“E se fosse CEO de uma empresa?”. Quando Ricardo Araújo Pereira veio até ao campus da Porto Business School falar de humor e comunicação, esta foi a primeira questão colocada. Primeiro vieram os calafrios, depois os arrepios… e, por fim, os tremores. Foram estas as sensações que lhe percorreram o corpo ao pensar na ideia de assumir um cargo tão sério. Mas não foi por isso que largou o seu lado mais brincalhão, que nunca desilude.
Ricardo diz que não percebe nada de negócios, que nunca teve um emprego “a sério”, mas que sabe como os humoristas conseguem ter um olhar diferente e ajudar a tornar o mundo dos negócios menos “cinzento”. Esta foi a entrevista possível com Ricardo Araújo Pereira [RAP] que, ao seu jeito, nunca desilude.
O que sabe, afinal, este humorista sobre o mundo das empresas?
[RAP] É uma boa pergunta e, sobretudo, difícil, porque é feita precisamente a uma pessoa que nunca teve um emprego “sério” (essa é uma das minhas grandes vitórias na vida). Sou uma pessoa que não faz ideia do que é o mundo empresarial, que nunca o experimentou, que vem dizer coisas que talvez possam ter um aproveitamento qualquer, sobretudo por serem tão díspares daquilo que este mundo é.
Ricardo Araújo Pereira já fez muitas coisas e desempenhou diferentes personagens, algumas bem conhecidas do público. Mas, e se fosse CEO de uma empresa como a Sonae?
[RAP] Tive um pequeno calafrio só de pensar que às 8 horas da manhã tinha de cá estar, que tinha de ver relatórios e papéis. Tudo isso são coisas que estão tão distantes de mim que não me imaginava nesse papel.
Então, onde é que entra o humor nas empresas?
[RAP] Tem tudo a ver com a forma como olhamos para as coisas. É isso que o humor faz. É ver o que as coisas são, ver o que as coisas parecem e ver o que ninguém vê. Às vezes, é preciso fazer o esforço para ver diferente.
Na cultura das empresas, como é que a criatividade e esta forma diferente de ver o mundo encaixam?
[RAP] O mundo empresarial tem requisitos. Exige às pessoas responsabilidade, rigor, excelência - uma série de qualidades que constrangem - e, ao mesmo tempo, pede-lhes inovação, criatividade e originalidade, que são qualidades que implicam uma espécie de distensão e até podem entrar em conflito entre si, porque a postura empresarial e a postura para ter ideias que apelem à criatividade costumam ser, às vezes, antagónicas. E isso é o inverso do que o mundo do trabalho nos exige. Nós somos preparados para saber o que as coisas são, não para nos pormos a investigar o que é que elas parecem e o que é que elas podiam ser se a gente as virasse ao contrário.
Ricardo Araújo Pereira é hoje o responsável pelos momentos de boa disposição de domingo à noite, no Jornal das 8 da TVI. “Gente Que Não Sabe Estar” é o seu novo “negócio” humorístico, onde comenta a atualidade com um olhar mais divertido.