Férias e Well-being: Porque é que as práticas das pessoas e organizações estão cada vez mais distantes do que nos diz a ciência e os factos? Este é um artigo que só poderia escrever no mês de julho. Como inúmeros outros escritos nesta altura, trago algumas reflexões para levar para as nossas férias.
Recentemente aumentaram as publicações e estudos científicos por todo o mundo, sobre as questões da saúde mental e bem-estar. Descrevem o contexto V.U.C.A. em que vivemos e trabalhamos, falam do impacto que a Covid‑19 trouxe e enumeram os efeitos do uso exagerado da tecnologia que desconecta das pessoas do meio envolvente.
Por outro lado, muitas pessoas não conseguem desligar-se do trabalho e sentem-se culpadas por usufruir das suas férias.
Assisto, cada vez mais, à procura por parte das empresas de iniciativas ligadas ao well-being e ao aparecimento do tema nos seus planos estratégicos, a par com objetivos como o alargamento de mercados. Porém, este eixo estratégico é difícil implementar porque, muitas vezes, são as próprias pessoas que decidiram este investimento que incentivam o envio de emails ou a realização de reuniões fora do horário de trabalho ou em período de férias.
A necessidade de desconectar e de nos afastarmos momentaneamente deste contexto de hiperestimulação, torna-se fundamental para um bem-estar connosco próprios e com os outros.
Mas o que justifica este desfasamento entre a necessidade de “desconectar” e as práticas?
i. Uma questão cultural
O facto de valorizarmos a orientação para resultados pode fazer-nos acreditar que estar longe do trabalho vai prejudicar a carreira por poder indiciar falta de dedicação. Algumas empresas associam um número elevado de horas de trabalho a um alto nível de comprometimento, desempenho e profissionalismo, esquecendo o conceito de presenteísmo. Não usufruir das férias não é apenas uma má prática, mas deve ser percebido como algo negativo.
Considerando que nos Países com menos carga horária semanal de trabalho são os que têm maior produtividade, trabalhar muitas horas não é sinónimo de maior produtividade. Por isso, e mais uma vez, é que as lideranças devem dar o exemplo. Uma chefia que não tira férias não é um bom exemplo, pois transmite implicitamente às equipas que trabalhar sem intervalos equivale a produtividade.
ii. Receio de perda de oportunidades de progressão na carreira por indisponibilidade nesse período
Mais uma vez, existem evidências de que as pessoas que usufruem dos períodos de férias conseguem garantir mais saúde física e mental, manter elevados níveis de produtividade e criatividade que acabam por contribuir para a sua promoção.
Tal significa que as pessoas que nunca tiram férias e que estão sempre disponíveis, podem acabar por sair prejudicadas em termos de progressão.
iii. Necessidade de se sentir indispensável à empresa
Muitas pessoas, apesar de se queixarem, gostam de se sentir necessárias. Talvez nem gostem, mas isso, de certa forma contribui para a elevar a sua autoestima.
O que podemos (e devemos) fazer?
Devemos interiorizar que quem trabalhou o ano inteiro precisa descansar. As empresas precisam que os seus quadros parem para pensar, de forma a poderem lidar com os desafios de forma criativa e resiliente.
Se isso o tranquiliza, comece a planear a sua ausência com antecedência, contactando fornecedores, clientes e colegas e antecipando o que podem precisar de si. Ao longo do ano, é também relevante refletir sobre a forma como delega e organiza processos.
O ideal é desconectar e não consultar ou responder a e-mails e mensagens relacionadas com o trabalho durante as férias. Mas, se tal não for possível, defina um horário para o fazer.
É importante desligarmos da tecnologia e ligarmo-nos mais às pessoas!
Por último, aproveite! As férias são para recarregar as baterias e cuidar de si. Lembre-se que tal vai melhorar não só o seu desempenho e a sua criatividade, mas também a sua qualidade de vida a nível pessoal, social, familiar e no trabalho. Visite sítios diferentes, em que o cérebro é obrigado a pensar de forma diferente. E não é preciso viajar, basta sair da rotina ou procurar sítios, na sua cidade, onde nunca tenha estado ou que já não visita há muito tempo.
E não se esqueça que é importante garantir que existam períodos para descansar também ao longo do ano.