Performance Empresarial: "Ainda estamos muito no ramo da ‘achologia’ "
As empresas querem-se cada vez mais competitivas e com elevados níveis de performance e têm hoje, como nunca, meios tecnológicos que permitem ter acesso a dados importantes que fornecem informações sobre o desempenho da organização ou o perfil dos consumidores. Será que, em Portugal, as empresas sabem como atingir uma boa performance, tirando partido da tecnologia?
Empresas como a Google ou Amazon são consideradas como exemplos a seguir, em vários aspetos, da performance à inovação. A performance de uma empresa ou negócio, seja internacional, dimensão média ou um negócio familiar, não é diferente da performance de um atleta de alta competição, no qual são analisados vários parâmetros que o podem levar ao sucesso.
Tal como os atletas bem-sucedidos, as empresas que apresentam bons resultados ao nível da performance têm melhores indicadores a vários níveis: de competitividade, alinhamento dos diferentes setores, uniformidade na linguagem, maior conhecimento do consumidor e estratégias adequadas aos recursos.
Mas de que é que falamos, afinal, quando falamos na performance de uma empresa? A performance está relacionada com o “comportamento das pessoas e, ao conseguir medir essas pessoas, posso influenciar e posso mudar o comportamento delas para que atinjam os objetivos da organização”, explica Vasco Viana, diretor do programa Enterprise Performance Measurement in Action e da Pós-Graduação em Controlo de Gestão e Avaliação de Desempenho (PGCGAD) da Porto Business School (PBS).
A performance de uma empresa está diretamente relacionada com a capacidade de uma organização conseguir medir e analisar os dados e é nesta matéria que a implementação de sistemas de controlo de gestão têm um papel preponderante.
“O que nós sabemos é que se medirmos, melhoramos a performance. Se eu não fizer as contas em casa, se eu não planear a minha vida, se eu não olhar para os meus gastos, se eu não tiver um plano daquilo que eu vou fazer hoje, sei que só por sorte é que as coisas vão acontecer. Daí a importância de medir. O mesmo se aplica às empresas - se criarmos sistemas de controlo, criamos mais condições para a empresa melhorar a sua performance”, explica o professor da Porto Business School.
Porque é que os sistemas de controlo de gestão são tão importantes numa organização? Porque alinham a organização à volta da dua estratégia e uniformizam a linguagem - aquilo que os especialistas chamam de semântica da organização. “Parece óbvio mas, muitas vezes não é. E aplica-se muito para além de planos de contas e de indicadores de performance. Toca também comportamentos, atitudes e questões informais e mais subjetivas”, reforça Vasco Viana.
A tecnologia ao serviço da performance das empresas
A transformação digital que se verificou na última década trouxe novas formas de criar negócios dentro das organizações mas, ao mesmo tempo, trouxe também um enorme desafio para as empresas, ao nível da performance, porque permite-lhes analisar todos os dados que captam para melhorar o seu desempenho, aumentando o seu conhecimento sobre o perfil dos consumidores e otimizando os seus recursos.
Na opinião do diretor do programa Enterprise Performance Measurement in Action, o maior desafio não passa apenas por captar dados sobre o mercado, mas sim refletir e tomar decisões a partir destes. “E o business intelligence dá-nos acesso a esses dados de uma forma muito mais rápida, com formatos mais visuais, mais user-friendly e de uma maneira rápida que permite agir, quase de imediato. São ferramentas que as organizações têm agora ao dispôr e que lhes permitem perceber melhor aquilo que as rodeia, explorar oportunidades e, muitas vezes, criar novos negócios, ganhando vantagens competitivas apenas pela análise mais detalhada dos seus dados. Hoje em dia, há quem faça a diferença só pela informação que tem", refere Vasco Viana.
Vasco Viana acredita que Portugal ainda tem um longo caminho a percorrer no que diz respeito à implementação dos sistemas de controlo de gestão com vista à melhoria da performance das empresas. “Ainda estamos muito no ramo da ‘achologia’, do ‘acho que’. A medição da performance das empresas, no nosso país, faz-se ainda de um modo muito informal. E, muitas vezes, quando os proprietários das empresas são confrontados com os dados reais, têm grandes surpresas. A formalização dos dados ajuda a dar esse salto. Que o digam as empresas alemãs, que há mais de 40 anos são obcecadas pelos dados e pela medição, algo que talvez possa ajudar a explicar a diferença entre a competitividade da economia alemã, quando comparada a outras”, exemplifica.
Protótipo empresarial testado em ambiente académico
A primeira edição do programa Entreprise Performance Measurement in Action, que tem início a 20 de setembro, vai usar, pela primeira vez nesta área, uma nova metodologia de ensino que privilegia um contacto ainda mais próximo da realidade empresarial, com recurso a casos de empresas no mercado para a criação de protótipos a implementar nas organizações.
Os participantes do programa são chamados a “pôr a mão na massa”, trabalhando num caso real através da recolha e análise de dados com vista à construção do protótipo EPM que será usado em ambiente empresarial.
“Qual é o valor acrescentado deste tipo de programas? Por exemplo, uma empresa que quer começar a calcular melhor a rentabilidade dos seus produtos, que pretende criar um modelo de rentabilidade e perceber como é que os seus produtos acrescentam valor, poderá, com a frequência deste programa e com dados da própria empresa, desenvolver um protótipo EPM e criar um Plano de Rollout do protótipo que permitirá estender a sua implementação a toda a organização.
O diretor do programa Enterprise Performance Measurement in Action acredita que a criação de diferentes protótipos em aula é muito vantajosa, sobretudo pela possibilidade de abordagens distintas - rentabilidade, os indicadores de performance, a análise de cliente 360, que toca todos os pontos da organização, entre outros.
A primeira edição do programa Enterprise Performance Measurement in Action tem início a 22 de setembro. destina-se sobretudo a profissionais da área de controlo de gestão e das tecnologias de informação para que estejam alinhados numa linguagem e estratégia comuns.