Termina neste fim-de-semana o V Congresso da SEDES, uma das mais prestigiadas associações cívicas portuguesas, criada em 1970 com a missão de promover o desenvolvimento económico e social do País.
O congresso, que decorreu em Lisboa, Porto e Coimbra, estruturou-se em torno de um conjunto de temáticas relevantes para o nosso futuro coletivo, que vão desde a reforma do sistema político às finanças públicas, passando por áreas tão diversas como a Saúde, a Justiça e a Educação.
Tendo sido um dos relatores do documento apresentado sobre o Ensino Superior, cumpre-me chamar a atenção para algumas das conclusões e propostas aí contidas.
O ensino superior é hoje um setor de atividade globalizado que enfrenta importantes desafios transversais, mormente os que decorrem da digitalização, das alterações no mercado trabalho, da redefinição do papel das universidades no seio da sociedade, da atração de talento, da sustentabilidade financeira e da responsabilidade social. As nossas instituições de ensino superior - sejam universitárias ou politécnicas, públicas ou privadas - estão, obviamente, inseridas neste contexto, sendo aqui que jogam muito do seu sucesso futuro.
Para além daqueles reptos, a situação em Portugal enfrenta ainda um conjunto de constrangimentos específicos. Desde logo, os que decorrem da evolução demográfica desfavorável, o que faz com que a internacionalização seja um imperativo de sobrevivência para muitas, se não mesmo para todas aquelas instituições.
Mas não só. Como assinala um importante relatório da OCDE publicado há dois anos sobre Portugal, falta uma articulação mais efetiva entre ensino, investigação e inovação de forma a conjugar a eficiência da utilização dos recursos com a eficácia nos resultados. Registam-se também falhas de coordenação entre as políticas ao nível do ensino superior e as outras áreas da governação, designadamente a educação não superior, a economia, o desenvolvimento e a coesão territorial, a cultura, o mar e a agricultura. Assim como prevalece uma indefinição sobre o papel específico que cabe às universidades e aos institutos politécnicos.
O ensino superior é um dos motores do desenvolvimento de qualquer sociedade - desenvolvimento não apenas social e cultural mas também económico. Se queremos tirar o nosso País da estagnação em que caiu nos últimos 20 anos, as universidades e os institutos politécnicos terão necessariamente de mudar, pois serão chamados a um papel muito mais ativo e abrangente do que aquele que têm assumido.
Para isso devem:
- Redefinir a sua missão na sociedade, assumindo-se de forma clara e efetiva como drivers do desenvolvimento;
- Reorganizar os modelos de governação, tornando-os mais flexíveis e menos burocráticos;
- Ajustar a oferta formativa e as metodologias de aprendizagem às novas necessidades do mercado de trabalho, sem esquecer a formação ao longo da vida;
- Concentrar esforços em áreas de excelência ao nível da produção científica;
- Promover a transformação do conhecimento em soluções que potenciem a competitividade da economia;
- Garantir a sustentabilidade financeira através de uma diversificação das fontes de financiamento;
- Apostar na sua própria competitividade de forma a assegurar uma efetiva internacionalização da atividade.
E, principalmente, devem alterar a sua cultura organizacional, promovendo uma maior abertura às empresas e à comunidade, apostando na meritocracia enquanto forma de atrair e reter talento, e prestando contas ao País daquilo que fazem, dos recursos que consomem e dos resultados que alcançam porque, independentemente de serem públicas ou privadas, têm uma responsabilidade perante a sociedade que só será verdadeiramente assumida se for transparente.