A inovação é crucial para o progresso e o sucesso em qualquer campo, e no atual contexto de instabilidade e incerteza, o Systemic Thinking é uma nova abordagem para se conseguir compreender e extrair oportunidades da complexidade.
Conhecido em Português como pensamento sistémico, o Systemic Thinking é uma metodologia que permite entender as interconexões entre diferentes partes de um sistema, considerando as relações entre as diferentes partes, e identificando como as mudanças numa área podem afetar outras áreas. Isso é especialmente importante no mundo dos negócios, onde as empresas precisam lidar com sistemas complexos, que envolvem múltiplas partes interessadas, como clientes, fornecedores, concorrentes e reguladores. E como nota, quando falamos de sistema, estamos a falar de qualquer processo que envolva relações. Um sistema tanto pode ser formado por três pessoas, uma rede de fornecedores, ou uma linha de produtos em que cada um têm uma relação com o todo. Nós próprios vivemos em sistemas dentro de sistemas, mesmo que eles não estejam visíveis o tempo todo a olho nu.
Por exemplo, se quisermos desenvolver um novo sistema de transporte, precisamos de considerar não só os veículos, mas também as infraestruturas, o quadro legal em vigor, e os fatores sociais e económicos que influenciam as escolhas de viagem das pessoas. Ao examinar o sistema como um todo, podemos identificar oportunidades de inovar em múltiplas áreas simultaneamente, tendo como resultado um sistema de transporte mais eficaz e eficiente.
É esta lógica que permite que as empresas desenvolvam soluções inovadoras que abordam os desafios de forma integrada e holística. Imaginemos uma empresa que em vez de simplesmente tentar aumentar as vendas, pode levar a cabo uma análise profunda de todo o seu sistema de operações, e com isso identificar oportunidades para otimizar processos. Isso pode levar a melhorias significativas na eficiência e na qualidade do produto ou serviço, assim como baixar custos de operação, resultando numa vantagem competitiva.
Outros dois aspetos importantes do pensamento sistémico são a identificação de oportunidades de colaboração e a identificação de fontes de inovação. Esses aspetos são especialmente importantes para empresas que desejam manter-se competitivas num mercado em constante mudança. A partir da compreensão do contexto onde a empresa opera, é possível identificar outras partes interessadas com as quais a empresa pode colaborar para atingir objetivos em comum. Permitindo assim a criação de parcerias estratégicas que beneficiam ambas as partes e levam a resultados mais eficazes e sustentáveis. Assim como identificar novas de fontes de inovação, permitindo nomear tendências e oportunidades emergentes para se desenvolver novos produtos e serviços.
Além disso, o pensamento sistémico ajuda-nos a antecipar e gerir consequências involuntárias. A inovação envolve frequentemente a assunção de riscos e a realização de mudanças que podem ter consequências imprevistas. Ao entender como as diferentes partes do sistema se interconectam, as empresas podem identificar as possíveis consequências negativas de uma decisão e desenvolver estratégias para mitigar esses riscos. Por exemplo, ao introduzir um novo produto no portfolio da empresa, precisamos de considerar os potenciais impactos que possa ter quer ao nível de operações da empresa, quer na relação com os demais produtos ou serviços. Devemos assim estar conscientes de que as inovações podem criar novos problemas e, portanto, assegurar que as nossas soluções sejam sustentáveis e resistentes a longo prazo.
Para quem se está a familiarizar agora com o systemic thinking, existe uma pergunta que emerge frequentemente:
Qual a relação que existe com uma ferramenta já bastante conhecida, o design thinking?
O design thinking e o systemic thinking são duas abordagens distintas que são frequentemente utilizadas na resolução de problemas assim como em processos de inovação. Embora partilhem algumas semelhanças, têm focos e objetivos diferentes.
O design thinking é uma abordagem centrada no ser humano ligada à resolução de problemas que enfatiza a empatia, experimentação, e a prototipagem. É um processo criativo e iterativo que envolve a compreensão das necessidades dos utilizadores, a redefinição de problemas, a idealização de potenciais soluções, a prototipagem e teste dessas soluções, e a iteração baseada em feedback. Por fim, o design thinking é frequentemente utilizado na conceção de produtos e serviços, mas pode ser aplicado a qualquer problema que exija a resolução linear de problemas.
O systemic thinking, por outro lado, é uma abordagem que enfatiza a compreensão das inter-relações e interdependências dentro de um sistema. É uma abordagem holística que envolve a análise e compreensão dos vários componentes de um sistema, as interações entre esses componentes, e o contexto maior em que o sistema opera. É frequentemente utilizado em campos como processos de transição tecnológicas e sustentáveis, cultura e gestão de pessoas, avaliação de capacidades das organizações, e criação de novas cadeias de valor para compreender e gerir complexidade. Assim sendo, este processo centra-se na compreensão das inter-relações e interdependências dentro de um sistema, para depois identificar pontos de alavancagem onde podem ser feitas intervenções para melhorar o sistema como um todo.
Em conclusão, o programa Systemic Thinking for Innovation da Porto Business School permite-nos conhecer e compreender as ferramentas chave para mapear e gerir a complexidade dos sistemas com que trabalhamos, identificar oportunidades de melhoria, e antecipar e gerir consequências involuntárias. Permitindo aos participantes desenvolver soluções inovadoras que abordem os problemas do mundo real de forma resiliente, renovadora e holística.
Artigo de Henrique Nascimento, codiretor do Open Executive Programme Systemic Thinking fo Innovation.