“Entrar” numa instituição de ensino é, por si só, um exercício de liberdade.
Independentemente da fase da vida e do objetivo de aprendizagem de quem “entra”, a passagem pela Escola é muito mais do que uma experiência meramente académica. Uma instituição de ensino incorpora em si uma dinâmica de comunidade, assente em conexões e relações pessoais entre alunos, professores, funcionários, famílias e sociedade civil.
Talvez seja mais intuitivo compreender esta dimensão de impacto pessoal nos contextos de ensino de primeiro ou segundo ciclo, na medida em que ocorrem em idades em que os valores base do indivíduo estão ainda em formação e nas quais o professor é tido como o principal modelo de vida. Contudo, enquanto seres humanos estamos sempre em constante mudança e, portanto, a formação em estádios mais avançados da vida contribui também ela em muito para a formação do indivíduo na sua dimensão integral e não apenas académica. As instituições de ensino de qualquer nível têm, pois, uma relevante responsabilidade na formação do indivíduo enquanto pessoa e, consequentemente, na construção dos valores e princípios da sociedade.
Neste contexto, é oportuno mencionar que as instituições de ensino, em particular as do ensino superior têm, historicamente, personificado de forma significativa o valor da liberdade, através da promoção do debate de ideias e da participação dos alunos em organismos estudantis. Neste âmbito, importa relembrar que foi o movimento estudantil que evidenciou o antagonismo entre as universidades e o regime salazarista, tendo tido especial relevo nas bases doutrinárias da democratização do ensino em Portugal.
Passando agora para o caso das Business Schools, enquanto formadores de líderes e gestores de organizações do presente e do futuro, entendo que têm, por maioria de razão, um papel determinante na criação de sociedades mais coesas, sustentáveis e prósperas e, por estas vias, mais livres.
Numa Business School espera-se um modelo de ensino centrado no indivíduo (e não no professor), em que aquele é parte central do processo de aprendizagem e em que todos, professores e alunos, aproveitam das opiniões e das experiências de todos. Ao nível dos conteúdos e dos learning outcomes, favorece-se a capacidade de questionar, a capacidade de análise, de identificação de vários frameworks conceptuais, o pensamento crítico, o processo de tomada de decisão e de avaliação de riscos e análise de benefícios em diferentes cenários, sempre com sentido ético e com análise de impactos em diferentes stakeholders. Não se ensinam receitas ou soluções, mas cria-se a capacidade em cada de um de identificar caminhos e fazer escolhas (acertadas). Por fim, o culminar de tudo isto é uma cultura de Escola de Negócios que envolve todos os que por “cá” passam – o sentido de rede e pertença, a apetência pela partilha e interajuda, a vontade e a humildade de aprender continuamente ao longo da vida e a vontade de ser cada vez melhor. A consciência de um porto seguro onde podemos voltar sempre que entendemos.
É, para mim, este um dos contextos mais promissores para a construção de organizações inclusivas, éticas, socialmente responsáveis e implicadas na construção de uma sociedade e de um futuro sustentável para as gerações vindouras, e que por tudo isto será certamente um futuro mais livre.
Artigo de Patrícia Teixeira Lopes, Associate Dean da Porto Business School