“As empresas de maior maturidade na gestão de compras alcançam, anualmente, resultados na ordem dos 6% de poupança”. Quem o diz é Eduardo Santos, diretor do programa de Gestão de Compras da Porto Business School, para quem é “fundamental dispor de gestores especialistas […] que possam liderar os projetos de transformação e modernizar a função de gestor de compras”.
Todos crescemos, em geral, a ouvir os nossos pais e familiares mais próximos dizerem que devíamos poupar e apenas gastar dinheiro no que era verdadeiramente útil. Que o desperdício acabaria por prejudicar as nossas finanças. Tanto em adolescentes, como em adultos, nas nossas vidas familiares. Falamos de orçamentos. De compras. De evitar gastos desnecessários que “abalem” as nossas contas. No fundo, de fazer uma boa gestão de compras. As necessárias à gestão sustentável das nossas finanças.
E esta analogia também se aplica às empresas. Uma empresa para produzir tem de comprar todo o tipo de produtos ou serviços. Por outras palavras, comprar a terceiros bens que lhes permitam manter o seu negócio ativo e em crescimento. Comprar bem, de forma otimizada e de acordo com as necessidades reais de uma empresa, pode ser crucial para o equilíbrio financeiro de uma instituição.
Mas também a nível interno. Em particular nas grandes multinacionais, que detêm áreas de negócio distintas e que se tornam fornecedores internos. Ou das Universidades que, além da oferta formativa, estão associadas a vários institutos de investigação que promovem uma série quase infindável de serviços.
Isto leva-nos a concluir que o paradigma da gestão de compras se alterou nos últimos anos. Passou da “arte negocial” para “uma nova proposta de valor da função”, de elevada importância nas empresas. “A gestão de compras assume atualmente um papel muito relevante de estímulo à colaboração com outras áreas da empresa, como por exemplo clientes internos, conceção e desenvolvimento de produto, planeamento das operações e logística, e com parceiros da cadeia de abastecimento e integradores, na expetativa de ter um contributo substantivo na prossecução dos objetivos corporativos”, explica Eduardo Santos.
Desafios para o futuro
“Na gestão de compras as grandes tendências e desafios identificados para os próximos anos passam pela globalização do sourcing, gestão do risco nas cadeias de abastecimento, sustentabilidade e articulação de orientações horizontalmente na empresa, influenciando decisões de sourcing no upstream, com a participação de forma ativa em projetos de redução de custos, melhoria da qualidade e inovação”, refere o docente da Porto Business School.
“Por outro lado, é fundamental gerir o portefólio de categorias de compra, desenvolvendo estratégias por categorias de compras e planos de gestão dos fornecedores de médio prazo, coordenando a sua implementação e monitorizando a obtenção de poupanças/redução da despesa e o desenho de soluções comerciais que potenciem vantagens competitivas ao negócio, ganhos de eficiência e aumento do valor gerado nos produtos e serviços das empresas”, defende Eduardo Santos.
Poupanças na ordem dos 6%
De acordo com Eduardo Santos, “as empresas de maior maturidade na gestão de compras, alcançam anualmente resultados na ordem de 6% de poupanças com uma gestão proativa da despesa e otimização das estratégias, condições e termos de abastecimento de produtos, serviços, bens e equipamentos necessários para o funcionamento direto da cadeia de valor do negócio ou para suporte à sua operacionalização”.
“A maturidade de gestão de compras e abastecimento a nível nacional é mais elevada nos setores automóvel, grande distribuição/retalho, fabricantes de produtos de grande consumo e utilities, sendo que nos restantes setores os empresários estão cada vez mais sensíveis à necessidade de reformatar e melhorar a função, equiparando-a a funções de maior valor acrescentado ao negócio. Contudo, é necessário dinamizar e liderar projetos estruturantes de transformação e mudança, sendo fundamental dispor de gestores especialistas”, conclui.
Outro aspeto para o qual Eduardo Santos chama a atenção é o da necessidade da formação especializada: “da interação mantida com o tecido empresarial - e capitalização da experiência acumulada na pós-graduação de gestão de compras e abastecimento e do programa de gestão de compras da Porto Business School - verificamos que a comunidade de talentos nesta área é reduzida, o que resulta numa forte concorrência por parte das empresas para atrair os melhores profissionais e mais competentes. Ou seja, profissionais que possam liderar os projetos de transformação e modernizar a função, de forma a endereçar as novas fronteiras e mudanças em curso no ecossistema das compras".