A Porto Business School, em parceria com o Fórum de Gestores e Administradores de Empresas (FAE), acolheu a sessão de apresentação do estudo promovido pelo World Economic Forum sobre as PME europeias e o seu papel para um futuro mais sustentável e próspero.
As PME representam mais de 90% do tecido empresarial global e catalisam a mobilidade social; em cada 10 empregos, 7 são criados por PME. Analisadas isoladamente as PME são consideradas pouco relevantes, mas Olivier Woeffray avança que, em Portugal e no mundo, “coletivamente as PME representam a maioria da economia”.
De acordo com o estudo, as PME tendem a ter um índice de falência mais elevado, em particular, no estádio mais inicial. A pressão dos clientes e sociedade civil a que são sujeitas na área da sustentabilidade é também maior. E a pandemia veio amplificar os desafios aos quais as PME estão expostas.
A preparação para o futuro compreende três vetores. Primeiro, é importante que a empresa prospere (crescimento económico). Segundo, é importante fazer bem e fazer o bem (impacto social). Terceiro, e ainda mais relevante, é o conceito de adaptabilidade. Estes dois últimos anos têm sido um exemplo ímpar da importância desta competência e abrange duas vertentes: habilidade (absorver o impacto) e agilidade (aproveitar as oportunidades).
Neste estudo, mais de 350 CEOs e fundadores participaram em inquéritos, workshops e fóruns de discussão. Os dados indicam a existência de três drivers de preparação para o futuro: os modelos de negócio, que têm uma maior importância no nível de preparação das PME, quanto maior a sua flexibilidade; orientação, isto é, a cultura e estilo da Organização; e redes colaborativas, ou seja, a capacidade de as empresas criarem e participarem em redes onde mobilizam recursos.
O que nos dizem os dados?
Olivier Woeffray salienta que todas as grandes regiões do mundo foram contempladas neste estudo. E nesta ótica de igualdade de oportunidades, para Woeffray, “as PME não são favorecidas ou prejudicadas pela sua localização geográfica”.
Muitas das empresas ainda não incluíram no seu modelo de negócio estratégias explícitas focadas na sustentabilidade ambiental e social. Vivemos uma época de recuperação e muitas destas empresas ainda estão a operar em modo “survival”. E neste patamar de sobrevivência, a empresa não consegue dar o salto para o patamar seguinte – “People, Profit and Planet”.
69% das PME contempladas pelo estudo incluem a temática da sustentabilidade ambiental e social na sua missão, visão e valores e 63% admitem ter políticas direcionadas para esta área. No entanto, apenas 41% afirmam ter pessoal dedicado à sustentabilidade.
O estudo destaca o papel vital das redes para as PME, comparativamente às empresas maiores. Num contexto de rede, as PME têm um maior impacto nas dimensões social e de adaptabilidade em detrimento do crescimento económico.
Para os CEOs e fundadores que participaram no estudo, “fatores que no passado eram uma desvantagem competitiva, hoje são catalisadores de novas oportunidades”.
Como é que os dados podem apoiar a jornada de preparação para o futuro?
A próxima etapa exige que passar da teoria à prática; é preciso “compreender o que fazemos com estes dados e para onde caminhamos a partir destes dados”:
1. Informações (“intelligence”): recolha, análise, partilha e reflexão sobre dados (estudos de caso; acesso a ferramentas de análise e diagnóstico do WEF).
2. Construir redes: uma excelente ferramenta para a mobilização de recursos. As PME que se juntam ao WEF acedem a uma comunidade de pares, especialistas e grandes empresas.
3. Visibilidade: promover o encontro entre empresas e a partilha de boas práticas.
No debate, que procedeu a apresentação do estudo, participaram Fernando Alexandre, Professor da Universidade do Minho, Manuela Vaz, Vice-presidente da Accenture, Paulo Barradas Rebelo, Presidente do Grupo Bluepharma, e Rui Lopes Ferreira, CEO do Super Bock Group. E Paulo Carmona, Presidente do Fórum de Administradores e Gestores de Empresas, moderou este momento de reflexão.
