Vivemos um período sem precedentes. Ao já velho mundo VUCA (Volatile, Uncertain, Complex and Ambiguous) juntou-se uma pandemia e depois uma guerra na Europa.
Perguntam-nos muitas vezes: Que impacto esperar deste contexto? Teremos uma recessão? Qual vai ser o pico da inflação? É o fim da globalização? Quais são as formas de trabalho que vão vingar? Que empregos vão deixar de existir? Quantos empregos vão deixar de existir?
A única resposta séria a todas estas questões (e tantas outras) é “ainda não sabemos”. De facto, a incerteza é o novo normal.
Ora, perante tamanhas incertezas e riscos, conheço apenas uma forma de estar quer na vida quer nos negócios: transformar as incertezas e riscos em desafios e oportunidades.
As grandes crises e os choques extremos podem ser um ímpeto ao progresso e um estímulo à aceleração de novas e melhores práticas de gestão. E é precisamente aqui que entra a importância crucial que a formação executiva assume em tempos de crise.
Na perspetiva do indivíduo, a formação executiva é considerada, muitas vezes, um meio para uma progressão na carreira. Na perspetiva da organização, a formação executiva é uma das formas eficazes para promover o desenvolvimento de competências. Contudo, os investimentos em formação são os primeiros a sofrerem cortes ou restrições orçamentais em momentos de crise. É precisamente durante estes períodos de crise que se torna ainda mais essencial investir em formação.
A formação executiva ajuda a navegar em tempos de crise de muitas formas. Partilho aqui algumas delas:
Para os indivíduos:
• É uma forma de gestão do risco do mercado de trabalho, criando condições de empregabilidade: o upskilling e o reskilling:
- Novas competências para poder manter-se no mercado nas áreas das novas tecnologias, da transformação digital, da transição energética e da gestão sustentável.
- Diversificação de competências: estratégia, operações, finanças, marketing, logística e cadeias de abastecimento, compras, pessoas, entre outras.
• Eleva a capacidade para lidar com a disrupção e a incerteza:
- Utiliza metodologias especialmente relevantes nestes contextos: simulações de ambientes reais, estudos de caso, projetos de consultoria aplicada, que desenvolvem nos participantes a capacidade de lidar com disrupções e de desenvolver soluções criativas.
• Desenvolve competências transversais: pensamento crítico e analítico, resolução de problemas, criatividade, inovação e empreendedorismo, que são essenciais no ambiente de elevada mudança e de alterações constantes dos modelos de negócio.
• Cria e desenvolve networking entre pares, com os docentes, com líderes de diferentes organizações, um importante ativo em momentos de mudança e de risco.
Para as organizações:
• Apoia no combate à escassez de recursos e à elevada rotatividade do mercado de trabalho:
- As organizações que investem no desenvolvimento do seu talento têm níveis de retenção mais elevados.
- Fomenta o desenvolvimento de pessoas e de equipas mais motivadas, mais ágeis e resilientes e, por essa via, mais adequadas ao contexto de crise.
• Promove o equilíbrio vida/trabalho e maiores índices de bem-estar.
• Impulsiona o desenvolvimento de novos líderes:
- Líderes que desenvolvem um propósito para além do curto prazo;
- Líderes que são responsáveis na sua atuação;
- Líderes que compreendem o impacto que têm na sociedade e no mundo;
- Líderes que constroem organizações de aprendizagem;
- Líderes que mobilizam as suas equipas.
• Cria alinhamento de propósito e de cultura, aprofunda relações inter e intra equipas, promove o crescimento de colaboração e de desenvolvimento de ligações mais fortes entre os colaboradores.
• Desenvolve colaboradores que compreendem e aceitam melhor a riqueza da diversidade e a importância das novas ideias, trazendo para dentro da organização a realidade que vivem na sua turma.
• Promove uma cultura de aprendizagem e feedback contínuo nas organizações.
Tempos difíceis exigem uma especial atenção ao essencial. E, muitas vezes, é mais simples cortar-se no que não se vê. Não esqueçamos, pois, que a formação pode não ser visível, mas é essencial. “O essencial é invisível aos olhos”, como sabiamente nos ensinou a raposa na obra “O principezinho”, de Antoine de Saint-Exupéry).
Artigo de Patrícia Texeira Lopes, associate Dean da Porto Business School.