O turismo sustentável apresenta vários desafios, desde o envolvimento dos habitantes locais à articulação entre os setores público e privado e à atração de talento. Juan Carlos Belloso, City Branding Expert, que esteve no Porto para uma conferência, a convite da Porto Business School explica como a cidade de Barcelona pode vir a servir de exemplo para o Porto desenvolver uma marca turística mais forte.
Não há dúvidas de que a Invicta está na moda. O setor do turismo já conquistou vários galardões, entre os quais a 96ª posição no ranking anual da Euromonitor International das 100 cidades mais visitadas do mundo. A somar a este reconhecimento, conquistou também o prémio de cidade mais interessante da Europa, e segunda do mundo, para visitar em 2019, pelo site internacional de viagens Culture Trip.
No entanto, esta fama crescente tem levantado muitas questões relacionadas, sobretudo, com a sustentabilidade do território. Qual é o posicionamento que a marca “Porto” deve ter? Juan Carlos Belloso, City Branding Expert, acredita que o modelo deve assentar na preservação da identidade da cidade.
“A cultura, a criatividade e a gastronomia são elementos cruciais para o posicionamento turístico. O turismo cultural é um turismo em que se gasta mais e se respeita muito mais a identidade de um destino”. Mas, agora que o Porto não precisa de mais provas de que é um destino apetecível por várias razões, o especialista defende que é preciso definir o modelo que se quer para o futuro: muitos turistas ou turistas de qualidade?
No âmbito da conferência “Destination Marketing: Tendências e Desafios”, organizada pela Porto Business School em parceria com a Câmara Municipal do Porto, Juan Belloso esclareceu que a definição desta estratégia implica garantir a sustentabilidade do território e dar resposta aos riscos da massificação do turismo e da gentrificação, que trazem implicações ao nível do aumento das rendas, do desaparecimento das lojas tradicionais e do aumento do preço dos serviços, problemáticas que estão na base da perda da identidade e da autenticidade e que transforma as cidades num “parque temático”. Além disso, é também necessário apostar no turismo de experiências, que seja capaz de envolver os turistas em atividades locais, “porque o turista procura, sobretudo, sentir-se como alguém que faz parte do próprio destino”, refere Belloso.
O que têm em comum as cidades do Porto e de Barcelona?
Na opinião de Juan Carlos Belloso, que fez parte do grupo de consultoria estratégica para a cidade de Barcelona, através da plataforma “Barcelona Global”, há muitas semelhanças entre Barcelona e o Porto: ambas são capitais industriais e económicas, assentam numa economia aberta, têm um espírito empreendedor forte, um sentimento de orgulho e pertença, novos modelos económicos baseados na economia da inovação e do conhecimento, os seus pilares económicos assentam na cultura e criatividade e promovem eventos que levam à criação de novos negócios e experiências.
“No caso de Barcelona, o que aconteceu foi que, durante muitos anos, se investiu na promoção da cidade como destino turístico e não tanto na gestão turística, e isso faz toda a diferença. Não há soluções fáceis e todos queremos turistas”, defende o especialista, acrescentando que se torna essencial desenhar a estratégia turística de uma cidade “em estreita articulação com os habitantes locais, para que participem ativamente nos desafios e se sintam identificados com eles. Mas é importante sabermos o que pensam os cidadãos para saber se estão contentes, o que precisam e de que forma o modelo pode ser sustentável”.
Belloso acredita ainda que um dos elementos fundamentais é a articulação público-privada no setor do turismo e a atração de talento, que ajuda cidades que não sejam capitais a emergir como mecas culturais e sociais. A iniciativa privada promoveu muitos dos principais projetos em Barcelona e o turismo posicionou a cidade a vários níveis: contribuiu para a melhoria do bem-estar dos cidadãos através da criação de emprego e da atividade económica (representa 15% do PIB e 10% do emprego); contribuiu para a melhoria da conectividade da cidade com o mundo, o que facilitou o intercâmbio das atividades económicas que movem a cidade; contribuiu para o aumento das receitas fiscais; e ajudou a posicioná-la como a oitava cidade no mundo com o maior número de projetos de investimento estrangeiro entre 2013 e 2017, segundo o ranking da KPMG.
“Com Barcelona como exemplo a seguir, o Porto encontra-se, neste momento, numa boa posição para pensar atempadamente a sua estratégia e aproveitar ao máximo o que o setor turístico pode trazer de melhor”, concluiu o especialista.
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