IT Management na Saúde: tecnologia emergente vai ser muito importante
As Tecnologias de Informação têm assumido um papel de relevância no setor da saúde, agilizando processos de partilha de informação, com “data” de apoio à gestão clínica e ao tratamento e facilitando a relação entre profissionais de saúde e utentes. É um admirável novo mundo onde a Robótica e a Inteligência Artificial ganham cada vez mais relevância. António Carvalho Brito [ACB], diretor da Pós-Graduação em IT Management da Porto Business School e professor na Pós-Graduação em Gestão e Direção de Serviços de Saúde falou-nos do estado atual das novas tecnologias na saúde e do impacto destas no futuro do setor.
Como é que analisa atualmente o setor da saúde no que toca à Gestão das Tecnologias de Informação?
[ACB] De uma forma geral, e dentro dos hospitais, têm evoluído [as Tecnologias de Informação] de uma forma positiva, em particular no Processo Clínico Eletrónico que é, ao fim e ao cabo, um sistema que recolhe toda a informação dos utentes e que permite que os profissionais de saúde possam partilhar essa informação e tê-la sempre presente quando é necessária.
Há sempre alguma dificuldade entre os hospitais - a interoperabilidade - porque há muitos subsistemas, desde as análises clínicas à radiologia ou aos cuidados intensivos e cardiologia, que têm, muitas vezes, aplicações próprias. Há protocolos que facilitam essa interoperabilidade, mas a ideia é concentrar toda a informação num local único. Acho que dentro dos hospitais, com melhor ou pior grau de atualização, as coisas vão sendo resolvidas.
O problema surge muitas vezes quando se pretende comunicar entre instituições hospitalares, algo muito importante, hoje em dia. Daí que o objetivo do Ministério da Saúde - através dos serviços partilhados - tem vindo a tratar esse tema através da Plataforma de Dados de Saúde e que procura essa interoperabilidade entre os hospitais públicos.
É um projeto muito válido, que foi implementado e está a funcionar. Isso implica que, quando um doente aqui do Porto se dirige a uma urgência no Algarve, os profissionais de saúde tenham acesso aos dados que estão no processo do doente. E isso já é muito positivo. O grande inconveniente é que só liga as instituições públicas. Está planeado o projeto alargar-se também às instituições privadas, o que coloca novos desafios, porque as aplicações são distintas. Na minha opinião, deve fazer-se algo semelhante ao que se fez nas finanças, que é forçar as instituições a fornecer informação em maior formato e, dessa forma, conseguir congregar toda a informação que é gerada nas várias instituições hospitalares. Creio que o caminho é esse.
Mas isso implica que se partilhem dados sobre os utentes e que entram na esfera da privacidade. Quem terá acesso a esses dados?
[ACB] Isso é um problema que preocupa cada vez mais as instituições de saúde, até por causa de questões como a cibersegurança, a confidencialidade e privacidade da informação. Com este novo regulamento vai ser mais difícil ter-se acesso a dados. O utente tem de dar autorização expressa e tem de ser clarificado quanto ao tipo de utilização dessa informação.
Por exemplo, a informação está confinada a um tratamento específico. Seria grave uma instituição de saúde partilhar a informação com uma seguradora, até porque está completamente vedado. Há classificação de dados pessoais e sensíveis que não podem ser facilmente transferidos. Aliás, as multas são muito elevadas, o que leva a que todos tenham muito atenção e não queiram prevaricar nesse sentido.
Ainda há muita coisa a mudar, não só na encriptação de dados e melhoria dos sistemas, mas também na cultura dos profissionais de saúde – o facultar das passwords é um exemplo – que creio que tenderá a melhorar e a proteger a privacidade dos utentes.
O investimento em Tecnologias de Informação, no setor da saúde é suficiente ou deveria ser mais elevado?
[ACB] O orçamento para a saúde, creio, ronda os oito mil milhões de euros. É um orçamento elevado, como é evidente, mas possivelmente, com um aumento do investimento nas tecnologias de informação [costuma ser na ordem dos 3% do orçamento, pelo menos, nos hospitais públicos] podemos aumentar a produtividade e reduzir custos em outras áreas e até no orçamento global. Algo que, provavelmente, seria muito positivo.
No futuro, qual será o impacto das novas tecnologias e das Tecnologias de Informação, no setor da saúde?
[ACB] O potencial é muito grande porque as Tecnologias de Informação têm evoluído muito. Dentro dos hospitais vai haver muita utilização de Robótica, da Internet of Things, ou seja, os aparelhos vão ficar ligados à Internet e vão comunicar entre si, o que vai facilitar muito a recolha de informação.
Há também a questão da Inteligência Artificial, do Big Data, do Business Analytics e do Business Intelligence, que também são áreas muito promissoras. Já há várias tentativas, algumas com sucesso, como é o caso do Watson da IBM, que é um sistema de apoio ao diagnóstico e ao tratamento do cancro, em vigor nos Estados Unidos, e que usa mecanismos de Inteligência Artificial para apoiar o médico no seu diagnóstico e tratamento. Consegue [a aplicação Watson] ler oito mil artigos por dia, processá-los e criar uma base de dados com o histórico do doente, o que ajuda o profissional de saúde a tomar as melhores decisões. Não digo que substitua totalmente um clínico, mas fornece-lhe informação relevante. Também temos casos em Portugal, como o da plataforma HVital que a cada minuto analisa mais de 300 milhões de registos hospitalares, 24 horas por dia.
Também há uma tecnologia emergente, que é a da realidade aumentada e a realidade virtual que, para a formação dos clínicos e mesmo para a questão da simulação das operações, vai ser muito importante.
E a melhoria dos sistemas de informação, que ainda têm muito para evoluir, principalmente ao nível da interoperabilidade e da facilidade de utilização - algo que ocupa muito tempo aos clínicos com a introdução de dados. Por exemplo, em radiologia já se fazem os relatórios através da voz, que é transcrita automaticamente. Com o tempo, acredito que esta será uma realidade nas outras áreas da saúde.
Fora do hospital penso que também existe muito potencial, com a utilização de sensores na roupa ou no corpo ou até de agentes inteligentes que podem circular na corrente sanguínea e estar constantemente a monitorizar o que se está a passar, permitindo ao médico acompanhar o paciente em tempo real, perceber se a situação se agravou ou não e até interagir com o paciente.
E hoje, com as várias tecnologias disponíveis, estão sempre a surgir novas aplicações na área da saúde. Creio que mais se continuará a fazer, seja no apoio ao doente ou na recolha de informação. Até a comunicação através das redes sociais, com partilha de informação entre pessoas portadoras da mesma doença, pode ser muito útil. O potencial é muito grande, em termos gerais.
As Tecnologias de Informação já estão a ter impacto em toda a sociedade e, no setor da saúde em particular, vão ter muito impacto. As pessoas vão passar mais tempo fora dos hospitais e ter menos custos. A sua qualidade de vida vai melhorar, não tenho dúvidas disso. E os clínicos vão passar a ter mais tempo disponível para os pacientes. Melhoram-se os serviços e, igualmente, diminuem-se os custos para o Estado. No fundo, a Gestão de TIs traz benefícios para todos, não só ao nível de conforto, mas também de redução de custos.