Eis que um dia, há umas semanas, acordámos e, sim, fomos disrompidos; e, sim, acordámos num mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo.
Nós os que ensinamos ou estudamos em Escolas de Negócios sabemos que o mais relevante para um líder no mundo atual em que vivemos é aceitar e reconhecer que o futuro é incerto e imprevisível. Neste contexto, dizíamos que as empresas deveriam ser ambivalentes. Isto é, uma parte da estratégia deve estar vocacionada para o desenvolvimento do modelo de negócio atual, tirando o máximo partido do mercado atual. Uma outra parte da estratégia deve focar-se na inovação, explorar novos modelos de negócio, isto é, novos mercados, novas propostas de valor, novas formas de produção, a digitalização dos negócios, as novas cadeias de abastecimento.
Dizíamos que deveríamos antecipar a disrupção. E que esta poderia chegar de uma pequena startup e “disromper” a mais estável das incumbentes.
Dizíamos também que o futuro residiria na tecnologia e que as revoluções tecnológicas em curso iriam transformar o mundo num lugar melhor. Para antecipar a mudança, preparámos as pessoas e as empresas com as competências e os recursos necessários. Para questionar, desafiar o status quo, testar suposições, repensar oportunidades e redefinir metas.
Mas eis que um dia, há umas semanas, acordámos e, sim, fomos disrompidos; e, sim, acordámos num mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo. O futuro teria chegado, então? O tal para o qual nós tanto nos preparámos, investigámos, desenvolvemos e construímos… E demo-nos conta que, afinal, não foi a realidade virtual ou a inteligência artificial que causou disrupção. Não foram os modelos de negócio inovadores, as novas propostas de valor a abalar-nos. Fomos disrompidos, sim, mas não por uma tecnologia, não pelas mudanças climáticas, não por um desequilíbrio geopolítico ou pela alteração dos hábitos de consumo, não pelas novas formas de sociedade e as novas gerações, nem mesmo pelos conflitos, as migrações, as desigualdades e a falta de coesão crescente do nosso mundo. Fomos disrompidos por um vírus.
E chega o lockdown [confinamento]. E esta medida não fazia parte dos nossos modelos. Assim, não há mercado, porque não há consumidores; não há produtos porque as cadeias de abastecimento pararam; não há investimento porque não conhecemos o dia de amanhã. O nosso mundo, que sabíamos volátil, incerto, complexo e ambíguo, é afinal também desconhecido, mais desconhecido do que algum dia pensámos…
Apenas algo se mantém – as pessoas, os seus valores, as suas atitudes, capacidades e competências. E são estas pessoas que vão voltar a construir tudo de novo. Um outro futuro. Desconhecido, mas, ainda assim, um futuro.
[Artigo publicado originalmente no Dinheiro Vivo, a 07.04.2020.]
Em PBS Experts damos voz aos nossos especialistas para que sejam eles a desenhar o caminho do futuro.