Numa altura em que reequacionamos tantos aspetos da nossa vida, não é de todo surpreendente que o onde e o como trabalhamos estejam no centro desta reflexão. Estudos recentes mostram que 91% dos inquiridos gostariam de continuar a trabalhar remotamente ou em formato híbrido e, destes, 76% afirmam, mesmo, que a entidade empregadora o permite.
Os efeitos positivos do teletrabalho no ambiente são assinaláveis e vão desde a diminuição abrupta dos níveis de poluição em cidades como Los Angeles ou Nova Deli, ao aparecimento de espécies raras nas cidades um pouco por todo o mundo. Além do mais, o seu efeito benéfico quer no equilíbrio entre a vida familiar e o trabalho, quer no impacto na saúde mental dos trabalhadores é, ele próprio, também inegável!
Tudo isto são factos já sobejamente partilhados e discutidos, mas o que poderemos realmente esperar do amanhã em contexto de trabalho? Como será o dia de amanhã para os trabalhadores e para as equipas de trabalho?
Parece-me indiscutível que a exigência de flexibilidade relativamente ao onde e ao como o trabalho será feito manter-se-á em níveis elevadíssimos. No entanto, o facto de termos sido forçados a parar para assimilar a mudança e o desconforto causado por ela, fez com que tudo fosse (e ainda é) relativizado e que a nossa lista de prioridades tenha sido substancialmente alterada.
Nessa lista constará, certamente, a valorização do investimento na aprendizagem contínua, que passou a estar no topo das prioridades quer dos trabalhadores, quer das empresas. Deixámos de “ter medo de”, para valorizarmos “a preparação para”: vamos aprender a ser Líderes num ambiente remoto, vamos desenvolver competências para fazer apresentações para grandes audiências, vamos, vamos, vamos... A preparação veio tomar o lugar do medo e da ansiedade!
O planeamento tenderá a ser bastante mais provisório. Diria que, para enfrentar a incerteza do amanhã, os planos terão necessariamente por base um mindset muito flexível e serão encarados como uma experiência de aprendizagem, em que o desvio face ao planeado passará a fazer parte do “novo normal”.
Os desafios, esses, serão cada vez mais assumidos em equipa e os líderes procurarão liderar com compaixão. Deixando cair a capa de super-empáticos, que tiveram de vestir nos dois últimos anos, os líderes mais do que colocar-se no lugar das suas equipas e genuinamente querer compreender ou mesmo ajudar cada um dos seus elementos, comprometer-se-ão realmente com eles, uma mudança que beneficiará todas as partes envolvidas. A compaixão ocorre quando nos afastamos da empatia e perguntamos a nós próprios o que podemos fazer para apoiar a pessoa que está a enfrentar alguma dificuldade. De uma forma simples, diria que a compaixão é uma intenção, enquanto a empatia é uma forma de emoção, que pode até dificultar o foco no “bem maior".
Ninguém tem qualquer pista sobre o que o futuro nos vai trazer, porque o que o passado nos trouxe chegou-nos num contexto completamente diferente. De qualquer modo, reconhecendo que não sabemos nem como, nem qual será o nosso próximo repto, o dia de amanhã será, sem dúvida, extremamente desafiante.
Artigo de Sandra Chaves, Consultant da área de Corporate Solutions da Porto Business School