O sucesso dos negócios internacionais depende em grande medida da eficácia da comunicação e das decisões de gestão em contexto intercultural. Acontece que o processo de comunicação é afetado por uma série de barreiras, como os estereótipos, os preconceitos, a interpretação errada da comunicação não verbal ou a língua.
O título deste artigo é um exemplo da língua como barreira. Está relacionado com uma história já popularizada há alguns anos de alguém que durante a infância não conseguia entender a profundidade da frase que o pai repetia: “Knowledge is power… France is bacon”. Até à adolescência compreendeu realmente a importância e o poder da educação e do conhecimento, mas relacionar França com bacon foi algo que nunca conseguiu resolver… até ter visto o nome de Francis Bacon num livro.
Se estes desafios e obstáculos à comunicação podem acontecer na nossa família e utilizando a nossa língua materna, imaginem o que acontece quando adicionamos as diferenças culturais à equação.
Na verdade, a forma como codificamos a nossa mensagem é condicionada pelo nosso contexto cultural e a forma como os outros a descodificam é influenciada pelo seu próprio contexto cultural. Aliás, a atribuição e a construção de sentido dependem muito do recetor. Os recetores podem ler nas entrelinhas, e mesmo, inverter o sentido inicial da mensagem.
Os japoneses e os chineses são especialistas a ler nas entrelinhas (uma linguagem implícita e de alto contexto) e a não dizer diretamente tudo o que pensam, sobretudo quando a mensagem é negativa. Os neerlandeses ou os alemães, por outro lado, procuram ser muito claros e diretos nas suas mensagens (mesmo as negativas) o que pode, por vezes, ser erradamente confundido com rudeza ou má educação. Os portugueses e os brasileiros situam-se algures pelo meio destes extremos.
Mas as diferenças alargam-se a outros aspetos da vida em sociedade e da organização das empresas: maior hierarquia numas culturas e menor distância ao poder noutras; a ligação com o tempo mais sequencial numas culturas ou mais síncrona noutras; a confiança mais associada à tarefa numas culturas e mais associada à relação pessoal noutras.
A ilação a retirar é que a gestão em contexto intercultural é afetada por todos estes fatores (das dimensões de cultura às barreiras na comunicação), pelo que não devemos assumir que princípios, teorias e modelos de gestão que funcionam de forma eficiente e eficaz numa cultura vão ter os mesmos resultados em qualquer cultura do mundo. Seja no marketing, nas vendas e nas operações ou na motivação das equipas e na negociação com clientes.
Estes e outros temas serão abordados no curso “Cross-cultural Communication in Business Negotiations”, que a Porto Business School irá promover em novembro e que apoiará os participantes a entenderem melhor a sua própria cultura, a identificarem as diferenças face a outras e a tornarem-se comunicadores e gestores mais eficazes em contexto intercultural e, como consequência, a obterem melhores resultados.
Artigo de Pedro Vieira, docente convidado da Porto Business School e Diretor dos Open Executive Programmes na área de Internacionalização.