Será a criatividade um problema ou uma vantagem? A questão deu o mote para a primeira conferência do Ciclo de Seminários sobre Controlo de Gestão, dedicados à discussão das tendências do futuro da área, realizados no âmbito da Pós-Graduação em Controlo de Gestão e Avaliação de Desempenho.
Com um painel muito heterogéneo com oradores de setores de atividade distintos, das indústrias criativas à tecnologia, foram vários os pontos em destaque que abordaram os desafios de áreas que, aparentemente, são opostas mas que podem e devem complementar-se: a gestão e a criatividade. Será que o controlo de gestão é um fator limitador da criatividade?
Francisca Carneiro Fernandes, Presidente do Conselho de Administração do Teatro Nacional de São João (TNSJ), não tem dúvidas que a criatividade é “sempre uma vantagem”. O que importa, continua, é a implementação de uma forte cultura organizacional, de flexibilidade e de confiança. “É preciso gerar confiança, principalmente na equipa com quem estamos a trabalhar, tanto os trabalhadores fixos como os criativos e artistas que trabalham com o TNSJ, como do lado da Tutela, como do público. Portanto, o grande desafio é gerar confiança nestas três vertentes. Depois, é preciso haver alguma flexibilidade e sensibilidade também, e muito respeito pelo que eles fazem”, sublinha.
Com todas as particularidades que a gestão de uma empresa pública tem [não visa a obtenção do lucro, tem uma autonomia de gestão condicionada e restrições orçamentais], a responsável do TNSJ afirma que é preciso fazer “uma gestão muito criativa” para que uma instituição como esta consiga evoluir nos últimos 15 anos, com o mesmo orçamento, mantendo as salas e os espetáculos cheios.
Francisca Carneiro Fernandes reiterou que não há fórmulas mágicas, mas sim uma conjugação de fatores. “Temos de partilhar as noções de controlo, as decisões e a responsabilidade com os nossos colaboradores”, afirma, referindo-se aos 86 trabalhadores do TNSJ.
Quanto aos desafios futuros que se colocam na gestão de uma instituição cultural como o TNSJ, Francisca Carneiro Fernandes acredita que a gestão “tem de ser vista de uma forma muito mais ampla, não pode ser vista só do ponto de vista financeiro, tem que ter em conta uma série de envolventes e de condicionantes, uma série de sensibilidades que quando falamos em indústrias criativas e em gerir a criatividade, é preciso ter isso tudo em conta”, sustenta.
O conceito de “controlo de gestão” está a mudar. A convicção é de Francisco Cardoso, CEO da Zalox, agência de comunicação e marketing digital, que também participou neste seminário. “Era um conceito castrador que não permitia evoluir, mas a crise financeira trouxe uma nova abordagem ao mercado, novas exigências e novos desafios no controlo de gestão e da criatividade”, refere.
Na opinião Nuno Silva, diretor do Gabinete de Gestão de Tecnologia da EFACEC, o controlo de gestão é, sem dúvida, uma ferramenta de gestão para alavancar inovação e de apoio à decisão. “O controlo de gestão dá-nos métricas sobre aquilo que investimos, ajuda-nos a minimizar os riscos e a ter acesso a fundos e financiamentos com base nesses resultados que conseguimos medir”, afirma.
Uma ferramenta essencial no controlo de gestão da empresa de base tecnológica, há 70 anos no mercado, com 2.500 colaboradores e uma quota de exportação de 80%. “De uma forma inclusiva e transversal a todas as unidades de negócio, os colaboradores podem ver estas métricas do controlo de gestão como uma forma de terem uma melhor performance, de os projetos correrem melhor, e de nós todos conseguirmos gerar mais valor nas soluções que criamos”, defende.
A criatividade faz parte do processo diário de inovação, continua o diretor do Gabinete de Gestão de Tecnologia da EFACEC. “A criatividade é sempre uma vantagem, e é algo que, a nós, na EFACEC, nos garante ter alguma diferenciação, desde que consigamos converter a criatividade em valor, através de um processo de inovação que seja eficiente e sustentável”, reitera.
Gerir criatividade e inovação só é possível se as práticas do controlo de gestão forem adaptadas à realidade das empresas, à sua dimensão, ciclo e maturidade e, para isso, é “essencial que exista um processo transparente que deve ser comunicado aos colaboradores, só assim é que conseguimos que percebam como é que estas ferramentas estão ajudá-los a desenvolver esforços de forma mais eficiente para contribuir para um propósito concreto, um projeto, uma determinada iniciativa e para a empresa de uma forma global”, conclui.
O próximo seminário deste ciclo está marcado para o dia 29 de novembro, às 18h00 e vai abordar o tema do Controlo de Gestão e Sustentabilidade.
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