Empresários e gestores reuniram-se para refletir sobre os líderes do futuro. Procurou-se identificar os principais desafios que os líderes enfrentam e apurar as principais competências que distinguem um líder de um chefe.
Na conferência “Pensar no Futuro: O Desafio das Lideranças”, promovida pela CIP - Confederação Empresarial de Portugal - e pela Porto Business School no dia 16 de março, António Saraiva, Presidente da CIP, sublinhou que “estas iniciativas são importantes, pois estamos cada vez mais num mundo desafiante, num futuro desafiante”. A isto acrescentou que “temos de incorporar constantemente novas realidades, novas dimensões que ultimamente têm sido disruptivas. Como devemos participar e antecipar? Este é o desafio das lideranças.”
Margarida Pedrosa, docente da Porto Business School e fundadora da MBA Consultores, assumiu o papel de "igniter" do primeiro painel da manhã, que procurou responder à questão “Que competências devem ter os novos líderes e qual o seu papel perante os novos desafios?”
Este painel, moderado por Patrícia Teixeira Lopes, Associate Dean da Porto Business School, contou com Marco Galinha, CEO do Grupo Bel e do Global Media Group, António Amorim, Presidente e CEO da Corticeira Amorim, e Ana Salomé Martins, Executive Board Member e People and Development Director na Symington Family Estates.
Margarida Pedrosa questionou em que medida a personalidade do líder influencia as decisões e o rumo da organização e, neste sentido, destacou a necessidade de uma relação de confiança, enquanto promotora do sentimento de compromisso em relação à empresa. Acrescentou ainda que, uma relação de confiança pressupõe que as pessoas se sintam ouvidas. De acordo com um estudo desenvolvido pela norte-americana Gallup, apenas 3 em cada 10 afirmam que as chefias não os ouvem, o que significa que é preciso que as lideranças aprendam a ouvir.
Para Ana Salomé Martins, temos passado os últimos anos a falar de riscos e volatilidade, vivendo atualmente tempos de “incerteza total” e de profunda complexidade. Recordou ainda que podemos estar às portas de uma economia de guerra, tendo as empresas de lidar com a mudança de um “paradigma de abundância dos últimos anos para um paradigma de escassez, até de oportunidades”.
Pelo contexto atual de incerteza generalizada e pela antecipação de um futuro volátil, Ana Salomé Martins acredita que estamos a chegar a uma nova etapa de liderança muito mais interior e na qual a palavra “propósito” ganha valor.
Por sua vez, António Amorim, salienta que “o primeiro desafio é a capacidade de adaptação - dos próprios líderes e da sua organização - às alterações da conjuntura, sem perder de vista a orientação estratégica da empresa a médio e longo prazo" e acrescentou que a realidade “nunca vai voltar a ser como era antes da pandemia.
Talvez seja uma realidade incerta, mas a incerteza faz parte da realidade empresarial.
António Amorim alertou ainda para a necessidade de ver para além do propósito, pois a empresa que visa o lucro como único indicador é uma empresa que não vai inspirar colaboradores, clientes nem o mercado, que procura mais do que isso. António Amorim concluiu que, por isso, é importante pensar no “propósito para além do EBITDA”.
Marco Galinha, CEO do Grupo Bel e do Global Media Group, começou por salientar que “a seguir a uma crise pandémica global estamos a enfrentar uma guerra. Os líderes são muito importantes, mas é curioso como quando as lideranças são menos determinadas, o mundo é mais instável. É preciso determinação” e acrescentou que com determinação, resiliência e humildade os chefes podem passar a líderes”.
Neste contexto de guerra na Europa, Marco Galinha recordou ainda a importância dos meios de comunicação social, na medida em que “têm uma grande responsabilidade na paz”.
Perante a questão da igualdade de género e da multiculturalidade, António Amorim destacou a diversidade e a discriminação positiva das mulheres e Marco Galinha deu o exemplo do Jornal de Notícias e do Diário de Notícias que atualmente têm mulheres na direção, depois de mais de um século a serem chefiados por homens.
O painel “O que procuram os novos profissionais nas empresas?” contou com José Miguel Leonardo, CEO da Randstad Portugal, Ana Vicente, Head of People & Culture da Sonae Sierra e Cristina Azevedo, Diretora da Delegação do Porto da LHH|DBM, tendo a moderação ficado a cargo de Catarina Quintela, Diretora das Soluções Corporativas da Porto Business School.
Maria Antónia Cadilhe, Investigadora e Docente da Porto Business School, que assumiu o papel de "igniter", esclareceu que o conceito “novos profissionais” não está relacionado com a idade, pois o “talento não tem idade” e acrescentou que os mais velhos não são menos produtivos nem menos inovadores. E, neste sentido, o talento tem idades, nacionalidades, percursos, interesses e expectativas, mas não tem género.
