Há algumas semanas, o IMD e a Porto Business School divulgaram os resultados do Ranking Mundial de Competitividade do IMD Competitiveness Center. Portugal alcançou a 36ª posição (de um total de 64 países), subindo um lugar, face ao ano passado.
No entanto, apesar do tom otimista das notícias publicadas pelos media, uma análise mais profunda mostra que não há razões para celebrar.
O grupo de países homólogos (região EMEA) pontuou muito mais alto (24), enquanto Portugal desceu posições nos indicadores de Desempenho Económico, Eficiência Governamental e Práticas de Gestão.
Há muito tempo que as diferenças de produtividade entre empresas e países intrigam os economistas. Uma hipótese que se coloca é a de que as diferenças de produtividade se devem a inovações tecnológicas ou à utilização de novos equipamentos. Porém, vários estudos revelam que apenas uma parte das diferenças na produtividade do trabalho pode ser explicada pela intensidade de capital ou por fatores tecnológicos.
Outra explicação reside nas diferenças das práticas de gestão.
Isto foi confirmado por Nicholas Bloom, da Universidade de Stanford, e John Van Reenen, da London School of Economics, com base num inquérito a quase 6.000 empresas em 17 países. Embora realizado há uma década, as conclusões deste estudo continuam a ser relevantes. Os Estados Unidos tiveram as mais altas pontuações, seguidos da Alemanha, Japão, Suécia e Canadá, e só depois pelos países da Europa Central - França, Itália, Irlanda, Reino Unido, e Polónia. Na base estavam a Grécia e Portugal, juntamente com alguns países em desenvolvimento. E, uma vez que Portugal, nos dias de hoje, ainda pontua mal no que toca às práticas de gestão, podemos afirmar que o problema é endémico.
As práticas de gestão variam substancialmente de país para país e de empresa para empresa. Isto levanta a questão: porque é que as empresas não adotam melhores práticas de gestão?
Estudos realizados apontam várias razões, da concorrência de mercado, à posição multinacional, tipo de empresa ou até educação.
Os estudos confirmam que a qualidade da gestão tende a aumentar com a intensidade competitiva, por isso, quando a concorrência no mercado não é muito intensa, algumas empresas de baixa produtividade são capazes de sobreviver. Esta conclusão é consistente com a observação de que os Estados Unidos, que geralmente têm mercados muito competitivos, têm menos empresas mal geridas, em comparação com outros países.
Através da investigação existente, podemos também perceber que o tipo de empresa e o perfil do CEO são fatores adicionais - empresas familiares cuja gestão é familiar tendem também a ser empresas mal geridas, contrariamente às empresas familiares geridas por um CEO externo. Em contrapartida, as empresas detidas por acionistas afiguram-se mais bem geridas quando comparadas com empresas familiares e estatais. Assim, a tendência das empresas de “private equity” comprarem empresas sob gestão familiar ou governamental faz sentido do ponto de vista económico. Os estudos nesta área demonstram ainda que muitas empresas cujo CEO é, ao mesmo tempo, o seu fundador, tendem também a ser mal geridas. As competências de empreendedorismo necessárias para a criação de uma start-up não são as competências necessárias quando essa empresa ganha escala.
Uma empresa madura precisa de ir além das práticas informais, o que, muitas vezes, é feito de forma mais eficaz por um gestor profissional.
De acordo com o inquérito levado a cabo por Bloom e Van Reenen, há três tipos de empresa associados às mais baixas pontuações de práticas de gestão - empresas familiares com um CEO da família, empresas onde o atual CEO é o seu fundador e empresas pertencentes ao Estado. O mesmo estudo revela ainda que em economias desenvolvidas como a Alemanha, Japão, Suécia, e Estados Unidos, estas categorias perfazem cerca de 20 a 30%. Em contraste, em países como Itália, Brasil, Portugal e Grécia, a percentagem de empresas que se enquadram nestas três categorias é de cerca de 60%.
As empresas multinacionais são também um fator de diferenciação. As multinacionais estrangeiras são mais bem geridas do que as empresas nacionais, presumivelmente porque as empresas mais bem geridas são mais suscetíveis de se tornarem multinacionais. Além disso, as multinacionais estrangeiras parecem ser capazes de transferir as suas melhores práticas no estrangeiro, apesar das circunstâncias locais. No inquérito de Bloom e Van Reenen, destaca-se o caso de Portugal. Em termos de Práticas de Gestão (qualidade da Gestão), as empresas nacionais pontuaram entre as piores, enquanto as multinacionais em Portugal se classificaram entre as melhores (ao mesmo nível que a Alemanha, e logo atrás dos EUA e Japão). A minha própria experiência confirma-o. Ao visitar uma fábrica em Portugal, uma subsidiária de uma multinacional alemã, fiquei a saber que a fábrica estava entre as melhores do mundo em termos de produtividade.
Outro fator de qualidade de gestão é o Capital Humano. Empresas bem geridas têm mais trabalhadores mais bem qualificados. As empresas com altas pontuações de gestão são capazes de recrutar trabalhadores com mais qualificações. A educação está diretamente correlacionada com as altas pontuações de gestão. Não é surpreendente que os gestores com um MBA ou outra formação superior em gestão estejam mais conscientes dos benefícios e adotem práticas de gestão modernas. Mais surpreendente, talvez, é que a educação ao nível dos trabalhadores esteja também positivamente associada à qualidade de gestão, sugerindo que a implementação das melhores práticas é mais fácil quando a força de trabalho é mais qualificada. De facto, algumas das melhores práticas dependem de iniciativas e do envolvimento dos trabalhadores, tais como as técnicas de produção “lean”, inspiradas pelo Japão.
Agora que Portugal está pronto para receber fundos do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência), os decisores políticos e os gestores de empresas devem ter em mente uma mensagem-chave: não é apenas a tecnologia ou o capital que irá melhorar a produtividade. A qualidade da gestão e a cultura empresarial são igualmente, ou até mais importantes. A formação para executivos deve ser colocada ao serviço da agenda mobilizadora. E Portugal tem algumas escolas de negócios de reputação mundial que podem fornecer formação de qualidade, desenvolvendo novas competências, ferramentas e métodos para os gestores se tornarem mais eficazes na abordagem dos futuros desafios na transformação digital, novos modelos de negócio, e sustentabilidade. Por isso, e para o bem do país, os investimentos devem também ser dedicados à melhoria da gestão.
Artigo originalmente publicado no Jornal de Negócios a 21.07.2021