A Associação para o Progresso da Direção (APD) aliou-se ao InvestBraga e organizou o “Que impacto? A Cimeira Social do Porto” para debater o plano de ação com vista a alcançar as metas definidas na Cimeira Social do Porto. A Cimeira decorreu no passado dia 7 de maio de 2021.
A Cimeira Social do Porto, que ocorreu a 7 de maio de 2021, permitiu consolidar o compromisso para com o Pilar Europeu dos Direitos Sociais e resultou na definição de 3 grandes metas para 2030: alcançar uma taxa de emprego mínima de 78%; ter pelo menos 60% dos europeus a participarem todos os anos em formações e pelo menos 80% das pessoas entre os 16 e 74 anos com competências digitais básicas; e reduzir a população a viver em situação de pobreza ou de exclusão social em pelo menos 15 milhões de pessoas.
Definidas as metas, a APD aliou-se ao InvestBraga e organizou um evento com o intuito de discutir o plano de ação para alcançar os objetivos propostos. O evento “Que impacto? A Cimeira Social do Porto?” decorreu no passado dia 12 de novembro de 2021, no Altice Forum, em Braga.
Após as boas-vindas a cargo do Presidente da Câmara Municipal de Braga, Ricardo Rio, seguiu-se o discurso de abertura da Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, que destacou o papel histórico da Cimeira Social do Porto quanto à coesão do modelo europeu ao nível da dimensão social.
Apesar de considerar as metas ambiciosas, a responsável pela pasta do trabalho do governo português identificou essas mesmas metas como atingíveis, apontando como principais instrumentos a valorização dos jovens no mercado de trabalho, a importância do reskilling e do upskilling, a parceria com as autarquias e outras instituições locais e a mobilização de recursos.
O momento seguinte foi de debate – uma mesa-redonda com o tema “Emprego, Demografia, Formação e Sociologia do Trabalho”, moderada por Patrícia Teixeira Lopes, Associate Dean da Porto Business School.
Do painel de oradores faziam parte António Leite, Vice-Presidente do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), Alexandra Lopes, Professora na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), João Cerejeira, Professor na Universidade do Minho, e Carvalho da Silva, coordenador na CoLABOR.
Foram vários os aspetos destacados neste debate. António Leite realçou os vários programas do IEFP que estão ou que irão estar a decorrer e cujo propósito é contribuir para o alcance das metas definidas, garantindo trabalho digno para todos e todas. Para além disso, apontou que os ganhos da formação não podem ser apenas ganhos genéricos e a importância do emprego feminino.
Por outro lado, a Alexandra Lopes destacou que o foco deveria estar nos 20 princípios europeus para o Plano Europeu dos Direitos Sociais, sendo este o verdadeiro plano de ação. Como principais desafios, a Professora deu especial relevância ao envelhecimento muito acelerado da população portuguesa e à contração da população.
Como consequência, apontou a hipervalorização da juventude, revelando preocupação relativamente à manutenção dos indivíduos com mais de 50 anos no mercado de trabalho. João Cerejeira apresentou vários dados estatísticos relativamente ao emprego numa economia de transição.
Esses mesmos dados revelaram várias vulnerabilidades que poderão afetar o alcance das metas definidas, nomeadamente: o facto de Portugal ser o país da União Europeia cuja população adulta tem a menor percentagem de indivíduos com a qualificação mínima; existir um forte gap intergeracional ao nível da qualificação, o que traz implicações ao nível da evolução na carreira; os valores do abandono escolar estarem acima da média europeia, sendo que neste aspeto a dimensão territorial assume um fator explicativo relevante; existir uma elevada percentagem de jovens com licenciatura em profissões com baixo grau de complexidade; e verificar-se uma escassez de diplomados em Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC).
O Professor realçou ainda que as políticas ambientais e sociais irão ter um forte impacto no emprego, dando o exemplo da produção e venda de carros elétricos. A última intervenção ficou ao cargo de Carvalho da Silva que chamou a atenção para o impacto real dos eventos mundiais no trabalho e para o facto de estarmos a passar de uma situação de escassez da procura para uma situação de escassez da oferta.
Além disso, a desvalorização salarial foi apontada como um dos bloqueios da economia e destacou-se que a dimensão social deve ser tratada em simultâneo com a dimensão económica.
Para terminar o debate, Patrícia Teixeira Lopes destacou aspetos como o facto de estarmos num momento de reconstrução, o facto de as metas não serem o fim em si mesmo, mas sim os instrumentos para essa reconstrução; a necessidade de transformar o digital em produtividade nas empresas; a importância de as empresas estrangeiras se instalarem enquanto centros de decisão, ao invés de serviços partilhados; o facto de não termos uma economia que consiga estabelecer os jovens qualificados; a importância da economia do trabalho e da aposta na formação em gestão dos empresários e líderes; e a complexidade e consequente desigualdade provocada pelo trabalho híbrido.