Numa altura em que o trabalho híbrido é cada vez mais uma realidade, prestar atenção à tarefa que temos em mãos ou à pessoa com quem conversamos parece mais desafiante do que nunca.
Num mundo de distrações e interrupções, fluxos ininterruptos de emails, mensagens, chamadas, reuniões e prazos para cumprir, estar em “multitasking” permanente e sentir níveis altos de stress parece inevitável. Esta parece ser a nova normalidade no trabalho, mas… será que tem de ser assim?
De entre as muitas mudanças causadas pela pandemia no trabalho, a nossa capacidade de prestar atenção parece estar sob renovado sequestro. Dados recentes da Microsoft sobre a utilização do MS Teams revelam que o número de reuniões mensais aumentou 153% e o tempo passado em reuniões mensais disparou 252%. Ao mesmo tempo (e talvez até precisamente por isso), 47% dos colaboradores estão agora determinados a colocar a vida pessoal à frente da vida profissional [1].
Contudo, nem sempre é fácil começarmos esta transformação. É neste contexto que se torna particularmente útil o conhecimento científico gerado recentemente sobre o impacto que o treino da mente - e em especial, o treino da atenção - pode ter. Este conhecimento tem vindo a transformar substancialmente a forma como colaboradores em algumas das mais exigentes organizações globais, experienciam o seu trabalho. Nas palavras do professor do IMD Ben Bryant, estas práticas permitem aos executivos “posicionarem-se calmamente no centro da tempestade, tornando-se capazes de aceder à clareza e criatividade necessárias para assegurar uma capacidade de decisão sábia e uma liderança autêntica e focada” [2].
Não menosprezando o papel que as organizações podem (e devem) ter a apoiar os seus colaboradores, aqui ficam 3 dicas para o ajudar a, de forma autónoma, construir uma melhor experiência de trabalho.
1. Comece por gerir o seu sistema nervoso autónomo. Perante as exigências do dia-a-dia, facilmente deixamos o nosso sistema nervoso entrar em desequilíbrio, preparando-se para nos proteger perante um email desafiante, como se a nossa própria sobrevivência estivesse em risco (já sentiu o seu coração acelerar por causa de um email?). Estas respostas não só prejudicam a nossa saúde, como também a nossa capacidade de pensar e decidir com clareza.
-> Durante o dia faça, então, pausas frequentes, e investigue a sua experiência. Pergunte a si mesmo “Que pensamentos estão a passar pela minha mente?” ou “Que sensações estou a notar no meu corpo neste momento?”. Aprofundar esta autoconsciência ajudará a notar, e, portanto, gerir estes desequilíbrios. Nesses momentos, convide a sua atenção a repousar no seu abdómen durante algumas respirações, notando a sua distensão com cada inspiração… e contração com cada expiração. Fazê-lo irá ativar o seu sistema nervoso parassimpático e trazer tranquilidade de volta à sua mente (pode experimentar fazê-lo agora mesmo, interrompendo a leitura deste artigo durante 1 min - simplesmente siga as instruções acima e note o seu impacto).
2. Assegure todos os dias algum tempo em "deep work". Por vezes, parece-nos que somos capazes de prestar atenção a mais do que uma tarefa ao mesmo tempo. Pensamos que podemos estar numa reunião e ver os nossos emails, ou conversar com alguém e escrever uma mensagem em simultâneo. Mas, na verdade, não somos capazes de prestar atenção a duas coisas em simultâneo. O “multitasking” de que falamos é, na verdade, “switch tasking”, isto é, uma alternância rápida da nossa atenção entre duas tarefas distintas. Num momento estamos a conversar com alguém, no momento seguinte na nossa caixa de email, e no momento posterior voltamos novamente à conversa. Especificamente, no contexto do trabalho, investigação após investigação tem descoberto que quando tentamos fazer “multitasking”, nos tornamos “masters of everything that is irrelevant, while we let ourselves be distracted by anything.” [3] A alternância constante da nossa atenção de um objeto para outro não só nos deixa mais lentos, menos criativos e mais cansados, como também mais suscetíveis a um maior stress e menor produtividade. [4]
-> Defina todos os dias um período de “deep work”, onde se permite trabalhar sem distrações (idealmente 60 min, no mínimo 30 min). Comece por comunicar com a sua equipa que, num determinado período do dia, apenas estará disponível através de um único meio de comunicação (p. ex., chamadas). Planeie também algum tempo para ver as suas mensagens depois de terminar o seu período de “deep work”, para poder trabalhar tranquilamente durante este período. Finalmente, desconecte-se e traga todo o seu foco à tarefa mais importante do seu dia.
3. Treine a sua mente. Em último lugar, fica, talvez, a sugestão mais importante. É possível que já tenha tomado contacto com algumas das ideias acima, ou até, tentado implementá-las. Mas na ausência de uma mente simultaneamente descontraída e focada, qualquer mudança é difícil.
-> Experimente então dedicar 10 – 15 min do seu dia a cultivar uma mente mais presente, mais calma e mais aberta. Fazê-lo irá ajudá-lo a desenvolver mais liberdade de escolha interna e mais capacidade de passar pelo seu dia de forma intencional. E não deixe que o facto de esta ser uma ideia simples leve à conclusão de que ela não funcionará. Na realidade, são apenas as ideias simples que realmente implementamos, que levam à mudança sustentada. Recorde-se que “a big change never happens with big changes”.
Se no final deste artigo se sente interessado (a) em aprofundar estas ideias, faça uma pausa. Respire. E dirija a sua atenção intencionalmente para a página da Porto Business School, onde encontrará informações sobre o programa Felicidade e Performance.
Esperamos poder encontrá-lo (a) em sala em breve, para aprofundar uma das conversas mais prementes da atualidade, sobre como impactar as cerca de 40.000 horas que passamos no trabalho ao longo da nossa vida!
Artigo de Diogo Rolo, docente convidado do programa Felicidade e Performance da Porto Business School.
[1] Microsoft 2022 Work Trend Index; Feb/Mar-2020 vs. Feb/Mar-2022
[2] Bryant, Ben and Wildi, Jeanny “Leadership Style: Business And Leadership In China: Mindfulness: The Quiet in the Eye of the Storm”, Leadership Style, pp. 9-15 (2020)
[3] E. Ophir, C. Nass, and A. D. Wagner, “Cognitive Control in Media Multitaskers,” Proceedings of the National Academy of Sciences 106 (2009): 15583–15587.
[4] Hougaard, Rasmus and Carter, Jacqueline, “The Mind of the Leader: How to Lead Yourself, Your People, and Your Organization for Extraordinary Results”, HBR Press, 2018