Os desafios da nova revolução de dados no setor público, de como se posiciona Portugal neste domínio, quais os impactos desta revolução na ética e confidencialidade foram os temas abordados na conferência “Data Science for Open Government”, que decorreu no passado dia 12 de Maio, na Porto Business School, e que contou com a presença de Maria Manuel Leitão Marques, Ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, e Steve Macfeely, Head of Statistics da UNCTAD.
Nas últimas duas décadas, Portugal tem registado avanços no que respeita ao desenvolvimento do tratamento de dados e oferta de serviços digitais que agilizam a relação entre o setor público e os cidadãos. Perceber qual a realidade atual, e tudo o que implica a partilha de informação, foi o mote para a realização desta Conferência que contou com a intervenção e participação de especialistas na área e com poder de decisão política, procurando-se obter a perspetiva do setor público e do privado.
Durante a sua intervenção Maria Manuel Leitão Marques, Ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, salientou que a atualmente “a utilização da informação é uma prioridade e uma urgência para a modernização das organizações”. Referindo, ainda, que “o princípio da transparência, da participação e colaboração de todos os envolvidos” a leva a crer “que não está tudo feito. Há muito a fazer”.
Nesse sentido defende que “há que combinar saberes na investigação e que todos estão convidados a participar no desenvolvimento de soluções que visam transformar a administração pública na autonomização de procedimentos”.
Sobre o uso de dados afirmou “que ainda não passa pela disponibilização destes. Passa por muito trabalho. O uso da informação é um mundo de oportunidades por explorar”. E adiantou que o futuro passa pela utilização de novas tecnologias para captar dados, com objetos mais inteligentes ou sensores nas cidades “que melhorem as políticas públicas e prevenir situações de risco e outros domínios”.
A finalizar Maria Manuel Leitão Marques deu alguns exemplos de casos na administração pública, como o “IRS Automático”, o “Empresa na hora” ou o “A minha rua”.
“Quem é o dono dos nossos dados?”
Steve Macfeely, UNCTAD's Head of Statistics, o orador principal da Conferência, focou a sua intervenção em torno do significado dos conceitos de Big Data e das vantagens, perigos da sua utilização e a restrição ao seu acesso. Como referiu “nós geramos informação e dados, mas não temos acesso a ambas”, dando os exemplos da Google e da Amazon.
Para Steve Macfeely os dados trazem muitas vantagens, mas “têm de estar bem guardados e domesticados, caso contrário é a selva, podem corromper-se ou perder-se”. E aqui refere-se à sua utilização “e à proteção da privacidade. E deu um exemplo assertivo: “Os seguros de saúde. A partir de uma pesquisa no Google várias vezes sobre um tipo de doença e essa informação ser partilhada com a seguradora. A partir daqui a seguradora pode presumir que o seu cliente pode ter uma doença e isso vir a implicar alterações de contrato e até aumentos do prémio”. Acrescentando que “nós deixamos impressões digitais por todo o lado. Nos cartões de crédito ou na nossa localização através de um simples telemóvel”.
Steve Macfeely defende a ideia que “organizar a informação é um bem importante e que o setor público não é tão eficiente quanto o privado neste aspeto”. Mas acha que “Portugal tem feito melhorias nesse sentido e que até estamos no Top 46 em Open Data… à frente de Espanha”.
A concluir acha que é “aterrador o facto de as máquinas no futuro recolherem toda a informação e depois tomarem decisões. Não é simples nem fácil. Como iremos usar dados e informações é algo que tem de ser bem pensado e gerido”.