“Há profissões que vão deixar de existir. Mas numa coisa as máquinas não vencem: a humanidade”
A propósito de mais uma Master Class para alunos das Pós-Graduações, Ricardo Monteiro, publicitário, docente da Porto Business School e ex-presidente global da Havas Worldwide e CEO da Havas Worldwide Ibero-America, falou da ética no mundo dos negócios, bons modelos e exemplos de liderança, bem como do futuro da empregabilidade. “Há profissões que vão deixar de existir”, afirmou. Mas numa coisa as máquinas não vencem: “humanidade”. Gerir e trabalhar com pessoas e emoções são os empregos do amanhã e, aqui, a “ética vai ser fundamental”.
Todos nós sabemos, de uma forma ou outra, que a Inteligência Artificial e a Robótica estão a evoluir de forma exponencial e, também, a ocupar o espaço do homem em muito setores de atividade, com o industrial à cabeça. Isto num espaço de tempo curto. Mas também se preparam para substituir várias profissões como as de gestão intermédia ou mesmo outras que, atualmente, são consideradas de prestígio, como as de cirurgião. O mundo, por outras palavras, está a mudar.
Citando um estudo da Universidade de Oxford, Ricardo Monteiro afirma que “47% de todos os trabalhos vão desaparecer daqui a 20 anos”. Um cenário assustador e que vai alterar todos os modelos sociais e económicos e que “ preocupa os líderes mundiais, que estão já a estudar formas de lidar com esta mudança social”.
Qual o papel das pessoas no futuro?
Segundo Ricardo Monteiro, no futuro teremos de “apostar nas pessoas e na liderança”. Ou seja, gerir pessoas e fazer com que elas sejam úteis em algo que as “máquinas” não são eficientes: as emoções. Para este publicitário e gestor, que liderou inúmeras equipas “nós, relativamente às máquinas, temos a capacidade para ver talento e nos darmos bem com as pessoas. Isso é uma vantagem”.
Para Ricardo Monteiro a liderança vai ser fundamental no futuro. Principalmente porque se vai focar “nas pessoas. Num mundo de máquinas vai ser muito importante ter gente que saiba ser humana e dar às pessoas o que a tecnologia não dá. E um bom líder vai querer estar rodeado de pessoas assim”.
De certa forma um Gestor deixará apenas de pensar em números e objetivos e passará a pensar mais no contributo humano. “Se formos capazes disto, as pessoas vão querer que trabalhemos para eles e com eles”, diz.
“Sabe, atualmente o mundo dos negócios em termos de ética não é o melhor exemplo. Em cada duas pessoas boas há dez más em práticas de ética. Mas isso vai ter que mudar. É inevitável. A liderança do futuro vai ter mesmo que mudar. Teremos que nos tornar mais humanos e mais éticos”.
A transição não será algo fácil, mas é inevitável. E para que corra da melhor forma é fundamental que haja uma boa liderança a todos os níveis, seja a nível económico ou político.
Ricardo Monteiro elenca os seguintes pontos como essenciais para uma boa liderança:
Liderança não é controlo
Se tentarem controlar as pessoas elas vão ficar “doentes”. É preciso saber ouvir e compreender as pessoas;
Liderança não é “ processos”
É o oposto. É um momento inspirador que é posto em prática;
Liderança não pode ser replicada
Não devemos imitar os outros. Copiar nunca é uma boa ideia. Para liderar é necessário encontrar/criar o nosso próprio estilo;
Liderança não é solitária
É sempre melhor se a partilharmos com os outros. Só assim temos as pessoas à nossa volta;
Liderança é gestão mas não é gestão
Uma metáfora: uma coisa é escalar uma escada e outra é encostar a escada na parede certa. Não até onde se escalou mas sim como se escalou;
Liderança é saber ouvir
Muitas vezes a sugestão certa vem de quem menos se espera. Saber ouvir os outros é fundamental;
Liderança é ser obsessivo
As pessoas acham que a melhor maneira de progredir na carreira é manter o status quo. Mas não. Devem ser obcecadas pela constante mudança;
Liderança é ter objetivos simples
Não perder tempo com coisas que não têm utilidade e nos fazem perder horas de trabalho. Há que nos focarmos no que realmente interessa;
Liderança é identificar talentos
Temos que ter a capacidade para ver talento e nos darmos bem com as pessoas. Se formos capazes disso elas vão querer que trabalhemos com eles e com eles;
Liderança é tomar decisões
É a capacidade para se decidir no momento e seguir em frente sejam grandes ou pequenas decisões. É isso que se espera de um líder;
Liderança é competitividade
Todas as empresas querem ser as maiores do mercado. A competição faz-nos melhores. Ser competitivo faz da empresa uma melhor empresa e mais apetecível para quem quer trabalhar connosco;
Liderança é lidar com a realidade
A realidade por vezes é uma coisa feia e temos que lidar com ela todos os dias. Um bom líder tem que tomar as melhores decisões possíveis independentemente de não serem as desejáveis;
Liderança é humildade
Há que saber aceitar a normalidade. As pessoas acreditam mais em nós quando somos humildes e damos o exemplo;
Liderança não é sobre nós
Liderar é saber o que os outros vêm em nós. Há que perguntar aos outros como somos e saber gerir isso. Saber como projetar a nossa imagem de forma a que os outros a entendam;
Liderança é ter ética
Estamos a lidar com pessoas, com a realidade e isso tem repercussões. O papel do líder é criar coisas boas, produtividade. Liderar pelo exemplo é a única forma de liderar e que fará as pessoas estarem connosco. Não se pode contratar alguém sabendo que se as vais despedir ao fim de meses. Perde-se a confiança. E um líder tem que ganhar confiança junto daqueles que o rodeiam.