“Todo o ecossistema do país está muito alicerçado no paper by default e não no digital by default”
Portugal tem apostado no digital, sobretudo no setor da Administração Pública, mas ainda tem um longo caminho a percorrer para que os cidadãos tirem partido da tecnologia, até porque cerca de 1/3 da população portuguesa nunca acedeu à Internet. O país tem boas infraestruturas, mas falta uma maior sensibilização da população e das instituições rumo a uma era mais digital. Algumas conclusões da conferência promovida pelo MUDA – Movimento pela Utilização Digital Ativa - que decorreu na Porto Business School.
A quarta revolução industrial acarreta uma disrupção tecnológica para a qual as empresas, organizações públicas e privadas e o Estado têm de se adaptar. Quais são os desafios da construção de uma sociedade e economia "Digital by Default" em Portugal e o seu impacto no Estado, nas empresas e nos consumidores? Como é que o país está preparado para dar resposta à era digital?
Oradores de diferentes setores de atividade debateram os desafios e o futuro desta área na conferência “Digital By Default” promovida pelo MUDA – Movimento pela Utilização Digital Ativa, que decorreu no dia 21 de novembro, na Porto Business School.
Na abertura do evento, Ramon O'Callaghan, Dean da Porto Business School, frisou o compromisso da PBS assumido com o MUDA de contribuir para dar resposta à revolução digital. “A transformação digital não é só na tecnologia, é na mentalidade e na capacidade de mudança. O digital como forma de melhorar o modelo de negócio, a inovação e tornar as organizações e os países mais competitivos”, afirmou, referindo a 33ª posição que Portugal ocupa entre 63 países que constam do ranking de Competitividade Digital 2017 do IMD.
“Hoje, todo o ecossistema do país ainda está muito alicerçado no paper by default e não no digital by default e, por isso, nós aqui não estamos a preconizar um mundo em que é o ‘digital only’, estamos a dizer que é digital by default. Quem quiser continuar a usar o papel deverá poder fazer isso mas, por defeito, devia ser digital e deve haver uma aposta nisso”, alertou Alexandre Nilo Fonseca, Diretor Executivo do MUDA.
Na opinião do responsável do MUDA “já se faz muita coisa, mas talvez não se faça da maneira articulada” e é nesse sentido que o movimento trabalha em articulação com 30 entidades de referência em Portugal desde o setor da banca, aos seguros, passando pelas empresas de telecomunicações, tecnológicas ou de saúde, para que o Estado, as empresas e os cidadãos sejam mais digitais.
Para contrariar as estatísticas que colocam Portugal abaixo da média Europeia no uso do digital – cerca de 1/3 da população portuguesa nunca usou a internet e só 28% tem competências avançadas – o MUDA tem em curso um conjunto de iniciativas para chegar a mais portugueses, através dos cinco mil pontos de contacto instalados na rede de parceiros para promover a informação sobre o digital, do roadshow por 11 cidades de todo o país e do programa de voluntariado que vai ter os jovens como embaixadores para uma mudança de hábitos mais digitais e sustentáveis.
“Nós achamos que os jovens podem ser catalisadores desta mudança e, em certa medida, são atores desta transformação. Eles, mais do que ninguém estão capacitados para o fazer”, continua o responsável do MUDA.
Com estas iniciativas, o MUDA tem a ambição de, até 2020, reduzir de 26% para 15% a percentagem de pessoas que nunca usaram a Internet e de aumentar de 28% para 50% os que fazem uma utilização sofisticada da Internet.