Futuro: Casa "Girassol" auto-suficiente e controlada através do smartphone
E se pudesse ter uma casa autossustentável, que gira à procura do sol, a sua fonte de energia exclusiva? E controlar tudo através do smartphone? Parece ficção, mas é uma realidade cada vez mais próxima. O projeto “Casas em Movimento” é português, surgiu de uma parceria com a Universidade do Porto e tem despertado a atenção e o interesse da indústria e de institutos de investigação em todo o mundo. Ainda este ano, em Matosinhos, vai nascer mais um protótipo desta Casa Inteligente. E em 2018 está prevista a construção do primeiro resort solar do mundo, que usa a mesma tecnologia, desenvolvida em Portugal.
O tema da sustentabilidade está cada vez mais presente no nosso dia a dia e nas nossas vidas: naquilo que comemos, nos transportes que usamos, nas roupas que vestimos e até na casa onde moramos.
Imagine uma casa autossustentável, ecológica, que, tal como um girassol, gira de acordo com a exposição solar para produzir toda a energia consumida, e que permite, através do telemóvel, controlar o nível de exposição solar desejado, a adaptação dos espaços de acordo com as necessidades ao longo do dia e até escolher a vista que mais lhe agrada.
O projeto “Casas em Movimento” é um conceito de arquitetura viva, que integra inovação e sustentabilidade (tanto nos materiais usados como a cortiça e a madeira de origem portuguesa, como na eficiência energética através da produção de energia solar), que resulta de uma tecnologia portuguesa. Inovador, Auto-sustentável e Ecológico, o "Casas em Movimento" é um projeto pioneiro, com uma preocupação ambiental, em que tudo é feito em função da exposição solar.
A energia produzida pela Casas Em Movimento testada no Porto e registada pelo Laboratório Nacional de Energia e Geologia é de cerca de 25 mil kWh/ano, ou seja, cinco vezes superior ao consumo padrão de um T2. Além disso, esta produção é em muito superior às necessidades energéticas da casa e do respetivo movimento de rotação. O movimento de rotação diário de toda a casa e da pala é o equivalente ao consumo de 6 lâmpadas de 60 Watts ligadas durante uma hora.
O mecanismo de rotação tem por base um sistema elétrico e um algoritmo que, de acordo com a localização da casa, a orienta para maximizar a produção de energia. A rotação dos edifícios (até 180º) e as coberturas fotovoltaicas (com inclinação até 90º), criam sombras nas janelas durante o verão, expondo-as ao Sol no inverno e, por isso, permitem uma maior eficiência energética.
Como estas casas ecológicas e autossustentáveis produzem mais energia do que aquela que consumem, a energia pode ser utilizada para carregar o telemóvel ou computador em casa, na iluminação pública ou de outros edifícios, ou até para fazer o carregamento de viaturas elétricas. Um exemplo da “aplicação da economia circular, sendo a estrutura base construída em aço reciclado”, sustenta o mentor do projeto “Casas em Movimento”.
Casa Inteligente inaugurada em breve em Matosinhos
O projeto “Casas em Movimento” surgiu em 2008, no âmbito do projeto “Lidera” da Universidade do Porto, e deu origem a uma spin-off portuguesa fundada pelo investigador e arquiteto Manuel Vieira Lopes.
Desde então o conceito foi evoluindo, ao longo dos últimos anos, com a criação de dois protótipos, a primeira apresentada na Solar Decathlon 2012, em Madrid, e a segunda versão, apresentada em 2015, junto ao Edifício Transparente, no Porto. Mais recentemente, e no âmbito do processo de I&D, foi desenvolvido um módulo interior, capaz de rodar tal como a casa ou de ser manter fixo no interior da casa que roda, criando assim diferentes dinâmicas espaciais (ver vídeo), como adianta o autor do projeto, Manuel Vieira Lopes.
O desenvolvimento do projeto teve o apoio do anterior Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN), no valor de cerca de 800 mil euros, dos quais 60% a fundo perdido, sendo o restante valor a ser reembolsado garantido através de uma ronda de investimento bem-sucedida, após a qual passou a fazer parte da empresa o novo sócio, Andrea Bertoldi, CEO da AON Portugal, com uma entrada de 350 mil euros.
O objetivo, explica o arquiteto, passa pela conclusão do protótipo e pela criação de um “User Case” permanente. Já este ano vai ser inaugurada a Casa Inteligente de Matosinhos, que servirá de showroom durante pelo menos três anos e constituirá um “elemento fulcral na estratégia da empresa”, que realizará várias ações em conjunto com os parceiros do projeto, entre os quais a Câmara Municipal de Matosinhos.
Primeiro resort do mundo solar nasce em 2018
O segmento do turismo é uma das apostas da empresa portuguesa “Casas em Movimento” que prevê, num futuro próximo a construção de um segundo User Case, em escala real: o “Smart Urban Resort”. Será o primeiro resort do mundo que segue o sol e em ambiente urbano, adianta o CEO da empresa Manuel Vieira Lopes. O projeto, que será construído em 2018, e que conta com parcerias estratégicas já estabelecidas, funcionará como um showroom em grande escala.
“No segmento da habitação, a nossa estratégia passa por um processo de cross selling, dando a conhecer aos hóspedes do Smart Urban Resort a possibilidade de adquirirem outras soluções com a nossa tecnologia”, explica o fundador da empresa, adiantando que estão previstas ainda novas parcerias, sobretudo com Real Estate Developers, assim como a possibilidade de comercialização de estruturas inteligentes semelhantes ao resort por parte dos operadores turísticos.
O CEO da empresa adianta que a estratégia passa também pelo segmento das Smart Cities – segmento no qual conta com o apoio da ALTICE (Portugal Telecom) como parceiro - , dotando as cidades portuguesas com estruturas inteligentes inovadoras e amigas do ambiente (projeto smart Kiosk in Motion), e que possam ser aplicadas em locais como postos de turismo do futuro, espaços de coworking ou até como Laboratórios Vivos para a Inovação.
Tantos os quiosques inteligentes, como o Urban Resort terão como complemento às estruturas físicas, uma aplicação que permitirá controlar a orientação da casa, a iluminação e a temperatura (no caso do Resort), e ainda aceder a uma chave-virtual que permite fazer o check-in de entrada com uso do smartphone, explica Manuel Vieira Lopes.
A versatilidade da tecnologia “Sunflower System”, patenteada em 77 países, é, aliás, uma das mais-valias da tecnologia, pois permite ser adaptada quer em habitações, escritórios, estúdios de televisão ou showrooms.
O projeto português “Casas em Movimento” tem despertado a atenção e o interesse da indústria e de institutos de investigação em todo o mundo. A tecnologia foi apresentada no MIT, em Boston, em 2015, onde teve “uma receção muito positiva”, conta o mentor do projeto, e em 2016, na WebSummit, na PITCH competition entre as 32 startups portuguesas, e na qual a empresa “Casas em Movimento” firmou parcerias com empresas nacionais e internacionais, como a ALTICE (Portugal Telecom), Schneider, A4U, Metaloviana, players que podem acrescentar valor nas soluções das casas em movimento, como a conectividade, a automação, a construção ou a "internet of things".