"O Porto é, atualmente, um destino low cost. Mas tem de ser mais que isso. Temos de apostar em outros segmentos, como o de luxo - que está em falta - o cultural e da saúde. O Porto tem muito para oferecer. O Porto não pode ser moda. Tem de ser sempre moda", defende Nuno Camilo, presidente da Associação de Comerciantes do Porto e vice-presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal.
Em 2016 houve um crescimento nas dormidas de 12,31% na cidade do Porto e Região Norte, o que significa que se atingiram as quase 6,9 milhões de dormidas. Foram mais 754,70 mil dormidas relativamente a 2015. Até 2020 prevêem-se valores próximos dos 7 milhões de dormidas.
Nos Proveitos, o Porto e a Região Norte alcançaram em - 2016 - resultados excecionais, com um crescimento de quase 22% nos proveitos totais, e acima dos 23% nos proveitos de aposento, com mais 64,60 milhões de euros nos proveitos totais, em relação a 2015.
Em conversa com Nuno Camilo, presidente da Associação de Comerciantes do Porto e vice-presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, ficamos a conhecer quais os motivos para se alcançar estes valores, como surgiu esta mudança na cidade e quais as estratégias a seguir, na sua opinião, para que o crescimento se mantenha equilibrado.
Como é que olha, atualmente, para a cidade do Porto?
[NC] O Porto hoje é uma cidade diferente, do ponto de vista estratégico, perante o que era há 20 anos atrás. Hoje temos o turismo como uma grande alavanca. É oxigénio para a cidade e para toda a região. E ajudou a criar oportunidades a muitas pessoas que, durante a crise económica, tinham perdido o seu emprego e viram o turismo como uma saída.
Como se deu esta mudança?
[NC] A grande mudança acontece essencialmente com a chegada da Ryanair ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro. Foi o click. O Porto antes disso já tinha muito a oferecer. Tinha o rio Douro, o Vinho do Porto, o Futebol Clube do Porto, a arquitetura, a gastronomia e uma oferta diversificada de vários produtos. Mas esse momento foi verdadeiramente o que impulsou a cidade a tornar-se naquilo que hoje vemos.
Uma mudança positiva, na sua opinião?
[NC] Ter oportunidades implica, sempre, riscos e fatores positivos. A criação de trabalho, a maximização daquilo que a cidade não tinha - a criação de hostels,do alojamento local, novos negócios, mais transportes, entre muitas outras coisas, ou seja, criação de emprego - são claramente fatores positivos.
Não termos uma estratégia definida para o que é a cidade no que respeita ao turismo, é um risco. Hoje olhamos para o Porto muito circunscrito ao centro e ele é mais do que isso. [...] devemos acelerar o processo de mudança, para cativar pessoas a residir e trabalhar por toda a cidade. E não só no turismo. Temos de cativar mais projetos paro o Porto.
E por onde passa essa estratégia?
[NC] Temos de criar uma estratégia focada em dois segmentos de turismo. Um é o da saúde, eventos e desporto. A saúde, por exemplo. Nós temos grupo de hospitais privados de qualidade que podiam ter uma taxa de ocupação maior, onde podíamos convidar pessoas da Suécia, Inglaterra, França ou Alemanha – que têm seguros de saúde com custos muito elevados – a fazerem os seus exames aqui. Um pouco como já se faz em Lisboa. Tudo protocolado [claro] entre as suas seguradoras, as agências de viagens e as empresas que fazem o tratamento médico. Isto possibilitaria criar sinergias que nos permitiriam trazer um turista não low cost para o Porto e com capacidade financeira e vontade de experienciar coisas diferentes, como andar de helicóptero. E isto é um turismo mais de valor acrescentado em termos de receita.
O outro segmento é o do luxo. Este surge de certa forma na sequência do outro segmento. O Porto hoje tem uma oferta de turismo de luxo muito reduzida. É preciso redimensionar esta oferta. Se o Porto tiver dois eventos de grande dimensão a decorrerem ao mesmo tempo, não tem hotéis de cinco estrelas suficientes. [...] Temos de dar o salto no segmento de luxo e isto tem de partir de todas as entidades envolvidas.[...]