As “melhores práticas” da gestão não viajam bem entre fronteiras. Isso porque as condições de desenvolvimento económico, de maturidade institucional, as normas educativas, a linguagem e a cultura variam muito de lugar para lugar.
As mudanças dramáticas nos meios de transporte, na tecnologia e no comércio alteraram a forma como as pessoas comunicam e se relacionam entre si por todo o mundo. O aumento da rapidez dos transportes aumentou a nossa mobilidade. Transportes mais baratos e mais acessíveis reduziram a barreira da distância e construíram pontes entre culturas. Ao mesmo tempo, alterações fundamentais na tecnologia são uma força de desenvolvimento da globalização.
Estes factos, aos quais se junta o sucesso de muitas marcas globais, têm sustentado a ideia de vivermos numa “aldeia global”.
Será que, por isso, estamos todos cada vez mais iguais, seja no estilo de vida, no modo de pensar ou nos padrões de consumo? Será que as empresas podem actuar e comunicar da mesma forma em todas as culturas?
É seguro que não. Na realidade, as pressões para a convergência ou integração podem criar uma pressão igual, se não maior, para a divergência e a fragmentação, algo que nos leva a desafiar dois mitos: o primeiro é que, uma vez que o mundo está a tornar-se mais pequeno, as diferenças culturais estão a desaparecer; o segundo é que “gestão é gestão” e que, como ciência, é praticamente universal.
Aliás, a tentativa de aplicar práticas de gestão de maneira uniforme em todas as geografias é uma missão “de tolos”, mesmo que gostássemos de pensar o contrário.
As “melhores práticas” da gestão não viajam bem entre fronteiras. Isso porque as condições de desenvolvimento económico, de maturidade institucional, as normas educativas, a linguagem e a cultura variam muito de lugar para lugar. Os teóricos da gestão pensaram um dia que os seus conhecimentos técnicos estavam suficientemente desenvolvidos e que os processos precisavam apenas ser ajustados para se adequarem às condições locais noutros países. Mas estes conhecimentos têm que, mais frequentemente do que pensavam, ser radicalmente reformulados. Não porque a tecnologia esteja errada, mas porque tudo à sua volta altera a forma como ela pode funcionar. Dito de outra forma, não há nada de errado com as ferramentas que temos à nossa disposição, mas a sua aplicação exige adaptação ao contexto e à cultura.
Acontece que definir cultura é difícil e polémico. Igualmente questionável é a tentativa de categorizar de alguma forma as diferentes culturas do mundo: mais individualistas ou mais colectivistas; mais ou menos avessas ao risco; com maior hierarquia ou com menor distância ao poder; de alto ou de baixo contexto; entre outras.
Mas todo o processo ajuda-nos a perceber que somos diferentes e que, estando perto, continuamos longe. Ajuda-nos não só a procurar as diferenças, como a saber onde as procurar. E, se as descobrirmos, se estivermos atentos e se nos soubermos adaptar vamos entender melhor a nossa própria cultura, vamos entender melhor as nossas expectativas sobre como o outro deveria pensar e agir e, portanto, vamos comunicar de forma mais eficaz, fazer melhores negócios e obter melhores resultados.
Pedro A. Vieira
Professor Convidado da Porto Business School