Governos e empresas precisam, cada vez mais, de investir no desenvolvimento de uma cultura de experimentação comportamental - e algumas já estão a fazê-lo. As Ciências Comportamentais podem ajudar-nos neste caminho.
Mudar comportamentos é uma das chaves para melhorar a vida de colaboradores, consumidores e cidadãos. Separar e descartar corretamente os resíduos orgânicos, pagar as contas e as dívidas atempadamente, reduzir o desperdício alimentar, aumentar o consumo de vegetais, usar transportes sustentáveis, poupar, votar, vacinar-se e realizar o tratamento prescrito pelo médico, são exemplos de comportamentos críticos para a sociedade, para a qualidade de vida das pessoas e para o sucesso de empresas e Governos. Realizar experiências intencionais, éticas e controladas é uma forma eficaz de testar intervenções e políticas de mudança comportamental antes de implementá-las em escala.
Experimentar reduz riscos socioeconómicos e aumenta o conjunto de possibilidades de inovação.
Depois de mais de uma década a debater e a colaborar com executivos e policymakers, posso dizer que a tendência e os avanços são claros. No entanto, para além das questões éticas e metodológicas inerentes, existem barreiras causadas por um mal-entendido conceptual: os usos da palavra experimentar.
Um dos mais frequentes refere-se à ação de colocar em marcha o conhecido método de "tentativa e erro" - uma sequência de tentativas sem evidências relevantes para ver qual dará certo, provavelmente, depois de muitos erros e nalguns casos depois de muito tempo. O custo disso pode ser grande. Experimentar à sorte, sem evidências, para além dos riscos éticos, reduz muito as chances de qualquer tentativa dar certo, levando-nos, na maior parte das vezes, a uma utilização ineficiente dos recursos disponíveis. Não faz sentido não utilizarmos todo o conhecimento disponível produzido pelas Ciências Comportamentais - os custos de oportunidade são elevados. Investimentos importantes em investigação já foram realizados e, por isso, já temos em nossas mãos o conhecimento e as evidências suficientes para mudarmos comportamentos de modo mais eficiente e eficaz.
Outro uso possível da palavra "experimentar" refere-se à ação deliberada de testar diferentes alternativas baseadas em evidências científicas relevantes, avaliando-as de modo robusto e sistemático. A ideia é simples: (i) experimentar soluções diferentes baseadas em boas razões, (ii) avaliar os seus efeitos utilizando um conjunto amplo de métodos adequados ao problema e à realidade local, (iii) adaptá-las com base nos resultados, (iv) acompanhá-las e, quando necessário, (v) voltar a testar novas alternativas. Neste sentido, experimentar é uma atividade viável, desejável e fundamental para o desenvolvimento de intervenções e políticas comportamentais que levam a sério o contexto socioeconómico e cultural, e a arquitetura de decisão.
A cada quinze dias, trarei ao leitor exemplos de intervenções e políticas de mudança comportamental que deram certo, mas, também, aquelas que não tiveram sucesso. Trarei exemplos de utilização das Ciências Comportamentais no aumento de diversidade e inclusão nas empresas, na melhoria dos instrumentos anticorrupção, na diminuição da inadimplência e do endividamento, no aumento de doações para caridade, entre muitos outros exemplos com impacto social ligados às empresas e aos Governos. Serão também discutidas questões éticas e metodológicas fundamentais.
Portugal tem condições para tornar-se num país exemplar na utilização das Ciências Comportamentais: tem profissionais qualificados e um novo e impactante contexto empresarial voltado para a inovação. É preciso experimentarmos mais e melhor, com métodos adequados, evidências relevantes, profissionais qualificados e compromisso ético.
Artigo originalmente publicado no Dinheiro Vivo a 20.08.21