Quando design e tecnologia se cruzam com a prática diária da saúde, podemos perceber qual a verdadeira natureza dos problemas e procurar soluções centradas no paciente.
Esta abordagem de inovação, centrada nas pessoas (Human-Centered) e que coloca o design e a tecnologia ao serviço do utilizador, foca-se, sobretudo, na compreensão da perspetiva da pessoa que experiencia um problema, das suas necessidades e na forma como a solução que foi concebida transforma a vida do utilizador, eficazmente.
No passado, a prática comum era a de desenvolver uma ideia com base num pressuposto, colocá-la em prática e aguardar que os consumidores a utilizassem. Contudo, essa abordagem coloca o consumidor em segundo plano.
No último webinar Intersections, uma iniciativa da Porto Business School no âmbito do Open4Community, partilhámos um exemplo de como a Inovação pode interconectar-se com o setor da saúde e com a prática clínica diária, permitindo desenvolver soluções que podem melhorar a prática clínica e transformar a vida de clínicos e pacientes. Em destaque esteve a experiência resultante da relação entre a Fraunhoffer Portugal AICOS e o Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO-Porto).
A colaborar desde 2011 com o IPO-Porto, o centro Fraunhoffer Portugal AICOS tem desenvolvido investigação na área da dermatologia "mobile". Inicialmente através do projeto interno "Melanoma Detection", mas desde então, desta relação já resultaram em dois projetos com aplicação prática – o SkinLesionsRS e, mais recentemente, e ainda em curso, o projeto DERM.AI, desenvolvido em colaboração com os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde.
SkinLesionsRS: a aplicação que efetua rastreios de pele e avalia risco de melanoma
A SkinLesionsRS é uma aplicação que permite efetuar rastreios de pele e avaliar o risco de melanoma, de forma mais eficiente e com menor taxa de erro, através de imagens capturadas com o 'smartphone'. Desenvolvida de acordo com as normas da Direção-Geral de Saúde (DGS) para aquisição de imagens da pele para rastreio teledermatológico, a SkinLesionsRS permite melhorar o processo de referenciação para lesões de pele entre centros de saúde e departamentos de dermatologia dos hospitais.
Para além disso, a solução, "simples e intuitiva", foi otimizada para minimizar erros e facilitar a recolha e registo de dados dermatológicos relevantes, através de algoritmos de controlo de qualidade da imagem e captura automática.
Na origem deste projeto esteve a dificuldade associada ao processo de aquisição de imagens com qualidade e resolução suficiente, possíveis de serem utilizadas de forma efetiva no processo de triagem dermatológico.
DERM.AI: a aplicação que vai ajudar os médicos do SNS a diagnosticar o cancro da pele
O cancro da pele representa um terço dos cancro diagnosticados em Portugal. Esta aplicação propõe-se a facilitar o diagnóstico, acelerando o processo de tratamento.
DERM.AI é uma aplicação para smartphones (neste momento só disponível para Android) que pretende utilizar a Inteligência Artificial para potenciar o rastreio teledermatológico e acelerar o diagnóstico de cancro da pele. A inovação desta tecnologia é a melhoria da imagem captada pela câmara do telefone e a integração dos dados disponíveis no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Este é um projeto de I&D que se espere que esteja concluído em 2021 e que está a ser desenvolvido pelo centro de investigação Fraunhofer Portugal AICOS com a colaboração dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde.
O projeto DERM.AI vai permitir que um médico de medicina geral e familiar de uma unidade de saúde primária, perante a desconfiança de um sinal do utente tira uma fotografia com a aplicação DERM.AI, preenche as informações clínicas fundamentais e envia tudo para uma triagem, reduzindo os tempos de espera.
A Inteligência Artificial (IA) permite que a câmara do telefone detete automaticamente o sinal e capte a imagem no momento em que esta se apresenta mais legível. A acrescentar a isto, a integração dos dados do Sistema Nacional de Saúde vai permitir à plataforma conhecer um leque mais abrangente de diagnósticos de cancro da pele já efetuados e, a partir dessas características, criar uma hierarquia nos casos que os dermatologistas têm por analisar, funcionando como um sistema de apoio à decisão, que prioritiza o nível de risco dos casos enviados para o serviço de dermatologia.