Com uma experiência superior a 50 anos, a Colep Packaging é é um fornecedor de referência de embalagens plásticas e metálicas.
Emprega mais de 700 colaboradores distribuídos por Portugal, Espanha, Polónia e Reino Unido. Em entrevista à Executive Digest, Paulo Sousa, CEO da empresa e Alumnus da Porto Business School, falou sobre a estratégia, o caminho e próximos desafios.
A Colep decidiu separar o negócio de embalagens (Colep Packaging) e o de produtos de consumo (Colep Consumer Products). A medida, com efeitos a partir de 1 de Julho, resultou da constatação de que os negócios, apesar de se efectuarem em mercados semelhantes, têm dimensões operacionais e estratégicas diferentes e exigem níveis crescentes de agilidade e rapidez da resposta.
Em entrevista à Executive Digest, Paulo Sousa, CEO da empresa e Alumnus do The Executive MBA, falou sobre a estratégia, o caminho e os desafios nos próximos tempos:
A Colep anunciou recentemente a separação do negócio de embalagens e o de produtos de consumo. Em relação à Colep Packaging, quais são agora os principais desafios?
A Colep fez a separação dos seus dois negócios com o objectivo de termos mais foco e de estarmos mais próximos daquilo que são as dinâmicas do mercado. A Colep, nos últimos anos, cresceu significativamente e o accionista achou por bem segregar os negócios e termos mais foco nesses negócios. Dentro da Colep Packaging (a nova empresa formada no dia 1 de Julho) temos como grandes objectivos: transformar o que antes era uma divisão numa empresa.
Não é um processo moroso, mas precisa de alguma alteração cultural quando estamos dentro de uma organização.
E, por outro lado, o nosso crescimento no mercado de embalagens.
Quais são as principais áreas de negócio e produtos?
Servimos várias indústrias: cuidado pessoal, cuidado do lar, tintas e vernizes, alimentar e industrial. E isto sempre com embalagens metálicas, de folha de flandres, ou embalagens plásticas. O mercado de embalagens está a sofrer alterações significativas por várias tendências, quer seja pelas tendências de retalho, quer pelas tendências mais ambientais.
Há necessidade de irmos adaptando a nossa estrutura produtiva. Temos três grandes áreas de investimento. Uma que tem a ver com investimentos que focam a melhor utilização dos materiais e, portanto, na redução da quantidade de material utilizado para produzir uma determinada embalagem; outra na melhoria do processo produtivo no sentido de sermos mais ágeis e rápidos a responder às necessidades do mercado e também investimentos na automação e digitalização de processos. É importante realçar um outro pilar, o de investimento
nas nossas pessoas. O desenvolvimento dos nossos recursos é um dos aspectos fundamentais. Por um lado, para estarem activos no mercado. Por outro, porque achamos que é um dos principais diferenciadores face à nossa concorrência.
A Colep emprega cerca de 700 colaboradores distribuídos por Portugal, Espanha, Polónia e Reino Unido. O que perspectiva para 2022 e quais os principais investimentos que a empresa espera fazer?Temos uma presença na Europa com operações em Portugal, Espanha e Polónia, com um escritório comercial em Inglaterra. Mas podemos querer abarcar outras geografias. É algo que está na nossa visão de desenvolvimento futuro.
Poderá não ser no imediato, ser mais tarde, e dependendo das oportunidades que acontecerem.
O exemplo da Colep demonstra como a internacionalização pode ser um meio privilegiado de crescimento das empresas, nomeadamente quando o mercado nacional tem oportunidades limitadas?
O mercado nacional também já está a mudar muito. Ou seja, as empresas nacionais procuram o mercado europeu como sendo o seu espaço natural e, portanto, temos vários clientes nacionais com uma dimensão e uma exigência muito considerável face ao mercado europeu. Seria impensável considerarmos Portugal apenas como o nosso mercado, pois estamos inseridos numa comunidade europeia. Além disso, há toda a internacionalização das relações que criamos com os nossos clientes, muitos deles internacionais, presentes em vários pontos e que nos permite ser um fornecedor credível para os auxiliar no desenvolvimento de outras geografias. Sim, a internacionalização é algo que está no espírito da Colep Packaging e que vemos com bom grado na maior parte das empresas nacionais.
Os mercados internacionais são, em regra, mercados exigentes e de grande concorrência. Para competir, o que se exige às empresas?
Os mercados são cada vez mais exigentes e, uma vez mais, enfatizo que há clientes que não são de mercados internacionais, mas têm o mesmo nível de exigência. Para nós os pilares bases são a segurança no fornecimento, a qualidade naquilo que entregamos e o serviço. São factores que nos permitem entrar em jogo. Depois, a diferenciação está nos programas que desenhamos.
