Preparada para ser lançada em 2020, a moeda virtual LIBRA, apresentada por gigantes como o Facebook ou a Farfetch, virá revolucionar o sistema financeiro e fazer concorrência ao sistema bancário atual. Mas que riscos traz este sistema? E como podem as empresas e os consumidores preparar-se para lidar com ele?
A Conferência "LIBRA: Consequências, Oportunidades e Ameaças", o primeiro debate público em Portugal, e um dos primeiros no mundo, a abordar a LIBRA, a nova moeda virtual, lançada pelo Facebook e um conjunto de 28 entidades onde se contam o Facebook, a Visa, o Spotify ou a Farfetch, que vai entrar em vigor em 2020 e promete revolucionar o sistema de pagamentos eletrónicos.
A conferência, promovida pelo Center for Business Innovation da Porto Business School, teve lugar na passada terça-feira, dia 2 de julho e reuniu, em debate, especialistas das áreas das áreas de economia, digital e tecnologia. Ramon O’Callaghan, dean da Porto Business School, abriu o debate com uma questão - “será a LIBRA a validação das opiniões dos que têm defendido que a moeda virtual é o futuro do sistema financeiro?” - afirmando que esta inovação poderá trazer para o futuro dos utilizadores da Internet, empresas, bancos e para o sistema financeiro, em geral.
“Acredito que este é um daqueles projetos que pode realmente mudar o mundo”, defendeu Cipriano Sousa, CTO da Farfetch, justificando que, para esta empresa, a aposta nesta inovação os mantém na vanguarda, “a fazer o que nunca foi feito”. “Existem imensos desafios atualmente associados a pagamentos. A segurança é, se calhar, o mais óbvio, mas não é o único. As taxas são outro: se eu quiser fazer uma transação de dois euros, pago um euro em taxas, porque os bancos assim decidiram”, acrescenta.
O CTO da Farfetch acredita que o sistema de pagamentos “parou no tempo e está preso a instituições um pouco lentas e conservadoras” e, na sua opinião, a estrutura de pagamentos atual “não dá resposta aos novos desafios”. Para contornar esta questão, surge a LIBRA, cujo principal objetivo é permitir transações financeiras seguras, sem necessidade de cartões bancários físicos, transações essas que se querem “globais, rápidas e low cost”.
Os efeitos da LIBRA
A nova moeda virtual não gera, porém, consenso. Além de Cipriano Sousa, participaram no debate Filipe Castro, CIO da UTRUST; Gustavo Cunha, Economista, Investidor e Empreendedor da Infomoney; Pedro Pinheiro, Professor Convidado da Porto Business School, e João Duque, Professor do ISEG e Professor convidado da Porto Business School, e as opiniões divergiram quanto aos efeitos que a LIBRA virá despoletar. De referir, o alerta do Banco de Compensações Internacionais, afirmando que “em certos contextos, grandes companhias tecnológicas têm o potencial de se estabelecer rapidamente como instituições financeiras de relevo”, referindo-se não apenas o caso do Facebook e da LIBRA, mas a outras empresas e criptomoedas.
Para o docente da Porto Business School, Pedro Pinheiro, o anúncio da LIBRA marcou um ponto de viragem “no movimento das criptomoeadas que, ao longo dos últimos anos, tem sido um pouco marginal”: “A LIBRA vem conferir alguma viabilidade a um modelo de moeda alternativa, ainda que os impactos, a curto prazo, possam não atingir o que a imprensa tem previsto”. Quanto ao receio de um abalo demasiado intenso ao sistema financeiro, o especialista chama a atenção para o facto de os impostos “continuarem a ser pagos na moeda local, e enquanto pesarem 50%, 60% ou 70% das economias, não vai haver LIBRA que pegue de uma forma maciça”.
Cipriano Sousa corrobora esta ideia, concluindo: “Ainda não há, hoje em dia, nenhuma moeda verdadeiramente global”. A LIBRA surgirá, então, como uma alternativa, uma moeda estável, que terá como back-up dinheiro real, em moeda real, e que vai ser usada e aceite legalmente, sem taxas ou com taxas muito baixas”.