Em 2020, mais de 35% das competências que hoje são consideradas importantes no mundo do trabalho vão mudar. Serão muitas as transformações e as adaptações. O papel da liderança será fundamental no processo de mudança, esperando-se que seja pró-ativa na melhoria das qualificações e formação das pessoas.
Nos próximos anos, fruto da quarta revolução industrial e a a afirmação de novas tecnologias como a a inteligência artificial ou a robótica avançada, a forma como vivemos e trabalhamos vai sofrer transformações significativas. E a acompanhar essa mudança estarão novas tendências no mercado de trabalho, com postos de trabalho a desaparecerem e muitos outros a nascerem.
De acordo com o relatório “The Future of Jobs and Skills”, publicado em 2016 pelo World Economic Forum, entre 2015 e 2020, serão 5.1 milhões de empregos a ser afetados por estas mudanças. Prevê-se que cerca de 7.1 milhões de empregos desapareçam [sendo que 2/3 serão administrativos] e se criem 2 milhões de novos empregos, com principal incidência nas áreas da computação e engenharias, mas onde as profissões de "contacto", onde as caraterísticas humanas são fundamentais.
O mesmo relatório refere ainda que perante as novas tecnologias e formas de trabalho, as pessoas terão de se tornar mais criativas para acompanhar as mudanças no mercado de trabalho e aponta as 10 competências de trabalho essenciais em 2020:
- Resolução de problemas complexos;
- Pensamento crítico;
- Criatividade;
- Gestão de pessoas;
- Coordenar-se com outros;
- Inteligência Emocional;
- Tomada de decisão e discernimento;
- Orientação para o serviço;
- Negociação;
- Flexibilidade cognitiva.
E, de acordo com o relatório do World Economic Forum, a Inteligência Emocional – que nem constava na lista de 2015 – vai tornar-se numa das principais competências necessárias a todos.
A propósito da importância crescente da Inteligência Emocional e do papel que esta pode ter no mercado de trabalho, a Porto Business School organizou, no passado dia 27 de Maio, uma Master Class sob o tema “A Inteligência Emocional como fator-chave para prever o desempenho humano e potencial de desenvolvimento”.
Conduzida por Maria Conceição Serra, fundadora da P4S – People For Success e especialista no desenvolvimento de pessoas e organizações com recurso à psicologia psicométrica, a sessão explorou a importância das emoções e o seu papel no equilíbrio do ser humano na sua vida pessoal e profissional e da forma como as decisões devem ser tomadas, sendo que a Inteligência Emocional é responsável por 27% a 45% do sucesso.
Inteligência Emocional e Liderança
Para Maria Conceição Serra, a Inteligência Emocional pode ser definida como “um conjunto de habilidades emocionais e sociais que influenciam a forma como nos percecionamos e como nos expressamos. Como nós lidamos com desafios sociais e usamos esta informação emocional de forma efetiva. É um equilíbrio entre a razão e a emoção”.
A Inteligência Emocional explora áreas como as da tomada de decisão, as relações interpessoais ou a gestão de stress. Como tal tem impacto no mundo da gestão e “está muito indexada à liderança”, refere Maria Conceição Serra. Isto porque “quando se trabalha em equipa, trabalha-se com pessoas e é preciso perceber e saber ouvir os outros. Isso implica gerir emoções. Saber como motivar. A Inteligência Emocional ajuda a desenvolver pessoas e ideias. É muito humana”.
E nesta fase de transição no mundo do trabalho as mudanças são inevitáveis. “Há pessoas que têm uma tendência natural para a mudança. Outras não. Mas isso aprende-se”, salienta Maria Conceição Serra.
Sobre a importância da Inteligência Emocional em Portugal, Maria Conceição Serra revela que “em Portugal começa a haver algum interesse mas ainda fico muito longe do que seria expectável. Em outros países é quase um processo normal de desenvolvimento em determinada fase da carreira. Não só através das skills associadas à Inteligência Emocional, mas outras ligadas à liderança como um processo natural. Em Portugal há algumas empresas que já o fazem. Mas ainda há muitos casos em que temos líderes que são bons tecnicamente mas depois têm inúmeros problemas em gerir e motivar equipas”. E afirma que no mundo da gestão “ainda há muito a fazer ao nível da motivação.
E para se tomarem boas decisões, Maria Serra aconselha os seguintes passos, retirados do mais recente livro de Steven Stein, “The EQ Leader: Things to Think About”:
- Preste atenção às suas emoções e pratique-as, percebendo se são positivas ou negativas;
- Assim que perceba que está a receber emoções positivas ou negativas numa situação, foque-se nesses sentimentos. Deixe a sua mente seguir a emoção e veja que pensamentos são acionados. Tente não lutar contra a emoção, faça o seu melhor e compreenda-a;
- Quando tiver uma ideia do pensamento ligado à emoção volte à decisão que tem em mãos.
Depois pergunte-se as seguintes questões acerca dos seus pensamentos:
- A minha resposta emocional foi razoável, tendo em conta os meus pensamentos?
- Quão importantes são esses pensamentos nesta decisão?
- Estou a exagerar na importância atribuída a alguns medos do passado, talvez em situações semelhantes?
- Existem mais peças de informação que preciso de considerar para esta decisão?
- Estou a ter um bom ou mau feeling acerca da decisão que estou prestes a tomar?