Na última década o setor do comércio - em particular o do retalho – tem vindo a mudar, de forma acelerada, os hábitos de consumo. A afirmação da Internet e o crescimento do comércio eletrónico são factos inegáveis e que estão a alterar modelos de negócio. Só em Portugal [e em 2016] as compras online chegaram aos 2,3 mil milhões de euros, num crescimento percentual acima da média europeia. Será o fim das lojas físicas?
Era uma vez um mundo em que todos nos deslocávamos a vários lugares para adquirir todo o tipo de produtos. Eram as compras no supermercado para encher o frigorífico ou a despensa lá de casa. O ir comprar roupa ou calçado a lojas. Estar em filas à porta de salas de espetáculos para comprar bilhetes para o concerto da nossa banda favorita. Ou então ir a uma agência de viagens para escolher uma viagem de sonho ou comprar um simples bilhete de avião para uma viagem de negócios a Londres ou Milão. Era uma vez. O mundo mudou.. Basta estarmos ligados à internet para podermos consumir um número significativo de produtos sem sairmos do conforto do sofá. Tudo ao alcance de um “click”. Simples e prático. Acima de tudo, rápido, barato e economizando tempo.
Não se poderia querer melhor - e mais - numa era em que segundos são dinheiro e minutos são a possibilidade de termos mais tempo para nós e aqueles que nos rodeiam. Empresas e consumidores parecem começar a entrar em sintonia. E com isso alteram-se as formas de fazer negócio. O que é bom, porque mudar em prol de um melhor serviço ao cliente é sempre positivo. Afinal, o objetivo de um negócio – seja ele qual for – é satisfazer o consumidor final.
E-commerce a crescer em Portugal
Mais de 70% da população em Portugal já navega e compra produtos na Internet. Os valores são impressionantes – 2,3 mil milhões de euros – superando em 17% o ano anterior, com um crescimento acima da média europeia, e prevendo-se que se atinjam os 3 mil milhões de euros em 2018. Mas de acordo com a ACEPI – Associação da Economia Digital - apenas metade deste valor corresponde a compras internas, com os portugueses a comprarem produtos em mercados externos, como a China ou o Reino Unido. Já a Europa, que consome online cerca de 500 mil milhões de euros não compra praticamente nada em Portugal. Uma explicação para estes resultados passa pela fraca aposta no digital dos negócios em Portugal.
Os gestores portugueses parecem não estar a seguir esta nova tendência de mercado. De acordo com a ACEPI, os “gestores deixam 80% das empresas fora da era digital”. No entanto a o mercado começa a crescer e acompanhando o crescimento do comércio eletrónico a nível mundial. E neste aspeto o setor do retalho é o que mais tem investido, apostando nas vendas online e no mobile. As marcas Continente e Worten são das que mais se destacam a nível nacional.
O papel dos consumidores está a ser decisivo neste processo, com os portugueses cada vez mais predispostos a comprarem online. Um estudo recente da Capgemini - uma multinacional francesa de serviços de consultoria, tecnologia e outsourcing - para o setor do retalho (Digital Transformation Study – Retail & Consumer Packaged Goods 2017 Edition), refere que os consumidores admitem sentir cada vez menos valor e prazer na experiência da compra física. Preferem usar tecnologia na interação com as lojas ao longo de todo o processo de aquisição de um produto. E este sentimento dos consumidores tende a ganhar mais força e as empresas a terem que reestruturar os seus modelos de negócio.
Como refere Pedro Barbosa, diretor do programa Ecommerce and Mobile Strategy, “novos desafios aparecerão com a expansão do comércio eletrónico na indústria de transformação e no retalho, por exemplo, cujos supply chain terão de se readaptar rapidamente para sobreviver no médio e longo prazo”.
Já sobre o futuro do comércio eletrónico, Pedro Barbosa assume que “o difícil é imaginar onde ele não será tão relevante, porque estamos ainda na primeira metade da revolução digital”.