A pandemia da COVID-19 gerou uma forte contração na economia portuguesa em 2020 de acordo com o Instituto Nacional de Estatística, com uma quebra de 7,6% no PIB e segundo a projeção do Banco de Portugal uma quebra de 2,3% na formação bruta de capital fixo, indicador que mede o nível de investimento público e privado.
A União Europeia dotou-se de um pacote de orçamento e recuperação de 1,8 biliões de euros para ajudar a Europa a recuperar dos efeitos económicos adversos causados pela atual pandemia e lançar as bases para uma Europa moderna e mais sustentável: “Next Generation EU”.
Portugal partindo da “Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica 2020-2030”, documento elaborado pelo Prof. António Costa Silva, apresentou um plano à Comissão Europeia com vista à utilização dos fundos do Plano de Recuperação Europeu, definindo prioridades de investimento do país para a retoma da economia, estruturadas em três dimensões:
Resiliência, Transição Climática e Transição Digital.
O Quadro Financeiro Plurianual (QFP) 2021-2027 atribui a Portugal um total de 29,8 mil milhões de euros, aos quais acrescem fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), com cerca de 12,9 mil milhões de euros em subvenções e ainda com a possibilidade de atribuição de cerca de 15,7 mil milhões de euros na modalidade de empréstimos.
A breve prazo irá ser aprovada a primeira tranche do pacote de orçamento e recuperação para Portugal, que visa reduzir as vulnerabilidades sociais, alavancar o potencial produtivo, a competitividade e coesão territorial, a mobilidade sustentável, a descarbonização e economia circular, a eficiência energética e renováveis, a escola digital, as empresas 4.0 e a transição digital na administração pública.
Entre este conjunto de prioridades, os organismos do Estado e as empresas terão recursos financeiros adicionais para acelerar a transformação digital rumo a organizações mais competitivas, eficientes e focadas na experiência do cliente.
Nesta vertente será essencial, garantir que qualificamos os investimentos e gerimos o portefólio estratégico de projetos transformadores com foco na entrega de valor, um mix entre projetos de execução e retorno rápido (até 3 meses) e projetos estruturais, com execução e entrega incremental de valor (até 1 ano).
Os profissionais de gestão de projetos precisam de abraçar novas ideias e reinventar as próprias opções organizacionais, práticas e instrumentos de suporte à decisão para endereçar modelos mais dinâmicos de gestão de projetos, e capitalizar a evolução das tecnologias, sistemas de informação e a nova economia de dados, como facilitadores de maior transparência e compreensão na gestão do ciclo de projeto.
De acordo com a Gartner, 80% das tarefas de gestão de projetos serão eliminadas até 2030 à medida que cresce a adoção de soluções de inteligência artificial, realidade virtual, aprendizagem máquina, ferramentas de inteligência analítica e a respetiva integração com plataformas digitais de comunicação (ex. Teams, Slack) e ferramentas ágeis e amigáveis de gestão de projetos (ex. Jira, Trello).
Tarefas tradicionais de gestão de projeto, como a compilação de dados (ex. registo do tempo afeto a projeto), produção de relatórios de progresso e rastreabilidade, podem ser mais automatizadas, reduzindo erros e melhorando a qualidade das decisões, e o próprio desenvolvimento de assistentes virtuais aplicados à gestão de projetos contribuírem para melhorar a experiência ao cliente.
A gestão de topo e líderes de oficinas de gestão de projetos corporativas (EPMO) ou de execução estratégica (SRO), num ecossistema de projeto cada vez mais distribuído com teletrabalho das equipas e desmaterialização dos processos de negócio, e mais colaborativo com entrega contínua aplicando MVPs (Mínimo Produto Viável, antes de escalar a entrega da solução), vão ter que acelerar a adoção de tecnologias que garantam robustez na transição para práticas de projeto mais adaptáveis e dinâmicas.
Tal como em outras comunidades, também é essencial estimular a reciclagem e gestão de talento, com recrutamento de cientistas e engenheiros de dados, matemáticos, estatísticos e engenheiros de software, cada vez mais imprescindíveis para reinventar e construir a oficina de gestão de projetos de geração digital.
Cada vez mais cuidar das emoções, resiliência, empatia, análise crítica do contexto, saber questionar, escuta ativa, e adaptabilidade serão competências distintivas para liderar a execução da nova vaga de portefólios de projetos de transformação de matriz digital e garantir com maior previsibilidade o retorno de valor destes projetos num novo mundo, que se apresenta frágil, ansioso, não linear e muitas vezes incompreensível.
Acresce uma estratégia de gestão da mudança assertiva, que estimule atores chave (ex. líderes de negócio, compras, IT) a catalisar o conceito de serviço de gestão de projetos (Project Management as a Service) como acelerador das iniciativas de modernização da administração pública e de aumento da competitividade no mercado global das empresas portuguesas a curto e médio prazo.