha.
"O que nos dá maior satisfação (enquanto escola) é fazer parte de grandes decisões que potencialmente podem ter um grande impacto numa empresa", continua Jorge Farinha. Os participantes trazem para as aulas problemas reais, que são analisados e discutidos por todos, e onde o professor assume o papel de mentor, que, muitas vezes, se estende para além das aulas. “Grande parte das aulas serve como consultoria para problemas que os participantes têm, em contexto empresarial e, às vezes, mesmo depois do programa há um acompanhamento de alguns desses casos.”, afirma.
E são vários os exemplos que chegam do contexto empresarial para a sala de aula para serem resolvidos. “Na aquisição de uma empresa, oferecem um determinado valor e, na análise que fazemos chegamos à conclusão que esse preço é absolutamente elevado, ou seja, se pagarmos esse preço corremos sérios riscos de ficarmos sobre endividados, e de trazer problemas financeiros à empresa. Chegamos à conclusão que é melhor renegociar e nalguns destes casos, conseguimos que o preço baixe 30 ou 40%, após essa análise”, exemplifica o docente da PBS.
O investimento nesta formação é “muito pequeno em relação aos benefícios que esta pode ter, mais tarde”, sustenta Jorge Farinha, até porque “uma má decisão financeira de grande impacto pode liquidar uma empresa que já vai na segunda ou terceira geração, portanto, as questões financeiras são muito mais importantes do que muita gente pensa”.