O eurodeputado Paulo Rangel foi um dos oradores do TEDx Matosinhos, que decorreu na Porto Business School, e que levou a palco mais de duas dezenas de personalidades de diferentes áreas, sob o mote “Next Step”. Perante uma plateia de mais de 300 pessoas, à intervenção de Paulo Rangel, eurodeputado português [e professor convidado da Porto Business School] não faltou o comentário à política europeia, que atravessa um período de mudança.
Paulo Rangel prefere o termo mundialização, em vez de globalização. Na opinião do eurodeputado português, os fenómenos políticos a que estamos a assistir com o Brexit, a questão Catalã ou o referendo na Escócia são “consequências naturais e prolongamentos da globalização”. “Há um aspeto que é evidente, por isso é que eu digo que isto não é anti-global. É que nenhum destes movimentos separatistas quer sair da União Europeia. Provavelmente teria de sair mas, se repararmos, todos aqueles que querem a independência, querem continuar na União Europeia (…) A partir do momento em que estão na União Europeia, a União Europeia pode representá-los até muito melhor e de forma mais eficaz, a nível global. Portanto, já não faz sentido estar a passar por Madrid para ir a Bruxelas, mais valia ir lá defender os interesses diretamente”, analisa, dando como exemplo o caso do Chipre, Luxemburgo, Eslovénia ou Lituânia, todos eles com representação direta na União Europeia.
“Se eu acho que trouxe desenvolvimentos positivos? Pessoalmente acho que são processos negativos”, continua, referindo que trarão consequências para Portugal, a vários níveis. “Vamos perder ali uma voz que nos poderia representar com força - e nós não temos força para isso - portanto este é um aspeto. Outro é porque eu acho que o projeto europeu compreende uma dimensão anglo-saxónica, quer dizer não há Europa sem Reino Unido, ninguém pensaria nisso e, portanto, ele está incompleto se o Reino Unido não estiver lá”, sustenta Paulo Rangel, referindo ainda que caso avance a independência da Catalunha, seria a primeira vez que o mapa da Península se alteraria depois de 1492 e “isso é uma mudança demasiado dramática e traumática para não ter impacto”.
Questionado sobre como é que a Europa vai lidar com estes fenómenos de autonomização, o docente da Porto Business School acredita que a Europa tem de saber lidar com as diferenças e perceber que o mundo é cada vez mais complexo. “Neste momento, a União Europeia está a dar um sinal muito forte de que não haverá uma integração europeia desses espaços, se eles saírem dos respetivos Estados, e que precisam de começar tudo do zero. Isto é um fator que acaba por dar força àqueles que não querem sair, e portanto é um fator positivo no sentido de evitar um novo problema (…) Se eles fossem integráveis na Europa, por exemplo sem o conflito com o Estado do qual saíram, isto seria perfeitamente acomodável, e já aconteceu com a Checoslováquia, embora esta não estivesse na União Europeia”, analisa.
“O gap de conhecimento vai ser o principal desafio”
À margem do TEDx Matosinhos, o docente da Porto Business School falou também sobre os principais desafios, a nível global, que não serão exclusivamente económicos. O gap de conhecimento vai ser uma das batalhas mais exigentes a travar nas sociedades atuais, acredita Paulo Rangel. “Não ter a ideia da prevalência dominadora do fator económico e perceber que hoje o gap social, nomeadamente nas sociedades ocidentais, é feito mais pela questão do conhecimento do que pela questão pura e simples do estatuto económico, embora ele continue a ter importância. Do meu ponto de vista, o fator crítico é resolver as assimetrias do conhecimento”, sustenta.
E o problema não está no acesso à informação, mas sim na gestão dessa informação, para não sermos “esmagados” e “engolidos” por ela. “Tudo passará pela questão do conhecimento e da forma como nós lidamos com ela. O conhecimento é diferente da informação e é essencial a capacidade crítica do uso da informação. Essa é a grande batalha que nós temos de travar. Porventura a batalha que temos de travar agora. (…) Isto vai evoluir com muito mais velocidade ainda, ou seja, daqui a 10 anos estaremos a falar em coisas que não conseguimos, sequer, representar mentalmente e ter hoje presente na nossa cabeça. Será um outro mundo”, antevê Paulo Rangel.
Fazer face a este gap de conhecimento e formar líderes de futuro exige das escolas de negócio a continuação da aposta na aprendizagem ao longo da vida. “A primeira coisa que é preciso ensinar nas escolas de gestão que querem formar líderes, é que o vetor económico é um fator muito importante na vida das pessoas, mas não é o único. Há outros. E isto também vale para os povos. Não é apenas por aí que se resolve o problema da liderança. Quem não tiver consciência deste lado cultural, civilizacional, evai perder esta batalha. E hoje, eu diria que aquilo que é decisivo é a informação e a formação para lidar com a informação”, conclui o eurodeputado português.