A pandemia veio atrasar a evolução da paridade em cargos de poder em 30 anos. De acordo com dados avançados pelo Fórum Económico Mundial, serão precisos 135,6 anos para alcançar a igualdade de género plena em cargos de poder. Dois anos de pandemia traduzem-se num atraso de trinta anos quando o tema é a paridade no mundo do trabalho.
No Dia Internacional da Mulher, o clube Women in Business (WiB) promoveu um webinar sobre a liderança para a sustentabilidade, considerado um tema crítico quer para as organizações, quer para a sociedade.
Este encontro virtual contou com Isabel Barros (Executive Board Member - Sonae MC e Presidente de Direção APED) e com Etienne Huret (CEO da Natixis Portugal, Membro do Conselho Geral e de Supervisão da Porto Business School), como convidados especiais, que partilharam as suas experiências, projetos e desafios para a liderança para a sustentabilidade e o papel da mulher neste cenário de mudança.
Este webinar contou ainda com Patrícia Teixeira Lopes, Associate Dean da Porto Business School, Andie Costa e Ana Vaz, Alumni da Porto Business School e Board Members do clube Women in Business (WiB), e, ainda, Margarida Pedrosa, docente nos Programas de MBA e fundadora do clube WiB, que assumiram o papel de moderadoras nesta conversa.
A sustentabilidade, que deve ser compreendida como um processo de reconstrução a longo prazo, pode ser uma oportunidade para as mulheres.
Neste sentido, Isabel Barros destacou a importância de compreender que a sustentabilidade não é um tema de um único departamento. E, neste sentido, Etienne Huret acrescentou que a sustentabilidade não pode ser considerada uma decisão de curto prazo, devendo, por isso, envolver os colaboradores, os clientes e parceiros das organizações.
No âmbito da paridade no mundo do trabalho, Isabel Barros salientou que o objetivo da Sonae é ter 40% de mulheres em cargos de gestão de topo até 2023. Nesta perspetiva, as quotas são um “mal necessário”, pois promovem uma mudança mais rápida.
O CEO da Natixis Portugal partilhou que em 2020 80% dos colaboradores eram homens e 20% mulheres. Em 2022, 75% dos colaboradores são homens, enquanto 25% são mulheres. Apesar dos desafios do quotidiano, aos quais acrescem aqueles resultantes da pandemia, a evolução da paridade continua. Para incentivar esta mudança, a Natixis tem o programa WINN (Women in Natixis Network), um programa internacional para a promoção de carreiras de liderança bem-sucedidas.
A pandemia veio desacelerar a evolução da paridade no setor profissional, mas veio também transformar o próprio conceito de trabalho. As pessoas repensaram não só a sua relação com a sua atividade profissional, mas também o modo como a encaram.
Para Etienne Huret, perante estes novos modelos de trabalho, o grande desafio é manter a cultura da empresa. No entanto, este novo paradigma do trabalho também traz benefícios, sendo o maior o acesso sem limites a talento facilitado, por exemplo, pelo acesso a serviços de conferência remota que permitem a condução de entrevistas de emprego à distância.
Isabel Barros destacou ainda o convívio entre colaboradores e a preservação da cultura como dois dos grandes desafios aos quais as empresas precisam de dar resposta. Além disso, salienta também que estes novos modelos de trabalho, como o híbrido ou o remoto, representam um desafio acrescido para as mulheres. Enquanto o papel de cuidadora (dos filhos e da casa) for associado às mulheres, estes modelos de trabalho poderão representar uma sobrecarga de papéis para a mulher (a trabalhadora, a mãe, a esposa, a filha).
O caminho para a paridade no trabalho continua, mas a diferentes velocidades consoante o setor da sociedade. O período de pós-pandemia deverá ser encarado quer pelas empresas quer pelos governantes do mundo contemporâneo enquanto uma oportunidade de construir uma autêntica sociedade inclusiva. E para que tal aconteça é importante que o plano de recuperação seja inclusivo e igualitário.