Portugal ainda tem uma dimensão reduzida no universo das start-ups, no entanto estas empresas têm desempenhado um papel relevante no setor económico e foram responsáveis pela criação de 46% do novo emprego. Que desafios enfrentam as start-ups portuguesas? Algumas das empresas portuguesas estão nas bocas do mundo pelas melhores razões.
As start-ups estão a contribuir para a criação de emprego e para a renovação do tecido económico, mas o perfil das empresas está a mudar. São cada vez mais as iniciativas individuais, de menor dimensão e com um perfil mais exportador - os mercados externos representam mais de metade da sua faturação. Estas são algumas conclusões do estudo “O Empreendedorismo em Portugal” que analisou a evolução das novas empresas em Portugal na última década, no período entre 2007 e 2016, realizado pela Informa D&B.
De acordo com os dados do estudo, na última década nasceram, em média, 35 mil empresas por ano. As empresas com até cinco anos de existência representam um terço do tecido empresarial e foram responsáveis pela criação de 46% do novo emprego.
No mesmo período registou-se um aumento da criação de sociedades unipessoais com menor número de trabalhadores e uma redução do volume de negócios e do capital social. Lisboa é a região que regista o maior número de novos negócios - 37% de novas empresas, em 2016 - ficando a região Norte pelos 32,9%.
Apesar de Portugal ter ainda uma dimensão reduzida no universo das start-ups, quando comparado com países como a Alemanha, com uma economia cerca de 13 a 14 vezes maior, a Alemanha tem pouco mais do dobro das start-ups de Portugal. No entanto, e atendendo aos índices de inovação em Portugal, que se encontram-se abaixo da média europeia, a criação de start-ups “é fundamental para o surgimento de uma nova economia”, afirma André Jacques, CMO da Porto Business School.
E elenca alguns negócios de sucesso que se destacaram no último ano: a Outsystems, empresa de IT que desenvolve tecnologias que permitem fazer o desenvolvimento rápido de aplicações de software; a MUB cargo, uma espécie de Uber para mercadorias, lançada no final de 2016 na Porto Business School por um grupo de Alumni e que em poucos meses conseguiu números impressionantes de registos, downloads e transportes, tendo fechado recentemente uma ronda de investimento que atingiu os 300 mil euros; a plataforma de crowdfunding Seedrs ou a start-up na área médica Oncostats, também elas com antigos alunos da PBS nas suas lideranças.
Com assinatura portuguesa há start-ups que andam nas bocas do mundo pelas melhores razões. No site Startup Ranking, as empresas portuguesas com melhor classificação são a plataforma de alojamento para estudantes Uniplaces na 441ª posição do ranking, a empresa tecnológica Outsystems (629ª posição) e o site de tecnologia 4gnews (946ª posição). O ranking é liderado pelas empresas americanas que ocupam os três primeiros lugares: a plataforma de alojamento Airbnb na primeira posição, seguida do serviço de transporte de pessoas Uber e da plataforma de histórias e ideias Medium.
As start-ups portuguesas enfrentam vários desafios, a começar pela capacidade de atrair talento na área tecnológica, cada vez mais escasso nas capitais mundiais do empreendedorismo, o que tem provocado um inflacionamento dos salários que Portugal não consegue ainda acompanhar, analisa André Jacques. Além disso, ainda enfrenta outros entraves: a pequena escala do investimento, fruto de uma reduzida rede de business angels e ainda mais reduzida presença de capitais de risco, atividade na qual Portugal enfrenta concorrentes de peso na Europa, tais como a Áustria, a Polónia, o Luxemburgo ou a Estónia, aponta o responsável de marketing da PBS.
Num contexto mundial económico difícil, onde a economia e a política americana não oferecem tanta confiança e o Reino Unido se prepara para sair da União Europeia, André Jacques acredita que Portugal pode oferecer condições muito vantajosas do ponto de vista fiscal, legal e de incentivos a empresas e investidores que cá se queiram estabelecer, conjugado com um estilo, qualidade e nível de vida que temos para oferecer.
“Assistimos a um movimento de empreendedorismo vigoroso, que foi muito alavancado no último ano pela realização do Web Summit em Lisboa, colocando de vez o nosso país no mapa e, que veio consolidar todo o trabalho público e privado que tem sido feito nos últimos anos”, constata. E conclui com otimismo: “Não tenho dúvidas em dizer que os próximos anos serão muito bons”.