O digital faz parte do ADN da Estónia, pioneira nesta matéria e um exemplo a nível mundial, que não se limitou a disponibilizar as tecnologias ao serviço dos cidadãos. Na Estónia o digital é visto como um direito que todos devem e podem usar e o país tem a ambição de ser o primeiro país do mundo a adotar uma moeda nacional digital.
Com cerca 1,3 milhões de habitantes, a Estónia é um dos países mais avançados na área digital. Foi, aliás, um dos primeiros países a adotar estratégias com vista a uma utilização massiva nos serviços para a população, fruto de uma aposta do Governo e da relação de confiança e de transparência com os cidadãos.
Com 99% dos serviços online, os estonianos usam os meios digitais no dia a dia em diferentes setores – 99,8% das transações bancárias são feitas online, todos os residentes têm identificação eletrónica, o blockchain é usado desde 2012 e o acesso à Internet é considerado um direito social.
Aarne Seppel, jornalista e especialista em questões digitais, partilhou a sua experiência na conferência “Digital By Default, que decorreu a 21 de novembro, na Porto Business School e explicou como é que a Estónia se tornou líder digital. Nesta mudança, o setor da banca foi essencial, refere o jornalista, mas tudo começou essencialmente com as políticas do Governo. “Nós adotámos medidas acertadas há 17 anos”, afirmou, referindo a obrigatoriedade da utilização do cartão de identidade eletrónico.
“Os serviços têm de ser fáceis de usar, convenientes e rápidos. Se os serviços são ágeis, as pessoas percebem rapidamente a sua utilidade e vão adorar usá-los. Por exemplo, atualmente a entrega da declaração de impostos não demora mais de 3 minutos, mas há 10 anos era um processo muito complicado”, exemplifica o jornalista estoniano, reforçando a ideia de que a obrigatoriedade dos serviços públicos online “é uma alavanca para uma maior utilização por parte dos cidadãos”.
O digital faz parte do ADN da Estónia que colocou as tecnologias ao serviço dos cidadãos, sobretudo no setor público. Perseguindo o vetor estratégico do digital em todos os setores, a Estónia tem a ambição de ser o primeiro país do mundo a adotar uma moeda nacional digital.
A proposta para a adoção da “estcoin”, que funciona como as bitcoins, já foi apresentada pelo Governo e que, segundo a publicação The Next Web, com o lançamento desta moeda digital, a Estónia quer ser o primeiro país a criar um fundo de investimento digital apoiado pelo Governo, que teria uma oferta de moedas inicial (ICO), equivalente às ofertas públicas iniciais (IPO) que já existem nos mercados e permitem que as empresas sejam cotadas em bolsa.
Em junho deste ano, a Estónia que assumiu pela primeira vez a presidência rotativa do Conselho da União Europeia durante os próximos meses, anunciou como prioridades o reforço das políticas digitais a nível europeu, a segurança e a defesa. Entre as medidas a implementar estão planos digitais que vão desde a estrutura do mercado até às políticas de defesa. Jüri Ratas, o primeiro-ministro da Estónia, afirmou que o país tem a ambição que a livre circulação de dados seja aceite como uma quinta liberdade fundamental da União Europeia.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, reforçou também a importância da criação de um mercado único digital a nível do continente. "O digital faz parte do ADN do vosso país e precisa de passar a fazer parte do ADN europeu", sublinhou.