Maria Antónia Cadilhe sublinhou que vamos trabalhar até mais tarde e, nesta perspetiva, valorizamos e procuramos coisas diferentes, como por exemplo, o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional ou o sentido de propósito. Na verdade, “gostamos de mudar, não gostamos de ser mudados”.
Quanto a considerar a idade um fator determinante na diferenciação dos desejos e objetivos, Cristina Azevedo sublinhou que “a idade é apenas uma variável”. E Ana Vicente corroborou esta ideia: “a idade é mais uma variável como são as outras e que fazem de nós os seres únicos que somos” e acrescentando que a confiança é um tema crítico, ou seja, as promessas da organização têm de corresponder à realidade. Se se promete flexibilidade ou sentido de propósito, mas no dia a dia essas expectativas não se concretizam, vai existir uma quebra de confiança.
José Miguel Leonardo considerou a atração e retenção do talento elementos importantes para uma organização e relembrou que a separação, ou seja, a saída de um colaborador, não tem de ser um momento traumático nas organizações.
Neste sentido, José Miguel Leonardo realça a importância do “employer branding”, quando o tema é atrair os melhores: “é importante sabermos quais são os fatores de atratividade; o que é que os profissionais que eu quero para a minha empresa procuram”.
Quanto ao papel da liderança no processo de recrutamento, Ana Vicente afirmou que a empatia e a inteligência emocional são duas dimensões críticas para as lideranças. E, por isso, “para a atração do talento, o papel dos líderes é essencial, pois no dia a dia o colaborador vai trabalhar com a equipa e com o líder” e concluiu com uma frase célebre do Engenheiro Belmiro de Azevedo “se não gostas do teu líder, despede-o”.
O último painel da conferência, intitulado “Qual o papel do Associativismo na sociedade?”, contou com António Saraiva (Presidente da CIP), Jorge Portugal, (General Manager da COTEC Portugal) e Miguel Pinto (Diretor-geral e Administrador da Continental Antenna Portugal). Linda Pereira (Empresária, Consultora Internacional, Professora Universitária e Expert em Meeting Industry) assumiu o papel de "igniter".
António Saraiva destacou a necessidade de as associações se renovarem para responder às necessidades dos associados. Destacou ainda a importância da cidadania participativa ativa, uma das nossas lacunas. Para o Presidente da CIP, “temos de ter essa inquietude. Temos de nos desafiar e sair da nossa zona de conforto. Temos de ser cidadãos participativos ativos.”
Para Jorge Portugal, apesar de vivermos tempos incertos e de mudança, é importante parar para refletir, e acrescentou que “as associações existem para resolver problemas aos seus associados. Uma mentalidade de startup”. Isto significa que a razão de ser de uma associação prende-se com a necessidade de resolver um problema coletivo que não conseguimos resolver individualmente.
Miguel Pinto, por sua vez, salientou a importância da colaboração, da partilha de conhecimento e experiência. O Administrador da Continental Antenna Portugal sublinhou que “se soubermos trabalhar, aproveitando as sinergias dentro das associações, podemos crescer e ser mais competitivos”.
No período da tarde, a sessão de pares proporcionou a partilha de ideias e experiências dos participantes sobre temas, entre os quais, os principais desafios do mundo de trabalho, as qualidades essenciais dos líderes, ou o que é nos falta para fazermos das nossas marcas internacionais.
Nesta tarde de partilha, os participantes destacaram como principais desafios a incerteza global que vivemos, a saúde emocional, as dificuldades que o híbrido trouxe para a cultura organizacional e o potencial desaproveitamento do talento sénior (+50 anos).
Quanto às principais competências de um líder, os participantes sublinharam a inteligência emocional, a capacidade de comunicar com impacto e eficácia, a resiliência, o autoconhecimento e a empatia.
Portugal tem dificuldade em tornar as suas marcas internacionais. E, neste contexto, os participantes referiram como principais entraves à internacionalização das nossas marcas a falta de autoconfiança, a falta de orgulho, o receio de falhar e a importância de sermos mais empreendedores e termos menos receio do risco.
Depois de um dia de partilha sobre o papel das lideranças, a única certeza que temos é que vivemos tempos incertos e que o futuro será também ele incerto, volátil e desafiante. Tempos de incerteza pedem líderes que nos inspirem a fazer mais, melhor e com paixão. Tempos de incerteza pedem líderes com doses equilibradas de empatia e inteligência emocional, resiliência e determinação, coragem, audácia e humildade.
Não há uma receita, não sabemos as doses certas desta ou daquela competência, mas um bom líder fica para sempre na nossa memória.