Num momento único na história, as empresas enfrentam desafios sem precedentes, fruto do grande teste feito às organizações e aos colaboradores, com a implementação de novas formas de trabalho.
Deparámo-nos, nos últimos 12 meses, com as empresas a comunicar aos colaboradores que têm de voltar ao escritório. Depois de dois anos de trabalho remoto, imposto quando muitos já não estavam confortáveis com o dia a dia no escritório, principalmente pelo pouco equilíbrio da vida familiar e trabalho e os impactos na saúde mental que as longas horas de trabalho aportam, a ansiedade da (nova) mudança volta a atacar e a destabilizar.
Todos os que experimentaram trabalhar remotamente perceberam que voltar ao espaço físico na empresa não era essencial para que o seu trabalho fosse eficaz ou até superasse o que se esperava dele. E muitos estudos apontam para que a flexibilidade e a autonomia, associadas a esta forma de trabalho, vieram melhorar o equilíbrio entre a vida profissional e familiar, com impactos na saúde mental.
As equipas de Recursos Humanos vêem-se desafiadas com dificuldades de retenção e atração, com uma resistência grande ao mandato de “voltar ao escritório”.
A neurociência explica esta decisão das organizações de forma muito clara: os líderes tendem a sentir-se mais empoderados, com uma maior sensação de certeza e controlo, quando têm as equipas fisicamente perto e com políticas e processos one size fits all. Mas do ponto de vista dos colaboradores, a sensação de controlo e imposição, são fatores de stress, numa fase em que as equipas estão exaustas de mudança constante.
A decisão tomada de regresso 100% ao escritório tem vindo a ser revertida, para ir ao encontro do equilíbrio essencial à manutenção do talento e conhecimento. Para isso, os líderes têm caminhado no sentido das suas pessoas, para lhes dar um sentido de propósito e motivo para voltar ao presencial. Quando pensamos no futuro do trabalho e dos espaços de trabalho, temos de colocar as Pessoas (ainda mais) no centro: a colaboração, a cooperação, a equidade, a diversidade e o sentido de pertença. Seja quando estão no escritório, seja quando estão em trabalho remoto.
O desafio está nas lideranças e na sua capacidade para acompanhar e motivar as suas equipas, de forma individualizada, garantindo a integração e a formação que precisam, dentro do esquema de trabalho híbrido. A oportunidade de estar presencialmente com a sua equipa ou com o seu líder, desenvolver relações de confiança e promover a inclusão, o reconhecimento e valorização do trabalho remoto - associado à flexibilidade e ao trabalho por objetivos – têm sido os fatores que estão a trazer os colaboradores de volta ao espaço físico. E também eles estão a fazer o caminho inverso, depois de uma primeira reação de adversidade à ideia de voltar ao presencial.
Acredito que esta forma de trabalho está a trazer para o centro da discussão a Confiança - dos líderes nas suas equipas, no seio delas e dos colaboradores nos seus líderes - como valor fundamental para o sucesso pessoal e das organizações.