Os nossos clientes não são todos iguais. Têm propostas de valor diferentes nos seus mercados e, assim, precisam de um fornecedor e de um parceiro que desenvolva programas à medida das suas necessidades. E essa capacidade de adaptação e de desenvolver esses programas – às vezes dentro do próprio cliente programas diferentes, consoante os tipos de produtos que está a vender - é o aspecto fulcral para o desenvolvimento da Colep e para a diferenciação no mercado. A nossa mais-valia é a adaptação aos programas de cada um dos clientes para que possam responder melhor às necessidades que têm no mercado e com isso consigam fazer crescer os seus negócios. Quase todos os consumidores portugueses têm por dia contacto com uma embalagem da Colep Packaging. Na Europa é onde temos as nossas operações e grande parte do nosso negócio. Mas temos vários mercados que também fornecemos, como a América do Sul, América do Norte, África ou Ásia. Não são mercados tão próximos, porque algumas vezes nas embalagens a proximidade ao cliente é fundamental, mas estão a ser explorados e têm crescido significativamente nos últimos anos.
Como é que a Colep trabalha a retenção do talento na organização?
Trabalhamos de várias formas. Por um lado, temos uns perfis técnicos porque precisamos de colaboradores que vão operar máquinas e equipamentos. Fazemos também a capacitação técnica desses operadores e o desenvolvimento técnico dessas pessoas, associado a programas de formação e de literacia adicionais. Temos toda a parte de trabalho com universidades e politécnicos no sentido de recrutar pessoas que têm capacidade e competência de crescer na empresa. Uma parte para nós muito importante é a proximidade dos nossos líderes. A grande questão da retenção das nossas pessoas é, de facto, a cultura e o orgulho em trabalhar na Colep Packaging. E isso vem da forma como a empresa se comporta eticamente com os nossos colaboradores e vizinhos sociais, mas também da forma como os líderes se comportam junto das pessoas.
A Colep Packaging enfatiza que o líder deve estar próximo das suas pessoas e cuidar deles. Com isto conseguimos uma boa retenção dos nossos talentos.
Qual foi o impacto da pandemia?
Tivemos algum impacto do ponto de vista do negócio. Houve alguns sectores de actividade que foram bastante afectados, nomeadamente a restauração e, assim, o nosso fornecimento à indústria alimentar levou uma quebra significativa. Entretanto, outros sectores como o cuidado do lar, com a progressão de desinfectantes de superfícies, teve um aumento e as coisas mais ou menos compensaram. Não tivemos quebras significativas do ponto de vista da nossa actividade. O crítico foi como é que organizámos uma unidade industrial com 800 pessoas e garantimos as entregas aos nossos clientes com segurança.
Esse foi o grande desafio, o de trazer um grande número de pessoas para teletrabalho e criar todas as condições para que pudessem manter o vínculo afectivo e a cultura de pertencerem à Colep Packaging. Conseguimos passar esta pandemia sem qualquer problema ao nível de serviços e com a entreajuda de todos. Este último ano, um pouco mais crítico porque os nossos clientes começaram a ter falhas de materiais e a necessidade de agilidade no fornecimento é superior. Estamos muito orgulhosos daquilo que conseguimos atingir e o ano de 2021/2022 não será um mau ano com toda a certeza.
Como avalia a evolução da sua empresa ao longo dos últimos 20 anos
A empresa cresceu bastante. Há 20 anos tinha apenas operações em Portugal, Espanha e Polónia. Depois foi para outros mercados, como a América do Sul, América do Norte ou Emirados Árabes Unidos. A empresa desenvolveu-se imenso, a área de packaging abarcou novas geografias, clientes e deu muito prazer ver o seu crescimento. Chegou a um ponto em que tem dimensão e características que obrigam a que separemos os dois negócios e lhes demos oportunidade para ainda crescerem mais e se desenvolverem. O desenvolvimento foi muito de salutar nos últimos 20 anos, com uma postura no mercado muito ética. É algo que vai preponderar nas duas organizações que saíram agora da antiga Colep.
E em relação à Sustentabilidade?
A Sustentabilidade tem sido uma buzzword, uma palavra que está muito na moda, ligada apenas a questões ambientais. E a Sustentabilidade é bem mais do que isso. Se olharmos para os 17 Princípios da ONU, são mais latos do que só cuidar do ambiente. Em vários desses princípios, a Colep já trabalha activamente, quer seja a responsabilidade social, o cuidado com os nossos colaboradores, a redução do consumo de materiais ou a redução do consumo de energia. A estratégia passa muito pelo crescimento em materiais que sejam sustentáveis e que nos permitam não só a sustentabilidade do negócio, mas também dar o melhor cuidado ao planeta.
Paulo Sousa inicia a sua carreira em 1994 como Empresário Individual na distribuição de produtos pet care, até 1999. Em Maio de 2002 ingressa na Colep, como Key Account and Customer Care Manager da Divisão de Contract Manufacturing. Durante o seu percurso de quase 20 anos na empresa, assumiu vários cargos desde Sales Director Americas, Operations Director da Divisão de Consumer Products e Managing Director da Divisão de Packaging. Após a cisão da Colep passou a desempenhar o actual cargo de CEO da Colep Packaging.
Em Junho de 2021 foi eleito Vice-Presidente da Metal Packaging Europe. É licenciado em Gestão pela FEP – Faculdade de Economia da Universidade do Porto - e tem um MBA executivo, da Porto Business School.
Entrevista publicada na edição de Novembro da revista Executive Digest
Texto redigido ao abrigo do antigo acordo ortográfico