O relatório de fevereiro de 2024 da Freedom House revelou que, pelo 18.º ano consecutivo, a liberdade mundial diminuiu, com 52 países a perder direitos políticos e liberdades civis. Este declínio, alimentado por eleições irregulares e conflitos armados, pôs em causa a liberdade global e causou sofrimento humano.
A IA, em especial a generativa, aumentou a escala e eficácia da desinformação, tornando mais difícil discernir a verdade, e limitando o exercício consciente dos nossos direitos democráticos. A tecnologia digital, predominante nos EUA e fabricada no Leste asiático, pode contribuir para o desenvolvimento sustentável ou para a degradação da democracia, conforme o seu uso.
Narrativas falsas proliferam online, corroendo a tomada de decisões informada e fomentando a polarização. Além disso, os algoritmos das redes sociais, muitas vezes opacos, criam “câmaras de eco”, reforçando crenças e limitando a diversidade de opiniões, um obstáculo ao ideal democrático de cidadania informada. Outro desafio reside nas contas automatizadas, que amplificam desinformação e manipulam tendências, comprometendo a autenticidade das interações online.
As vulnerabilidades em cibersegurança representam um risco direto à integridade das infraestruturas democráticas. A interferência eleitoral, através de ciberataques, tornou-se uma preocupação real, levantando dúvidas sobre a fiabilidade dos sistemas eleitorais. Proteger esses sistemas é crucial para assegurar a legitimidade dos resultados democráticos.
Roy Amara afirmou que tendemos a sobrestimar o impacto da tecnologia a curto prazo e subestimá-lo a longo prazo. Assim, é fundamental não acreditar cegamente em tudo, diversificar fontes de informação e fomentar o espírito crítico. A União Europeia, consciente desses desafios, criou o EU Artificial Intelligence Act, um regulamento abrangente que estipula normas de transparência e conformidade para todos os sistemas de IA no mercado europeu. Esta regulação escalona os riscos e impõe diferentes requisitos para cada nível, protegendo os cidadãos e promovendo uma IA fiável.
Este regulamento é mais um passo da UE para exercer a sua soberania digital e garantir que a IA é usada para o bem comum, promovendo o desenvolvimento sustentável. A colaboração entre humanos e IA, como revelado por estudos da BCG e MIT Sloan, é essencial para alcançar uma maior eficácia, reforçando que a IA deve ser usada com curiosidade, experimentação e responsabilidade.
Concluo com as palavras de Sir Jeremy Fleming: “A tecnologia tornou-se um campo de batalha por controlo, valores e influência.” Cabe a todos nós – setor público, privado e academia – construir um futuro digital colaborativo, alicerçado em valores democráticos.
Artigo de António Gameiro Marques, Codiretor do Programa de Formação para Executivos Cybersecurity for Executives da Porto Business School