Fernando Alexandre recupera a relação entre a geografia e o desempenho das PME: “a geografia importa; depende das infraestruturas, dos recursos que temos e das instituições.” Depende das infraestruturas, acessos e ligações e do uso que fazemos da tecnologia. E as instituições têm também um papel fundamental.
Recorda ainda a investigação de Carlos Oliveira Cruz, do Instituto Superior Técnico, que, baseando-se no índice de logística do Banco Mundial, analisou o desempenho das dimensões portuária e aeroportuária. A conectividade entre as duas dimensões é positiva, contudo, numa dimensão administrativa: “temos as piores alfândegas do mundo em termos de eficiência”.
Fernando Alexandre salienta que Portugal, à semelhança de outros países, deve ter uma “região-estrela” que capte a atenção dos grandes investidores internacionais, grandes talentos e espíritos empreendedores e que é “essencial, em especial para as PME; têm de se distinguir pelas excelentes infraestruturas, pela tecnologia, pelo talento e massa crítica, pela agilidade das instituições”.
Manuela Vaz sublinha que (as PME) “são um contributo muito importante para o negócio das grandes empresas” e acrescenta “o facto de as PME, em determinado momento, estarem ameaçadas, ameaça também as grandes corporações”.
Para Paulo Barradas Rebelo, “melhor do que ser otimista, é ser optimizador”. A aposta estratégica da Bluepharma partiu de uma dedução com os olhos postos no futuro: direcionar a investigação e desenvolvimento para a produção de medicamentos genéricos. Hoje 50% dos medicamentos dispensados em farmácias e 80% dos medicamentos utilizados nos hospitais são genéricos.
Para Rui Lopes Ferreira, o estudo indicia alguns elementos coincidentes com a realidade portuguesa e acrescenta um fator: as grandes empresas representam 0,1% do universo nacional que ronda 1.290.000 de empresas. E neste universo apenas 7000 são médias empresas e 40 000 são pequenas; o restante panorama empresarial é composto por microempresas. Para alavancar o crescimento das PME é essencial considerar esta realidade, pois partimos de um cenário maioritariamente composto por microempresas.
Para Fernando Alexandre, coordenador do estudo “Do Made in ao Create in”, que está a estudar o impacto da parceria da Universidade do Minho e a Bosch, “uma empresa que entre naquele ecossistema é obrigada a transformar-se”. Em contextos colaborativos como este, a rede de fornecedores é uma das dimensões mais relevantes, mas a transformação é visível a todos os níveis.
Para Manuela Vaz, enquanto país, temos de criar as condições para os centros de desenvolvimento. E para isso, as redes, como o DTX (Digital Transformation Colab) são vitais. Dedicado à transformação digital, tem associados, como a IKEA, Simoldes, Bosch e Accenture. A Academia está representada pela Universidade do Minho, Universidade de Évora, Universidade Católica de Lisboa, INL e CEiiA.
Paulo Barradas Rebelo sublinha que o teletrabalho retira da equação a necessidade de emigrar, que associado a salários e pacotes de benefícios altamente competitivos, torna a retenção de talento muito desafiante.
Rui Lopes Ferreira considera que os salários em Portugal vão subir para fazer frente à concorrência internacional e remata “os salários mais altos são sustentáveis, se houver mais produtividade. Para termos mais produtividade, temos de reter talento. Está tudo interligado!”.
O World Economic Forum é uma organização independente internacional sem fins lucrativos que, enquanto agente multistakeholder, contribui para um mundo melhor, promovendo a cooperação público-privada através da interconexão entre os mundos empresarial, político, cultural e sociedade civil.
O FAE, fundada em 1979, é uma associação sem fins lucrativos que promove o desenvolvimento, a formação e a evolução da gestão empresarial e valorização científica e técnica dos seus associados. Promove estudos, projetos e a partilha de experiências a nível interno e por meio da colaboração com associações congéneres internacionais.