O perfil da força de trabalho está a mudar. Assistimos à destruição de empregos tradicionais, cujas tarefas podem ser automatizadas ou otimizadas, enquanto surgem todos os dias novos empregos, especialmente associados à tecnologia e à transição ecológica.
O Future of Jobs Report 2023 aponta algumas tendências e explicações esclarecedoras. Por exemplo, estima-se que durante os próximos cinco anos a taxa de rotação estrutural do mercado de trabalho seja de cerca de 23%, representando a proporção dos empregos impactados (i.e. destruídos e criados) face ao total de empregos inicial. O mesmo relatório identifica três grandes drivers para estas alterações: a perspetiva económica negativa a nível global; o papel ambivalente do desenvolvimento tecnológico na criação e destruição de empregos; e, por fim, a transição sustentável dos negócios e das organizações.
Já o State of the Profession 2022 identifica uma série de outras tendências reveladoras. Entre 2016 e 2022, a proporção de CEOs que considera a Sustentabilidade uma prioridade quase duplicou, passando de 35% para 60%, sendo que 74% das organizações auscultadas aumentaram o orçamento dedicado às atividades relacionadas com a área. No mesmo período, 76% das grandes empresas reportaram terem aumentado o headcount dedicado à transição sustentável e às novas exigências de relato não financeiro (mais 18% do que na avaliação anterior) e 35% contrataram mais consultores externos.
Mas, afinal, em que consistem estas novas oportunidades “verdes” no mercado de trabalho?
A urgência de enfrentar as alterações climáticas está a dar origem a novos empregos que requerem competências especializadas, aplicáveis a setores de atividade tão diversos como a saúde, o turismo, a banca e os seguros, a moda, a alimentação, a tecnologia, a administração pública ou o ensino superior. Por sua vez, os domínios de conhecimento e especialização são extremamente vastos, o que significa que tais funções estão ao alcance de profissionais com os mais variados backgrounds.
Entre as áreas-chave do novo mercado de trabalho “verde”, destaque para o setor das energias renováveis, que desempenha um papel crucial na redução das emissões de carbono e na transição para uma infraestrutura energética mais sustentável e resiliente, e para a agricultura sustentável, que satisfaz a necessidade de práticas agrícolas inovadoras, respeitadoras do ambiente e eticamente responsáveis, em resposta ao aumento da procura de alimentos induzida pelo crescimento da população mundial.
Também a economia circular exige cada vez mais profissionais, envolvidos na gestão e reciclagem de resíduos e na conceção de produtos sustentáveis em vários setores. Em paralelo, o advento das tecnologias verdes tem criado um espetro alargado de novas oportunidades no campo da inovação destinada a reduzir o impacto ambiental, na mobilidade, na construção, ou em soluções de descarbonização.
Além disso, a análise de dados ambientais e operacionais, apoiada pela inteligência artificial, está a emergir como um domínio crítico para os governos e para os negócios, nomeadamente para apoiar a tomada de decisões, de forma a maximizar os impactos positivos a todos os níveis. À medida que as empresas dão ênfase crescente à responsabilidade ambiental e social, os analistas, especialistas e consultores de Sustentabilidade ganham cada vez mais destaque nas organizações.
Em conclusão, o panorama do emprego está a evoluir para responder aos desafios e oportunidades de um futuro que se quer verdadeiramente sustentável. A procura de competências especializadas no vasto domínio da Sustentabilidade sublinha esta jornada transformadora em direção a uma economia global mais ecológica e regenerativa.
Os governos, as organizações e as instituições de ensino precisam urgentemente de rever e converter os atuais modelos de negócio, criando novas funções e desenvolvendo novas áreas de conhecimento para assegurar a transição sustentável em tempo útil. Neste contexto, os profissionais que hoje obtenham as competências certas, seja ao nível da formação de base, seja através de programas de especialização como o Executive Master in Sustainability Management, estarão mais bem preparados para contribuir de forma relevante para uma coexistência mais harmoniosa entre a Humanidade e o ecossistema planetário.
E o leitor? Já alguma vez pensou em tornar a sua carreira mais “verde”?
Artigo de João Dias da Silva, Co-diretor do Executive Master in Sustainability Management, Associate Partner for Sustainability & ESG, Crowe Portugal.
Publicado originalmente no Observador.