Numa altura de particular turbulência económica, a recente subida de taxas de juro para níveis praticamente não vistos nos últimos 10 anos cria fatores adicionais, e diretos, de perturbação e incerteza para as empresa e particulares.
Indiretamente a subida das taxas de juro estabelece também novas e sérias restrições no plano das Finanças do Estado. Assim, a subida dos custos de financiamento do Estado repercute-se, posteriormente, numa maior dificuldade em promover políticas públicas expansionistas com recurso a novo endividamento ou a uma necessidade de adotar políticas contenção de despesas estatais. Tal implica, tipicamente, consequências mais restritivas e desafiantes sobre todo o tecido económico e maiores níveis de incerteza no plano empresarial. Em consequência, as empresas terão de controlar com um redobrado rigor todos os seus custos, nomeadamente os financeiros.
Para se entender melhor a implicação desta evolução recente, atente-se ao seguinte: de um valor mínimo próximo de -0.55% (em Dezembro de 2021) para uma das mais comuns taxas de referência para empréstimos, a Euribor a 3 Meses, observa-se, no inicio de Setembro de 2022, que esse valor já estava em 1.35%. Admitindo, como exemplo ilustrativo, que uma empresa teria uma taxa de juro variável indexada a essa referência e acrescida de 1%, isso significa que a taxa efetiva de juro dessa empresa passou de 0.45% (ie, a soma algébrica de -0.55%+1%), para 2.35% (ie, 1.35%+1%). Isso significa essa empresa terá multiplicado os custos financeiros com esse empréstimos por um fator superior a 5 !! Uma situação certamente dramática para muitas empresas, sobretudo as mais endividadas, e as que sejam mais afetadas por uma conjuntura económica que ase torna mais adversa.
Neste contexto, talvez nunca tenha sido tão importante para as empresas e particulares entenderem as consequências financeiras das suas decisões de investimento ou mesmo do seu funcionamento corrente, bem como a compreensão das características e complexidade dos instrumentos financeiros que poderão ajudar a enfrentar os novos desafios financeiros. Nesse sentido, torna-se essencial pensar as Finanças em quatro eixos fundamentais, a saber,
» Perceber a importância das taxas de juro e do risco nas decisões financeiras correntes, como sejam a gestão de recebimentos e pagamentos, a determinação do custo efetivo do recurso a crédito de fornecedores;
» Entender as formas mais adequadas de seleção de alternativas de financiamento (meios próprios, empréstimos bancários, obrigações, locação, factoring, confirming…) identificando todas as componentes relevantes de custo mas também atendendo a questões de sustentabilidade no médio ou longo prazo;
» Fazer um diagnóstico da situação financeira e rentabilidade de uma empresa e das suas tendências de evolução, identificando riscos e desafios de natureza tanto a nível económico como financeiro;
» Pensar políticas de diversificação ou renegociação de linhas e instrumentos de financiamento, entendendo nomeadamente as consequências de alterações de prazos de reembolso, períodos de carência, natureza das taxas de juro (fixa versus variável) assim como as respetivas implicações em termos de risco empresarial.
O curso de Finanças para Gestores não Financeiros abrange estes três pilares financeiros fundamentais e temos toda a segurança para afirmar que os participantes retirarão dessa formação um conjunto de aprendizagens que poderão verdadeiramente fazer a diferença e revelar-se como cruciais para assegurar que as suas decisões no âmbito financeiro sejam tomadas com o imprescindível cuidado, rigor e conhecimento que a atual conjuntura exige e ajudando assim a garantir a rentabilidade e sustentabilidade das atividades empresariais.
Artigo de Jorge Farinha, docente da Porto Business School e diretor do programa Finanças para Gestores não Financeiros.