O tecido empresarial português é reconhecido pela predominância de pequenas e médias empresas (PME). Apesar de não ser sustentável que todas estas empresas atinjam dimensões elevadas, a verdade é que se verifica, em Portugal, uma dificuldade evidente de crescimento das empresas. E que esta dificuldade é um dos fatores que têm vindo a contribuir para o crescimento anémico da economia portuguesa.
Nos países da OCDE, as empresas contribuem 72% para o valor acrescentado da economia dos países. E, ao longo dos tempos, as grandes empresas têm conquistado uma importância crescente neste contributo. São as grandes empresas que têm trazido impulsos acrescidos à inovação, à produtividade e aos investimentos em tecnologia.
Está igualmente estudada a denominada condição crónica das PME. Não só as grandes empresas ganham cada vez mais importância no setor empresarial, como também é cada vez mais difícil as PME desbloquearem a sua condição. O que motiva esta dificuldade é a própria dimensão limitada da maioria das PME que se traduz num acesso limitado aos recursos e capacidades que as tornariam mais produtivas.
Ainda que este seja um problema identificado à escala global, em Portugal a situação é agravada por fatores de cultura e educação empresarial, de financiamento e de fiscalidade. Ao nível do primeiro, há uma evidente falta de visão para o crescimento, associado à necessidade de controlo incompatível com o crescimento em escala de uma empresa. O financiamento é feito, tradicionalmente, por recurso à banca que, por norma, exige colaterais da esfera pessoal do empresário o que não é de todo compatível com estratégias de crescimento normalmente associadas a riscos acrescidos. Por último, o sistema fiscal dificulta várias práticas que poderiam potenciar o crescimento, como sejam o recurso a financiamento via capitais próprios, as operações de concentração e aquisições empresariais e processos de internacionalização.
Importa falar de soluções, caminhos possíveis para sairmos deste círculo vicioso do “Portugal dos Pequenitos”.
Propomos uma Agenda Mobilizadora para a Gestão assente em alguns pilares de que não podemos/devemos abdicar. São eles:
1) Capacitar empresários e gestores com competências em gestão, liderança, transformação digital, modelos de negócio e sustentabilidade: a componente de capacitação dos gestores deve ser obrigatória em cada projeto de inovação, qualificação ou internacionalização financiado e as suas despesas elegíveis;
Se somarmos à aplicação das Ciências Comportamentais, o rapidíssimo desenvolvimento da tecnologia e das aplicações da inteligência artificial, a enorme quantidade de dados disponíveis nas empresas e na internet, e o nosso sistemático comportamento de troca de privacidade por conforto no contexto da internet, temos todas as condições para uma passagem perfeita da Internet of Things (IOT) para Internet of Behavior (IOB).
2) Impor que todos os investimentos em tecnologia incluam um plano de redesenho de processos e ganhos de produtividade: tecnologia, só por si, não vai resolver os problemas da nossa economia;
3) Exigir cumprimento de métricas de sustentabilidade em todos os projetos financiados: Indexar essas métricas aos objetivos e indicadores de realização dos projetos financiados;
4) Reforçar as práticas de inovação nas pequenas e médias empresas: a inovação (medida com indicadores quantificáveis) deve ser obrigação de elegibilidade e de avaliação nos projetos financiados;
5) Incentivar práticas colaborativas, projetos conjuntos e consórcios de empresas de diferentes dimensões: A colaboração entre grandes empresas, PME e start-ups, em modelos de ecossistemas abertos de inovação, gera ganhos para todos e promove efeitos multiplicadores nos negócios conjuntos e na cadeia de fornecimentos;
6) Por último, reforçar a importância da formação dos gestores permitindo a elegibilidade de despesas de formação de executivos: Portugal tem hoje um conjunto de Business Schools de calibre mundial, reconhecidas nos principais rankings, garantindo ajustamento entre os processos e tópicos de aprendizagem em gestão com a realidade das empresas e as suas necessidades de transformação.
Coloquemos, pois, a qualidade da formação de executivos que se faz hoje no nosso país ao serviço de uma Agenda Mobilizadora para a Gestão.
Artigo originalmente publicado no Jornal de Negócios a 06.04.2022