Será que as novas empresas devem nascer com uma estratégia focada no mercado global? Que tipo de negócio faz sentido internacionalizar? Será que o mercado global é mais tangível para as start-ups? Ou os setores tradicionais, como o calçado ou o têxtil, com uma forte componente exportadora, podem continuar a ser uma referência fora do país? O seminário “Born Global or Born Local?”, promovido pela Porto Business School, quis encontrar resposta para estas questões.
Born Global or Born Local? Pensar em cimentar estabilidade na terra de origem de uma empresa ou sonhar em ultrapassar fronteiras e chegar a todo o mundo? Não há uma receita que sirva para todas as empresas e cada caso é um caso, na opinião de Pedro Vieira. O diretor da pós-graduação em International Business na Porto Business School, e diretor do ExportAdvance, participou no seminário “Born Global or Born Local?”, no âmbito do projeto PME BeGlobal - Alavancar PMEs globais na região Norte, uma iniciativa que juntou gestores de PMEs na partilha de experiências e reflexão sobre os fatores que influenciam o processo de internalização das PMEs do Norte, e esclareceu que nem todas as empresas têm de nascer com o objetivo de se expandirem a todo o mundo. Por vezes, focar-se no plano local ou regional é a maior receita para o sucesso.
“Existem cada vez mais empresas que quando nascem estão a pensar numa escala mais global, disso não tenho dúvidas, quer do ponto de vista das competências de que precisam, mas também em termos de mercados. Mas cada caso é um caso. Se o meu negócio é uma barbearia num bairro de Lisboa, não vou exportar o corte de cabelo, mas se falarmos no calçado e no setor agroalimentar, vou pensar numa escala mais global. Não podemos criar a lógica de que todas as empresas nascem a pensar na lógica do mercado global”, concretizou o docente.
Importa primeiro fazer a distinção entre as empresas born local e born global. As empresas born local estão, muitas vezes, associadas a setores tradicionais como o do calçado ou do têxtil. “Temos empresas que nascem localmente porque há razões muito fortes para isso acontecer, porque à volta existe um conjunto de condições que o favorecem. Há empresas portuguesas que nascem, nasceram e nascerão no futuro em Felgueiras e em São João da Madeira, ligadas ao setor do calçado, porque é um cluster forte. Isto significa que há conhecimento, técnicos e trabalhadores com formação para trabalhar no setor”, exemplifica Pedro Vieira.
Já as empresas born global, além de assegurarem que têm as competências necessárias num curto espaço à sua volta, têm de ter a capacidade de as ir buscar a qualquer parte do mundo. As born global nascem viradas para o mercado internacional, mas, sobretudo, com a capacidade de atrair competências onde quer que elas existam, tornando-se, portanto, irrelevante o país ou o local onde são criadas e lançadas.
“Muitas vezes, associamos as empresas born global às start-ups, se calhar, pela sua leveza e por terem esta capacidade de ir buscar essas competências a todo o lado. As start-ups, muitas vezes, pensam na escala que lhes é mais próxima e o próprio desenvolvimento do produto pode e deve ser já feito a pensar numa escala global para mais tarde a adaptação do produto ser menos complexa”.
Questionado sobre quais os negócios mais facilmente escaláveis a nível global, Pedro Vieira acredita que mesmo os mais tradicionais têm uma escala global possível. No entanto, “as empresas, quando são criadas em modelos mais tradicionais, muitas vezes não têm as competências internas para chegar a todo o mundo e olham primeiro para os mercados cujas diferenças e variáveis a considerar no negócio internacional são menores”. Até porque, segundo mostram as estatísticas, a maioria das empresas portuguesas exporta para perto, sobretudo para países da zona Euro, mercados geograficamente mais próximos, sem taxas de câmbio nem alfandegárias, com maior facilidade de comunicação e com menores barreiras culturais, conclui.