Quando no TEDxPorto, ouvi a música de António Variações …muda de vida se tu não vives satisfeito…estás sempre a tempo de mudar…”, dei por mim a refletir porque é tão difícil mudar, quando uma vida mais plena queremos saborear e não estamos a conseguir alcançar.
Desde que há humanidade, que se reflete sobre felicidade, lugar onde prazer e propósito namoram. Ora sendo um tema milenar, porque é ainda tão difícil encontrar a harmonia que buscamos, seja em termos individuais ou corporativos? E pensei numa das primeiras conversas sobre felicidade no trabalho que tive, há 10 anos, com um decisor de uma empresa. Falava eu sobre as práticas de bem-estar, o seu impacto nos indicadores de gestão e respondeu-me “pois…mas sabe, aqui o que conta são os resultados!”. Fiquei surpreendida com a minha inabilidade em mostrar que a felicidade está conectada com os resultados, da viagem e na chegada.
Quando falamos em felicidade, pensamos em momentos bons, onde alegria, exaltação, harmonia, serenidade, amigos, família, comunidade, bailam na nossa mente. Se fecharmos os olhos, até conseguimos ouvir o som das gargalhadas, o tilintar dos brindes, sentimos o cheiro da relva acabada de cortar quando corremos ou saboreamos o toque nas folhas do livro que não estamos a conseguir parar de ler, por nos estar a saber tão bem! É o estar feliz! Acontecem estes estados, quando nutrimos um olhar mais positivo sobre a vida, sem deixar de ter presente o papel das emoções negativas na construção do nosso bem-estar. Esta positividade é também ambicionada nos contextos corporativos, por ser facilitadora da criatividade, da conectividade, de formas de pensar mais amplas e construtivas, por tal, o investimento em espaços de trabalho entusiasmantes, verdes e em culturas colaborativas.
E a história da felicidade continua, para o capítulo do sentido e do propósito que temos na vida. O propósito de vida é o valor que cada um cria, para si e para os outros, além de assegurar a sua existência. Na mesma conversa que falei no início, referia ao decisor que por a empresa ter resultados é que falamos de propósito, caso contrário, a conversa não faria sentido. O propósito de uma organização é o que a torna única, para além de ganhar dinheiro. Tenho dificuldade em entender o debate sobre o propósito quando as necessidades básicas não estão satisfeitas. Falar em propósito empresarial, quando os colaboradores não sabem se no final do mês terão salário ou qual o impacto que a fusão terá no seu enquadramento profissional, parece-me desajustado, inglório e incoerente. O nosso propósito de vida ajuda a dar sentido às nossas tomadas de decisão, conecta-nos como bando ou tribo, porque nos faz largar a dor do nosso umbigo e conseguimos olhar para um bem maior, que ajudamos a construir e do qual fazemos parte.
Seguindo o “ciclo do repensar” de Adam Grant, tornou-se mais cristalina a dúvida de como liderar a felicidade “…quando não vivo satisfeito…”, é um processo de tomada de decisão, pois requer humildade para nos conhecermos, sabedoria para apreciar a vibração da paixão e de quanto ela nos eleva para o bem comum e coragem para, com confiança e determinação, irmos construindo a nossa performance, tal como plantamos o nosso jardim e decorarmos a nossa alma, como escreveu William Shakespeare.
Artigo de Isabel Paiva de Sousa, Diretora dos Programas executivos “Felicidade e Performance” e “Toolkit de Negociação” da Porto Business School. Docente. Facilitadora de processos de reflexão estratégica. Investigadora na área da Felicidade e Performance. Embaixadora do TEDxPorto e da U.DREAM.