A União Europeia avalia anualmente o desempenho nas áreas da Investigação, Desenvolvimento e Inovação (ID&i) de diversos países a nível mundial. O resultado desta avaliação é publicado através do denominado European Innovation Scoreboard (EIS). São avaliados 27 indicadores que constituem os principais drivers de inovação das economias. Entre outros, este índice avalia o investimento público e privado em ID&i, parcerias academia/indústria, o contexto à inovação dos negócios - incluindo, por exemplo, infraestruturas digitais - e a educação/qualificação dos recursos humanos.
Trata-se de muita informação e informação muito relevante, nomeadamente para os decisores orientarem as suas políticas - conhecendo as fraquezas e as forças relativas dos seus ecossistemas de investigação e desenvolvimento -, acompanharem a evolução e identificarem áreas prioritárias para impulsionar o desempenho nestes domínios.
E o que apresenta de relevante para os portugueses o EIS 2020? Portugal surge, pela primeira vez, no grupo dos “strong innovators”, evoluindo do grupo “moderate innovators”, onde se encontrava até ao ano passado. Isto significa que conseguimos melhorar diversos indicadores e estamos agora perto da média europeia.
Mas não é apenas esta a boa notícia. Portugal surge também na posição cimeira no indicador “inovação nas pequenas e médias empresas”, à frente de países como a Finlândia, a Áustria e a Bélgica. Este é um facto bastante interessante: sabendo que o nosso tecido empresarial é constituído maioritariamente por PMEs, é notável que seja precisamente a este nível que a nossa economia se distingue positivamente das demais. É também de assinalar o que traduz especificamente este indicador: as PMEs estão a inovar nos produtos e nos processos. Portugal pontua muito bem, em particular, na inovação tecnológica em produtos e processos nas PMEs do setor industrial, e com tecnologia desenvolvida in-house.
Sabemos que, numa economia como a portuguesa, a única via para a nossa sobrevivência é o investimento em ciência e inovação. Diria até mais: nunca, como hoje, neste período único e de extrema dificuldade pelo qual passámos, pudemos reconhecer e ver com tanta evidência a importância que o conhecimento científico de vanguarda tem vindo a assumir nas decisões e na criação de valor, tanto no domínio das políticas públicas, como no setor privado.
Assim, agora que temos tanto dinheiro para investir em sede de recuperação desta crise, não podemos esperar coisa diferente dos nossos decisores políticos: que se mantenham neste trilho de desenvolvimento. Neste campo, seria de olhar igualmente para os indicadores onde pontuamos menos bem e aproveitar este financiamento adicional para os desenvolver. Entre esses, saliento um tema que me parece merecer reflexão adicional. Portugal, de acordo com o mesmo índice, pontua muito baixo no indicador “exportação de serviços intensivos em conhecimento”, ou seja, a nossa capacidade de exportar serviços de elevado valor acrescentado é muito baixa, o que significa igualmente que continuamos a não integrar as grandes cadeias de valor globais. Não podemos continuar a ser um país atrativo pelos baixos salários! Temos de captar investimento suportado na nossa capacidade de acrescentar valor, valor baseado na ciência, no conhecimento e nas nossas competências avançadas, e capturar esse valor para a nossa economia. Isto consegue-se com dois processos em simultâneo: 1) continuar a investir na ciência e inovação e 2) desenvolver competências técnicas e de gestão que permitam transformar a ciência e inovação em valor para Portugal e para os portugueses.
Este é o único caminho. Não nos desviemos dele!
[artigo publicado originalmente no jornal Dinheiro Vivo.]