Na jornada do empreendedorismo é essencial desenvolver a capacidade de jogar o jogo em cima do jogo. “Em Portugal temos uma tendência de pensar apenas no jogo”, explicou António Câmara, Professor da Porto Business School, na cerimónia de celebração da graduação da turma do The Executive MBA 2018/2019.
Com efeito, antes do jogo em cima do jogo, é essencial pensar no próprio jogo. Mais importante ainda é desenvolver as competências e conhecimento necessários para jogar qualquer jogo, e ter a capacidade de nos associarmos às pessoas que o jogam.
Para António Câmara, fundador da YDREAMS, e docente convidado da Porto Business School “um dos maiores problemas em Portugal está relacionado com o jogo fulcral da inovação que começa, em grande parte, pela investigação”.
Depois de dada por concluída a investigação, a criação de valor é compreendida, em certa medida, como consequencial. Contrariamente a esta ideia, António Câmara sublinhou que “só se cria (valor), se houver alguém que tenha a componente de negócio e que, em última análise, esteja disponível para arriscar”.
Enquanto a Europa continua a seguir o modelo de investigação linear, os Americanos criaram um sistema de inovação distinto, de acordo com o qual a investigação é iniciada com base numa tecnologia/ indústria antiga a partir da qual se cria uma tecnologia/ indústria nova.
António Câmara, orador convidado da cerimónia de graduação do MBA Executivo, chamou a atenção para o facto deste modelo incluir “uma ligação às empresas e a necessidade de ter pessoas da gestão, que arriscam e que são empreendedoras”.
Se compararmos as Universidades europeias com o MIT, por exemplo, a diferença é abismal. A qualidade das pessoas é a mesma, contudo, a lógica da inovação é o fator diferenciador que faz com que o MIT crie, pelo menos, 300 empresas por ano; que tenha empresas que faturam 1.3 biliões de euros por ano e empreguem 4.3 milhões de pessoas e, simultaneamente, tenha criado 80 Prémios Nobel.
Porque não fomos educados a sonhar?
Não pensamos de forma abdutiva [forma de pensar que produz a criatividade e a inovação e que introduz uma nova ideia] e movimentamo-nos no limbo entre o pensamento dedutivo e indutivo, relegando para segundo plano a importância do sonho para a concretização da mudança.
António Câmara apelou à plateia de alunos a não esquecerem o poder das ideias. “Hoje cada vez mais a execução é algorítmica, logo as ideias contam incrivelmente”, referiu.
Embarcar na jornada do empreendedorismo significa compreender a relação entre as ideias e a comunicação, na medida em que “as ideias não são nada logo à partida, se não são bem comunicadas”, disse.
Na sessão, António Câmara, Professor da Porto Business School, partilhou um bom exemplo desta relação eficiente entre a ideia e a sua comunicação. Em 1984, quando Michael Dell, com 19 anos, fundou a Dell Inc., comunicou de uma forma sintética a sua ideia: “We sell computers direct. By building only to order, outsourcing most manufacturing and selling over the Web, we have the lowest cost and highest return on invested capital in the industry invested capital in the industry”. Em 2020 a Dell Technologies, resultante da fusão entre a Dell Inc. e a EMC Corporation, faturou mais de 92 biliões de dólares.
É essencial analisar o que conseguimos fazer, o que queremos fazer, e para quem
Conhecer o “timing” para concretizar uma ideia é essencial. Em 2010, por exemplo, pensava-se que dali a dois anos a realidade aumentada estaria em todo o lado. Estamos em 2021 e os óculos da Apple que vão fazer a diferença só chegam ao mercado daqui a 3 anos.
Todos os anos a Gartner publica o “Hype Cycle for Emerging Technologies”, uma ferramenta importante para avaliar o estado de maturidade das ideias empreendedoras.
António Câmara sublinhou ainda a importância da concorrência que não deve ser considerada um fator de preocupação. Contrariamente a inexistência de concorrência é que deve ser um sinal de alerta, porque se não há concorrência, não há mercado.
Em tom de conclusão, e numa tónica inspiradora, António Câmara, Professor da Porto Business School e Chairman da YDREAMS, empresa que fundou, em recordou a plateia de graduados do The Executive MBA, que apesar das constantes projeções dos economistas que parecem condenar Portugal à pobreza, nos últimos quatro anos surgiram empresas portuguesas de empreendedores gigantes e estão mais oito na calha. Portanto, sim, podemos transformar Portugal e nós fazemos parte desta mudança.