O nosso país é conhecido pelas paisagens únicas e deslumbrantes, uma história rica e uma cultura vibrante, tendo vindo a surgir como um destino gastronómico de destaque e reconhecimento mundial. O país não só é generoso na variedade de (ingredientes) produtos frescos e saborosos, como tem uma herança culinária que remonta a séculos e resultante de uma gesta única, por muitos considerada a 1ª globalização do nosso planeta, é também fruto dessa expansão que a Cozinha Portuguesa é por muitos reconhecida como a primeira Cozinha de Fusão de sempre!
No entanto, nos últimos anos, um movimento específico tem impulsionado ainda mais o turismo gastronómico e o enoturismo em Portugal: o surgimento de restaurantes com estrelas Michelin.
O Guia Michelin, um dos mais respeitados Guias gastronómicos no mundo, atribui as suas cobiçadas e desejadas estrelas a restaurantes que evidenciam uma nível de excelência na sua cozinha, serviço e ambiente. Para Portugal, a obtenção de uma estrela Michelin pode ser um catalisador para o reconhecimento nacional e internacional bem como, e muito seguramente, um crescimento significativo na procura, uma diversificação dos seus mercados alvo e sem qualquer margem de dúvida, na geração de mais receita!
Estes impactos, catalisados pelas seleções que o Guia faz em Portugal, tem-se refletido num aumento do turismo gastronómico e dos viajantes que agora veem a gastronomia como uma parte essencial da sua experiência de viagem, e a procura por restaurantes renomados tornou-se uma prioridade. O Guia Michelin, repleto de recomendações de restaurantes estrelados, têm influenciado diretamente o comportamento dos turistas que desejam explorar a culinária portuguesa nas suas formas mais requintadas.
Outro factor de destaque é a presença de restaurantes estrelados em diferentes regiões vinícolas, que têm impulsionado o turismo gastronómico, e também o enoturismo, nessas regiões. Os turistas têm agora mais razões para explorar as adegas e produtores locais, participar em degustações e aprender sobre os métodos de produção de vinho, sabendo que podem combinar essa experiência com uma refeição excepcional num restaurante estrelado nas proximidades.
A ascensão dos restaurantes com estrelas Michelin também teve, como é fácil de compreender, um impacto significativo na economia local. Estes estabelecimentos geralmente empregam equipas altamente qualificadas e investem em ingredientes e produtos de alta qualidade, muitos dos quais produzidos localmente. Esta abordagem não só cria empregos no setor, mas também estimula a produção agrícola e promove a sustentabilidade ao valorizar os produtores locais.
Além disso, o reconhecimento internacional conferido pelos Guias Michelin aumenta a visibilidade de Portugal como destino gastronómico de nível superior. Os turistas agora associam o país, não apenas às suas paisagens deslumbrantes e rica história, mas também à sua cozinha sofisticada e inovadora, que convive com uma outra de grande proximidade às nossas raízes culinárias e culturais. Tudo isto atrai uma nova segmentação nos turistas que procuram experiências gastronómicas memoráveis e estão dispostos a explorar os recantos mais escondidos de Portugal em busca delas.
No entanto, “nem tudo são rosas”, pois apesar dos muitos benefícios que estes restaurantes nos aportam, também há desafios a considerar. A pressão para manter as estrelas pode ser esmagadora para os chefes e proprietários dos restaurantes e respetivas equipas, gerando um ambiente de trabalho exigente e estressante. Além disso, o aumento do turismo pode levar a um fenómeno de gentrificação e ao aumento dos preços, tornando as experiências gastronómicas exclusivas menos acessíveis para os habitantes locais e produzindo ambientes e experiências cada vez menos reais e autênticas.
Finalizando, não há dúvidas do impacto do reconhecimento alcançado pelos restaurantes com estrelas Michelin no fenómeno turístico do nosso país. Diariamente eles elevam o país a um patamar mais alto no cenário da gastronomia internacional, atraem turistas em busca de experiências culinárias únicas e excepcionais e promovem o desenvolvimento económico em regiões menos desenvolvidas.
No entanto, é fulcral que não se descure o esforço contínuo na manutenção dos elevados padrões de qualidade ao nível do serviço, da cozinha e seus ingredientes e matérias-primas, que este tipo de restauração exige para garantir que consigamos manter a imagem de um Portugal gastronomicamente autêntico, rico, inclusivo e sustentável a longo prazo.
Artigo de Paulo Vaz, docente do Executive Master in Tourism Management